Arquivo Fotográfico do Diário do Alentejo

sábado, 12 de dezembro de 2015

O ovo da serpente - onde se fala de um filme de Bergman, de uma cidade mártir e da Tunísia


1. “O ovo da serpente” é um filme de Ingmar Bergman, datado de 1977 e nele se observa a forma perturbante (e inquietante), como o nazismo se implantou na Alemanha dos anos 20, criando o monstro que só viria a ser abatido em 1945.
Relembro esse filme porque, ao longo das últimas décadas, muitos outros ovos têm dado origem a serpentes das mais variadas espécies, que vão perigosamente pondo em causa a paz, a segurança e a vida de milhões de pessoas de todo o mundo.
Em 1979, quando a União Soviética invadiu o Afeganistão (para ajudar um “governo amigo”), no que viria a ser o seu “Vietnam” (e que muitos referem como uma das causas da sua desintegração, no final de 1991), vários foram os países muçulmanos e também ocidentais (entre os quais os EUA) que apoiaram os mudjaedines, na  luta contra o governo afegão e os seus aliados soviéticos. E foi assim, no clima da Guerra Fria que então dominava o mundo, que nasceram os talibãs e o seu mais conhecido líder, o saudita Osama Bin Laden. E a Al-Qaeda, a serpente que cresceu a realizar atentados em vários países, que culminaram com o ataque às Torres Gémeas, em 11 de setembro de 2001.
A partir daí, inicia-se uma espiral de mudanças em vários países muçulmanos, como a invasão do Iraque e a queda de Saddam, em 2003 e, mais tarde, no seguimento da chamada “primavera árabe”, o fim de vários regimes, na Tunísia, no Egito e na Líbia, bem como a tentativa de derrube de Assad, na Síria, que deu origem à  guerra civil que ainda hoje persiste.
E foi precisamente com o desmembramento – político, militar e territorial – de três desses países (Iraque, Líbia e Síria) e, novamente com a “ajuda involuntária” de alguns países ocidentais a grupos armados, que germinaram vários ovos, qual deles mais perigoso, que vieram a dar origem ao autointitulado “Estado Islâmico”. Controlando vastas áreas nesses territórios, criaram uma gigantesca serpente, que espalha a morte e o terror, seja em execuções em massa, no derrube de aviões civis, ou em atentados suicidas, no Egito, em Beirute ou em Paris.

Chegados a este ponto, aqueles que, de uma forma indireta ajudaram a criar esse monstro, terão de novo de se unir para, tal como em 1945, aniquilar e destruir a serpente que põe em causa a paz e a segurança no mundo, antes que seja ela a destruir tudo à sua volta.
2.   Para além das mortes, da destruição de cidades e aldeias (e do património histórico com milhares de anos), outra das consequências do terror dos chamados jiadistas, tem sido a vaga de milhares de refugiados que fogem das suas casas e das suas terras e procuram noutros lugares (em particular na Europa) a segurança que não têm nos seus países. Contrariamente ao que aconteceu no período do terror nazi, em que só no final da guerra é que o mundo teve conhecimento do que sucedia em Auschwitz ou em Treblinka, nos dias de hoje, graças às televisões e às redes sociais, diariamente vemos as imagens dramáticas do mar Mediterrâneo ou das costas grega ou turca. E foi precisamente nesta última que o mundo teve conhecimento de um desses dramas, a morte de uma família (à exceção do pai) que fugira da Síria e do cadáver de uma das crianças, à beira-mar e recolhido por um polícia turco.   
Ora este episódio, que tanto chocou o mundo, tem por detrás uma história tenebrosa que bem podia ter sido evitada, caso não reinasse uma realpolitik , que dá que pensar. Essa família fugira de Kobani, cidade síria situada mesmo junto à fronteira da Turquia e foi chocante ver as imagens da sua destruição pelos jiadistas do EI, observados à distância por soldados turcos juntos a várias dezenas de tanques de guerra. Ou seja, um exército da NATO, de um país que se prepara para aderir à União Europeia, contribuiu (porque, se o quisesse, impediria o ataque e a destruição da cidade) para a fuga em massa dos seus aterrorizados habitantes, entre os quais os que viriam a morrer na costa turca.



Tudo isso tem uma explicação: os habitantes de Kobani eram, na sua maioria, curdos, alguns dos quase trinta milhões que constituem um povo sem estado, espalhado pela Turquia, pela Síria, pelo Irão, pelo Iraque e por outros países. Depois de, ao longo da História, terem sido gaseados por Saddam Hussein, massacrados pelos turcos, reprimidos pelos iranianos, esses curdos, cuja combatividade na luta contra os jiadistas tem sido reconhecida por todos, foram abandonados à sua sorte e, caso tivessem a ajuda que, mais tarde a aviação ocidental veio dar (quando a cidade já estava destruída), talvez ainda hoje aquela família estivesse junta, a viver feliz na cidade e não tivéssemos assistido às chocantes imagens da criança mártir.
3.   Há 19 anos, em agosto de 1996, tive a oportunidade de visitar a Tunísia. Desse país de muitos contrastes retive algumas lembranças que ainda hoje guardo, algumas das quais têm a ver com o tema deste artigo. Por exemplo, o contraste entre o litoral e a capital, Tunes, com algumas cidades do interior. Nas primeiras, um modo de vida “ocidentalizado” que se notava, nomeadamente, no vestuário e numa certa autonomia das mulheres, visível nas ruas e nas praias. No interior, a mulher tipicamente muçulmana,  que praticamente “desaparecia de circulação” ao fim da tarde. Outro aspeto que retive, foi o culto da personalidade que existia em torno do presidente Ben Ali e que se revelava no seu retrato espalhado em tudo o que era espaço público ou privado. Embora a Tunísia fosse, na altura, considerado um dos países muçulmanos em que havia uma maior abertura política, religiosa e cultural, essa omnipresença do presidente (que caíu em janeiro de 2011) era uma das imagens de marca da Tunísia.

Finalmente, outro fato que se notava era a grande população de jovens que, contrariamente ao que existia (e existe) nas nossas aldeias, povoava as aldeias tunisinas. Jovens que, para além de Ziad (futebolista que jogou quatro anos e meio no Vitória de Guimarães), tinham como único tema de conversa o seu desejo de emigrar para a Europa, sobretudo para a França, dado que não quaisquer perspetivas nas aldeias onde nasceram e viviam. Enquanto escutava esses desejos, lembrava--me das conversas “antiárabes”  que, já nessa altura, ouvia a alguns emigrantes conhecidos que trabalhavam em França e que viam nos magrebinos, além de concorrentes nos seus empregos, fonte de delinquência e de violência.
Por outro lado, nessa altura, bem ali ao lado, na vizinha Argélia, crescia o fundamentalismo islâmico que, inclusivamente chegou a ganhar eleições, anuladas posteriormente, o que originou confrontos com milhares de mortos. Não era difícil, pois, que os ecos e os efeitos do que se passava no país vizinho chegassem a esses jovens.
Este foi, talvez, um dos aspetos com que a Europa, e em particular a França, não souberam lidar e os resultados estão à vista : milhares de jovens (muitos deles já nascidos europeus), sem ocupação, vivendo em subúrbios descaraterizados, facilmente recrutados por imãs radicais, em nome de algo que nem eles muito bem sabem e dispostos a tudo, incluindo a dar a sua própria vida.
Ao mesmo tempo, assiste-se na Europa (e não apenas em França, com a FN), a um recrudescer das ideias racistas e xenófobas de uma extrema-direita que, tal como os jiadistas, tem dentro de si o germe do ovo da serpente, e que aguarda apenas o momento certo para fazer explodir a violência que a ambos carateriza.
11 de dezembro

domingo, 15 de novembro de 2015

"Projeção internacional da Cidade de Beja" (ou como "santos de casa não fazem milagres" - parte 2)

Há cerca de dois meses, num edital da CMB, vi este ponto da ordem de trabalhos da reunião de 16 de setembro, que tive oportunidade de comentar aqui :
https://www.facebook.com/josefilipe.murteira/posts/923255481083255?pnref=story
Este meu comentário vinha, de resto, na sequência desta publicação :
http://notasaesquerda.blogspot.pt/…/opcoes-discutiveis-cont… .
Há alguns dias, li a ata da reunião da CMB, que aprovou a proposta a que me referia :http://www.cm-beja.pt/…/Cam…/2015/ata_n_19_cm_2015-09-16.pdf
Para facilitar, publiquei essa proposta aqui : http://notasaesquerda.blogspot.pt/…/projecao-internacional-… .
Da leitura desse texto, que conclusões tirar? A primeira é que, contrariamente à maioria das propostas que vão às reuniões de câmara, esta foi transcrita na íntegra, o que permite, desse modo, conhecer melhor o seu conteúdo e o que se aprovou.
Em segundo lugar, destaca-se o pouco cuidado posto na sua formulação, aliado a alguns aspetos repetitivos e outros, no mínimo, contraditórios. Em terceiro lugar, a conclusão que retiro e que deixo para o final deste comentário.
Do conteúdo propriamente dito, o que se pode concluir, então?
1. Que a proposta surgiu "no decurso da reunião que teve lugar no Gabinete do Sr. Presidente sobre as perspetivas de ordem estratégica para a cidade de Beja". Questão pouco relevante esta, mas será que a Vereadora do Pelouro da Cultura esteve presente? E essas "perspetivas" eram apenas para a cidade? E porque não para o concelho? Pisões, por exemplo, localiza-se na cidade?
2. Que se pretende afirmar Beja como "cidade criativa" (na sequência da "alma criativa?), "nas áreas do audiovisual e da multimédia e da gastronomia" (temas repetidos várias vezes na proposta).
3. Que se pretende valorizar o "património material e imaterial sob o slogan 'As cidades na cidade de Beja" (slogan muito imaginativo, tal como o "Beja Acontece".
4. Que se pretende promover a gastronomia "com o objetivo da inserção social" (???) , procurando projetar no exterior os bens e produtos do território, "com o estabelecimento de ligação à América Latina (em particular com o Perú e Brasil". Com o Perú (???).
5. Que "na esfera patrimonial" se pretende a "valorização do romano, do islâmico e da presença judaica no território". Dos Visigodos, nem uma palavra.
6. Que, a empresa a contratar tem em vista a "assessoria", a "consultoria" e a "Promoção de eventos" (???)
7. Que, das atividades a promover se pretende "identificar os ativos gastronómicos que sustentam a pretensão de Beja em se tornar Cidade Criativa" (o que é isto?); criar "um contexto propício para o início do processo de incubação de empresas inovadoras na área dos audiovisuais e multimédia que potenciem o (...) cluster das Indústrias Culturais e Criativas" (???); divulgar no exterior e estruturar em Beja atividades relacionadas com a "época islâmica e a presença judaica na cidade" (e a Pax Julia romana?).
8. Que a "equipa técnica do prestador de serviços" vai transferir know how "para os técnicos do município e para outros parceiros envolvidos" (???)
9. Que, para concretização desta proposta, se contratou (por ajuste direto e por um ano) a empresa Laranjo Medeiros, Unipessoal, pela quantia de 17500 euros. (esta empresa tem sede na Rua do Alecrim, na Nazaré e as suas áreas de intervenção são o "Arrendamento de bens imobiliários" e o "Alojamento mobilado para turistas").
10. Que as despesas de deslocação (ao Perú? ao Brasil?), "são consideradas à parte".
11. Que os serviços para elaboração de candidaturas a fundos comunitários "serão orçamentados autonomamente"
Para além da grande confusão programática que reina nesta proposta, a principal ilação que se pode tirar é da que, mais uma vez a autarquia recorre a empresas externas para realizar o que os seus técnicos e serviços ( em parceria com os agentes, as associações e as entidades locais) podiam fazer : a "organização e lançamento de dinâmicas socioculturais com vista à projeção internacional da Cidade de Beja" (o título da proposta) e a elaboração de candidaturas aos programas de apoio comunitário citados - INTERREG, SUDOE e MED.
Opções, no mínimo discutíveis e que vão onerar desnecessariamente o orçamento municipal, em detrimento de iniciativas bem necessárias (como uma programação com mais qualidade no Pax Julia, por exemplo).

"Projeção internacional da Cidade de Beja" (ou como "santos de casa não fazem milagres" - parte 2)

Havia 
Havia mesmo necessidade?

Excerto da Ata da Reunião da Câmara Municipal de Beja, realizada no dia 16 de setembro de 2015. :

"A empresa Laranjo Medeiros, no decurso da reunião que teve lugar no Gabinete do Sr. Presidente sobre as perspetivas de ordem estratégica para a cidade de Beja, apresentou conteúdos técnicos relativamente à definição de áreas de promoção e metodologias de abordagem inerentes ao desenvolvimento social, cultural e económico visando:
A afirmação de Beja como cidade criativa nas áreas do audiovisual e da multimédia e gastronomia;
O lançamento do conceito e-notoriedade e incremento dos respetivos impactes na cidade e eventos;
 A produção e implementação de uma programação cultural associada às áreas de intervenção para promoção de Beja na perspetiva da criatividade e inovação;
A valorização do património material e imaterial sob o slogan “ as cidades na cidade de Beja”
Em termos da projeção internacional da cidade de Beja, sustentada pelas dinâmicas de desenvolvimento das áreas apresentadas, destacam-se as seguintes perspetivas essenciais de natureza operacional:
Promoção da gastronomia da região com o objetivo da inserção social, na ótica da valorização patrimonial e projeção no exterior dos bens e produtos do território, através de escalas de promoção, nomeadamente internacional, com o estabelecimento da ligação à América Latina (em particular com o Perú e Brasil); reforço e valorização da dimensão tradicional, com a compilação e divulgação das receitas caseiras da região do Baixo Alentejo, como herança de um legado estruturado a partir da participação da terceira idade; orientação na senda do mediterrâneo, com o envolvimento, para divulgação, de chefes de cozinha desta região;
Audiovisuais e multimédia, com o sentido de dar expressão às perspetivas das indústrias culturais e criativas, mas também criar dinâmicas autónomas de projeção desta área de intervenção, nomeadamente com ênfase no cinema mediterrâneo, com o aproveitamento do INTERREG entre Beja e outras cidades europeias, quer ao nível do cinema, quer ao nível da música;
Na esfera patrimonial e em conjugação complementar com as perspetivas operacionais atrás identificadas, é referenciada a valorização do romano, do islâmico e da presença judaica no território, sob o slogan “as cidades na cidade de Beja”, destacando-se o património de raiz material e imaterial associado às épocas romana, islâmica, judia e cristã, explorando áreas de interesse antropológica, histórica e cultural, em articulação com os legados deixados por estes povos, reforçando a interculturalidade na identidade local, com potencialidade de projeção no exterior.

A natureza da prestação de serviços insere-se em valências técnicas indisponíveis no âmbito da estrutura funcional do Município, respetivamente nos seguintes domínios de intervenção:
Tutoria de base ao lançamento de intervenções e de iniciativas e apoio à animação de dinâmicas sociais e culturais com projeção na base económica da cidade de Beja, contribuindo para o reforço do empreendedorismo criativa;
Assessoria no desenvolvimento do sistema de base relacional com o exterior, particularmente no reconhecimento e afirmação de Beja como centro de inovação e criatividade no domínio cultural;
Consultoria na promoção da fixação de empresas e atividades ligadas a Audiovisuais e Multimédia, bem como outras expressões culturais em Beja, com possível apoio no âmbito da incubação de empresas inovadoras;
Promoção de eventos, nacionais e internacionais, com enfoque nos audiovisuais e multimédia e nos gastronómicos;
Em termos de período para a prestação de serviços, propõe-se um ano a partir do momento da celebração do contrato de prestação de serviços.

Para a realização da proposta devem promover-se as seguintes atividades:
Identificação dos ativos gastronómicos que sustentam a pretensão de Beja em se tornar Cidade Criativa;
Criação de um contexto propício para o início do processo de incubação de empresas inovadoras na área dos audiovisuais e multimédia, que potenciem o conhecimento especializado e a criatividade do cluster das Indústrias Culturais e Criativas;
Elaboração de um Calendário Cultural e de Eventos que vise agregar novos conteúdos com a atual oferta, independentemente da natureza da entidade promotora ser pública ou privada;
Criação de uma forte identidade através da multimédia e audiovisuais, capaz de divulgar, sensibilizar e comunicar eficazmente a Cidade de Beja, enquanto cidade criativa com uma clara aposta na Música e na Literatura popular e oral;
Preparação para divulgação no exterior e estruturação de atividades em Beja relacionadas com o património material e imaterial da época islâmica e da presença judaica na cidade.

A metodologia a adotar deve privilegiar a transferência de Know How da equipa técnica do prestador de serviços para os técnicos do Município e para outros parceiros envolvidos no processo de implementação das intervenções previstas concretizar. Neste sentido, é importante a afetação na coordenação dos trabalhos técnicos e metodológicos do Sr. Prof. Carlos Medeiros, de forma a mais facilmente se obter um enquadramento de projeto favorável à transferência de metodologias e conhecimentos, bem como tornar mais acessível e concretizável o estabelecimento das parcerias internacionais necessárias para se alcançar os objetivos identificados.
Assim, propõe-se a abertura de procedimento por Ajuste Direto à empresa Laranjo Medeiros, Unipessoal, Lda., ao abrigo da alínea e) do nº.1 do artº.24 do Dec. Lei nº.18/2008 de 29 de Janeiro.
Propõe-se ainda a aprovação da cabimentação do correspondente encargo: 17.500 € (dezassete mil e quinhentos euros).
As despesas de deslocações e estadias no estrangeiro indispensáveis para a elaboração do projeto são consideradas à parte.
Os serviços de apoio à participação em projetos internacionais, nomeadamente INTERREG, SUDOE e MED que forem elaborados e submetidos no contexto deste projeto serão orçamentados autonomamente."


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Uma oportunidade perdida : a homenagem que ficou por fazer e o debate que não teve lugar.

Nota prévia : a minha participação nestas jornadas (para além de proponente) estava ligada à condição de representante da Assembleia Municipal no Conselho Municipal da Cultura ( que, ao que sei, ainda não reuniu no presente mandato), para o qual tinha sido eleito nesse órgão autárquico.

Os mails enviados ao Executivo Municipal :

José Filipe Murteira [j.filipemurteira@gmail.com]    Enviada : qui 09-01-2014 18:59
                                                                                                     ter 04-03-2014 12:47

Junto envio uma proposta (sujeita a todas as alterações e contributos que surgirem), para uma iniciativa destinada a comemorar os 50 anos da morte de Abel Viana.
Nascido na freguesia de Santa Maria, concelho de Viana do Castelo, em 16 de Fevereiro  de 1896, foi nomeado Adjunto do Director Escolar do Distrito de Beja em 1939 e aqui viveu os últimos 25 anos da sua vida. Faleceu na sua casa, na Rua do Esquível, nº 28, no dia 17 de Fevereiro de 1964, tendo sido sepultado, por sua vontade, na cidade que o acolheu.
Foi Director do Museu Regional Rainha D.Leonor e fundador da revista Arquivo de Beja, para além de um brilhante arqueólogo e estudioso, que nos deixou uma vasta e importante obra.
Por tudo isso, julgo que seria uma iniciativa merecida, que honraria a cidade e o concelho, bem como, naturalmente as entidades promotoras, nomeadamente a Câmara Municipal.
Estou disponível para discutir, aprofundar e enriquecer esta proposta que, pelo trabalho que a sua organização exige, julgo que deverá realizar-se em Outubro ou Novembro, integrando-se na programação cultural do Município.

A proposta :


Jornadas de Arqueologia e Património

Data : 6ª feira, Sábado e Domingo / Outubro ou Novembro de 2014

Comissão de Honra : Presidente da CM Beja
                                   Vereadora da Cultura da CM Beja
                                   Directora Regional da Cultura do Alentejo
                                   Presidente da Assembleia Distrital de Beja
                                   Bispo de Beja
                                   Presidente do IPB
                                   Presidente da EDIA
                                   Cláudio Torres
                                   António Borges Coelho
                                   Presidente CM Viana do Castelo

Comissão Científica : Maria Conceição Lopes (Arqueologias das Cidades de Beja)
                                    Miguel Serra (Projecto Outeiro do Circo)
                                    José Carlos Oliveira (Museu Regional de Beja)
                                    José António Falcão (Departamento do Património da Diocese)
                                    Florival Baioa Monteiro (Associação de Defesa do Património)
                                    Rui Aldegalega (CM Beja – Com. Organizadora)
                                    José Filipe Murteira (AM Beja – Com. Organizadora)
                                    Susana Correia (Dir. Reg. da Cultura – Com. Organizadora)
                                    Leonel Borrela (Museu Reg. Beja – Com. Organizadora)
                                     
Comissão Organizadora : Rui Aldegalega
                                          José Filipe Murteira
                                          Susana Correia
                                          Leonel Borrela

Objectivos : Homenagear a figura de Abel Viana
                     Divulgar a obra de Abel Viana
                     Promover o conhecimento da História e do Património de Beja e da região
                     Apresentar os mais recentes trabalhos na Arqueologia local e regional
                     Debater as questões mais pertinentes em torno da Arqueologia e do Património

Programa : Sexta-feira e Sábado de manhã – apresentação de Comunicações –
Arqueologias da Cidade de Beja, Outeiro do Circo, Escavações da EDIA, Vida e obra de Abel Viana, A villa romana de  Pisões, A revista Arquivo de Beja, O património religioso do Baixo Alentejo, A obra de Abel Viana em Viana do Castelo.

Sábado de tarde e domingo de manhã : visitas guiadas às escavações da Rua da Moeda, ao Outeiro do Circo, a Pisões, ao Museu Regional/Núcleo Visigótico, ao Núcleo da Rua do Sembrano, à Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres.

Sábado à noite : espectáculo musical/recital de poesia

                   
Durante 15 dias/um mês :
exposição biobibliográfica sobre Abel Viana
exposição sobre a revista Arquivo de Beja
exposições sobre o Outeiro do Circo e sobre As Arqueologias das Cidades  de Beja

Durante a semana das Jornadas : colóquios nas escolas secundárias, no IPB, Universidade Sénior

Edição de uma publicação para as escolas e para o público em geral, sobre a vida e obra e Abel Viana, e sobre a Arqueologia e o Património do Concelho de Beja

Publicação de um número especial da revista Arquivo de Beja dedicada a Abel Viana, incluindo as comunicações das Jornadas


Organização: CMB, Assembleia Distrital de Beja/Museu Regional de Beja

Parcerias : Direção Regional da Cultura do Alentejo
                  EDIA
                  IPB

Financiamento : Orçamento Municipal, apoios das entidades parceiras e de outras empresas / instituições, eventual financiamento por fundos comunitários





domingo, 18 de outubro de 2015

Um sinal de esperança

Agora que a “poeira” eleitoral assenta e que se vai dar início a um novo ciclo político, com um novo Parlamento e um novo Governo, seria bom que os três deputados eleitos por Beja se unissem e, deixando para trás naturais divergências, elaborassem um documento, curto mas incisivo, que se concretizasse num projeto de resolução ou numa recomendação, com dois objetivos “mínimos”: a eletrificação da linha Beja/Casa Branca e a retoma das obras da A26, entre Beja e Santa Margarida do Sado. São, de facto, mínimos, estes objetivos, porque, na realidade, muito mais há a fazer: prolongar a A26 até Sines, concluir o IC27, entre Beja e Alcoutim, retomar a ligação ferroviária Beja/Algarve, etc.
Mas, a curto prazo, e para que não se argumente que não há dinheiro para tudo isto, ao menos que se concretizem essas duas obras, no momento em que se retomaram as do IP2 e que, cumprindo decisão judicial, o Estado foi obrigado a sinalizar e vedar as obras interrompidas da A26 e que punham em causa a segurança dos cidadãos, sinal de que, afinal, até se encontraram as verbas necessárias.
Quando, em 26 de julho de 2011, pouco depois das eleições, um grupo de militantes do movimento de cidadãos “Beja Merece” se deslocou à Assembleia da República, como já o fizera uns meses antes, ouviu, da boca de dois deputados da nova maioria (Hélder Amaral e Luís Menezes), uma frase que não prenunciava nada de bom: “Não há dinheiro para obras”. Três dias depois, Sérgio Monteiro, o novo secretário de Estado dos Transportes, embora reafirmando essa opinião, ainda avançou com a promessa de realização de um estudo sobre a viabilidade da eletrificação da linha e a melhoria da ligação ferroviária a Lisboa (na altura, o objetivo dessas reuniões). Nem mesmo a petição assinada por mais de 17 mil cidadãos alterou a situação, sendo reprovados os três projetos de resolução votados pelos deputados em setembro desse ano.
E, desde então, até agora, se a nível das ligações rodoviárias algo foi feito, quatro anos depois estamos na mesma (ou pior) nas ligações ferroviárias. Daí a premência do documento referido no início, ainda por cima quando uma das mais importantes obras da A10 até vai ser terminada. Refiro-me aos 10 quilómetros que vão ser construídos a partir da A2, aproveitando a nova ponte sobre o rio Sado, como alternativa à travessia da velhinha ponte de Santa Margarida e desta localidade. Ou seja, se a ligação entre Beja e a A2 era de 50 quilómetros, ela diminui para 40, num território onde as pouco significativas obras de arte (pontes e viadutos) estão semiconstruídas e não há grandes obstáculos naturais que tornem essa obra demasiado cara.
Por outro lado, os bejenses não desistiram (ainda) de utilizar o comboio e, se efetivamente houver vontade política, certamente que não será essa obra que irá onerar excessivamente os cofres do Estado (lembremo-nos, por exemplo, de certas obras anunciadas em outras regiões do País, que irão custar muitos, muitos, milhões mais).
Quer uma, quer outra destas duas “pequenas” obras têm, ainda, uma outra mais-valia, a ligação do aeroporto a outras regiões do País em melhores, mais rápidas e confortáveis condições, fator decisivo para o aproveitamento dessa infraestrutura que tão esquecida tem sido.
Por isso, aqui fica o repto a Pedro do Carmo, João Ramos e Nilza de Sena: sentem-se à mesa e elaborem esse documento, que traga um sinal de esperança para todos os que aqui vivem, provando que, mais do que as naturais diferenças político-partidárias que os separam, deve uni-los a defesa dos interesses dos cidadãos que os elegeram e que vão representar no Parlamento. Beja (a cidade e a região) merece.

9 de outubro













  


  


E, um dia, o depósito vem abaixo. Contributo para a discussão pública deste assunto.

Deixemos de lado o acessório (os títulos: "Beja como ela sempre foi", na linha do "Há séculos que já devia estar feito [o IP8]" e concentremo-nos no essencial. 
Recebi na RuralBeja o folheto cuja capa reproduzo, onde o presidente da câmara escreve que "...é imperioso avançar com as obras (...) designadamente a demolição do depósito de água, que existe no local, construído sobre as estruturas do templo do fórum romano." Esta afirmação é complementada pelos depoimentos escritos de um conjunto de especialistas (quase todos "politicamente insuspeitos") nas áreas da História, do Património, da Arqueologia e do Turismo, praticamente unânimes na defesa dessa demolição, de modo a permitir o desenvolvimento dos trabalhos arqueológicos que decorrem nesse local, nomeadamente no templo mais pequeno (segundo Conceição Lopes, da época da fundação da cidade, "no início do último quartel do século I a.C.").
Não estando em causa esta decisão, cientificamente justificada e politicamente legítima, há, no entanto algumas questões que estão em aberto e que os cidadãos que participaram do debate público promovido pelo blogue Alvitrando, no dia 11 de fevereiro deste ano (cujo cartaz se reproduz - e no qual primaram pela ausência os elementos do executivo municipal em regime permanência) gostariam de ver esclarecidas:
- esse depósito é ou não necessário ao abastecimento de água à cidade?
- quanto vai custar a sua demolição?
- qual o método que vai ser utilizado para realizar essa demolição?
- como vão ser escoadas as toneladas de entulho resultantes da demolição?
- que garantias existem que comprovem a existência das estruturas do templo que se encontram por baixo do depósito ( segundo informação da arqueóloga responsável pelos trabalhos, o templo estará a 8 metros de profundidade, dos quais 6 constituem a base do reservatório)?
- há financiamento para a execução de um projecto global (ambicioso e caro, certamente), e foi devidamente equacionada a relação custo-benefícios, estes em termos patrimoniais, culturais e turísticos?
- foi estudada pelo actual executivo municipal uma eventual recuperação do depósito (sem ter necessariamente que aceitar a proposta elaborada pelo anterior) enquadrando-o de forma harmoniosa no amplo espaço, que vai desde o logradouro do Conservatório à Rua da Moeda, e que corresponde a uma parte do Fórum romano?
Pessoalmente, tal como afirmei no citado debate público, não tenho uma posição completamente formada (tal como o Florival Baiôa, no texto incluído no folheto editado pela CMB, o único dos depoentes que coloca as duas hipóteses): não me choca que o depósito venha abaixo, se se confirmar a possibilidade de colocar à mostra as estruturas do templo sobre o qual assenta, contribuindo para a valorização do nosso património histórico-cultural, mas gostaria que as questões acima colocadas (e outras) pudessem ser respondidas de forma clara, para que não se cometam erros de forma irreversível (e que, ainda por cima, não serão baratos).

 

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

A água do nosso descontentamento.

O Plano de Rega do Alentejo data dos anos 50 do século passado (concluído em 1957, começou a aplicar-se no início da década de 60) , ainda em pleno Estado Novo e nele se contemplava a construção de um conjunto de barragens (23 “grandes” e 73 “pequenas”) que, no total iriam irrigar cerca de 170 mil hectares, para além das outras vertentes previstas (produção de energia e abastecimento público às populações). 
Entre as primeiras barragens construídas contam-se as do Divor, Odivelas, Santa Clara e Roxo. Esta última, inaugurada em 1968, viria a ser oficialmente batizada com o nome de Arantes e Oliveira,o Ministro das Obras Públicas que concebeu e iniciou o plano de rega. Em 1970 a sua gestão passa para Associação de Beneficiários do Roxo (ABROXO), que coordena até hoje os cerca de cinco mil hectares irrigados, dos quais 80% no concelho de Aljustrel e os restantes em Ferreira do Alentejo e Santiago do Cacém.
Só em 1985 é que se inicia o abastecimento público aos concelhos de Aljustrel e Beja, após a construção das respetivas condutas, não só para reforçar as necessidades de consumo das sedes de concelho, mas também as que se criaram nas muitas localidades que só após o 25 de abril viram chegar a tão desejada água às suas habitações.
Mas a história da Barragem do Roxo nem sempre foi um mar de rosas. Logo após a sua inauguração, entre 1974 e 1982 sofreu obras de reparação, devido a problemas estruturais encontrados, o que levou a que, durante doze anos (entre 72 e 83), se atingisse a chamada “capacidade morta” (abaixo de 6,8 milhões de metros cúbicos). Só para se ter uma ideia, a capacidade máxima desta barragem é de 96,3 milhões, sendo o seu “volume estratégico” de 70 milhões. Em 1995 viria novamente a atingir a “linha vermelha”, situação reposta nos três anos seguintes, tendo mesmo ultrapassado o limite em 1997, situação que, entre “altos e baixos”, aconteceria de novo em 2011 (além destes dois anos, também em 1969 e 1990 isso tinha acontecido). Estas situações levam a que, como aconteceu em abril de 2013, tenham de ser efectuadas descargas, aqui documentadas nas fotos de José Ferrolho, no Diário do Alentejo.
         

Entretanto, em  fevereiro de 2002, após indecisões, avanços e recuos, são finalmente fechadas as comportas da Barragem do Alqueva, dando-se início ao seu enchimento, com o qual se poderia finalmente concluir o plano elaborado quase cinquenta anos antes, através da ligação do “grande lago” às restantes barragens, o que tem vindo a acontecer.
Assim, em 7 de julho de 2010, era inaugurado pelo então primeiro-ministro José Sócrates o adutor Pisão-Roxo, concluindo a ligação de 83 quilómetros desde Alqueva até esta barragem, o que foi considerado pelo governante um “momento histórico”, dado que finalizava o projeto, na sua “componente de abastecimento público de água”.
De fato, o Roxo e quatro outras barragens permitem abastecer 280 mil habitantes de treze concelhos alentejanos. Nessa cerimónia, documentada em reportagens televisivas e  radiofónicas , foi ainda inaugurada uma mini-hídrica, que custou cerca de três milhões de euros, destinada à produção de energia ( e que ainda não funcionou, como se pode ler aqui .)
Chegamos, então a agosto de 2015 e eis o paradoxo que, contado, mais parece uma daquelas histórias de Kafka: a Barragem do Roxo está a 39% da sua capacidade máxima (em 2012 estava a 75%), a água cheira a terra e a mofo como há muito não acontecia, o que tem levado a justas reclamações das populações e às pouco esclarecedoras explicações iniciais das entidades responsáveis (no caso de Beja, a EMAS e a Câmara Municipal). No passado dia 5, finalmente, a principal autoridade no assunto (dado que capta, trata e transporta a água), a empresa Águas Públicas do Alentejo (AgdA), emitiu um comunicado em que, além de garantir que a água “pode ser utilizada em segurança”, esclarece que “devido à época estival e ao abaixamento dos níveis de reserva de água, das quais resultam a produção de compostos orgânicos - a geosmina e o 2—metilisoborneol – que são responsáveis pelo cheiro a terra e a mofo na água para consumo humano.” É claro que estas palavras não sossegaram nem calaram os consumidores, já de si sempre reticentes ao uso da água, nomeadamente para beber.
Alguns dias depois, o Presidente da Direção da ABROXO, em declarações a uma rádio local, “reconhece o baixo nível de armazenamento de água”, situação que pode ser colmatada “podendo a todo o tempo a associação de regantes pedir o fornecimento de água à EDIA, pagando a respectiva factura”. Só que, na opinião desse responsável, há dois problemas que se colocam: o primeiro é “o preço de água cobrado aos agricultores, podendo este aumento inviabilizar algumas culturas”; o segundo é o fato de a AgdA não ter pago até ao momento qualquer verba pela captação da água na barragem, situação que até está nos tribunais. Finalmente, “admite fazer todo o sentido um fornecimento  que permitisse aumentar o volume de água armazenado na albufeira, frisando que ainda não houve qualquer contacto nesses sentido por parte da Águas Públicas do Alentejo.
Ou seja, estamos mesmo perante uma situação “kafkiana”, que nos leva a pensar em que país vivemos, dado as coisas tão simples que escapam à nossa compreensão: a água que usamos cheira e sabe mal; pagamo-la (e bem) à EMAS que, em princípio, a pagará à AgdA; todavia, esta não a paga à “dona”, a ABROXO; há um canal de 83 quilómetros, cuja torneira só se abriu há cinco anos, para os governantes e televisões e desde então permanece fechada; a abertura dessa torneira permitiria que os 39% de capacidade da barragem passassem para os 70% (no mínimo) o que, eventualmente, poderia acabar com este tormento para os habitantes dos concelhos de Beja e Aljustrel.
Aliás, basta comparar duas fotos, para se concluir como é diferente a barragem com menos e com mais água :


 Parece fácil, não é? Então, porque não se sentam à mesa a EDIA, a AgdA, a ABROXO e resolvem de uma vez este assunto? É que, não será demais lembrá-lo, a Alqueva, o Roxo, demais barragens, canais, estações elevatórias, entre outros, custaram muitos milhões, pagos com fundos públicos, nacionais e comunitários e, sendo o abastecimento de água às populações um dos principais objetivos, ninguém compreende que, uma vez concluído o sistema, o mesmo não funcione e essas mesmas populações estejam a sofrer as consequências, por incúria ou incompetência. Sem querer fazer a apologia do regime que o ministro servia (antes pelo contrário), talvez valesse a pena que as pessoas responsáveis por esta situação lessem o excerto do discurso atrás reproduzido de Arantes e Oliveira, em 3 de dezembro de 1962, dando o exemplo da Barragem da Graça do Divor (cujas obras estavam em concurso), “cuja construção é antecipada em benefício do reforço do abastecimento de água à cidade de Évora e das exigências da sua expansão industrial”. Isto foi dito há quase 53 anos.
Uma nota final, positiva e construtiva. A dez quilómetros de Beja, na estrada para Aljustrel, há uma pequena barragem, junto ao monte da Chaminé do Passarinho e que há alguns meses estava numa situação parecida (ou ainda pior) que o Roxo. Essa barragem alimenta o regadio da herdade, que tem permitido irrigar, além das culturas tradicionais, como o girassol, outras inovadoras na região, como o milho (o ano passado) e a papoila branca (este ano). Devido ao uso da água da barragem no regadio, esta baixou drasticamente o seu nível, situação lamentável, que observávamos quando passávamos na estrada e víamos as suas margens secas e sem vida. Pois bem, neste momento, a barragem não parece a mesma, encheu (deve estar no limite máximo), e a beleza das suas águas voltou a dar-lhe a vida que tinha, com o verde a despontar de novo nas margens:

E porque aconteceu isso, se não choveu e se as águas da ribeira que a abastecem não fazem milagres? Certamente porque, ao contrário do Roxo, a torneira foi aberta e essa barragem já recebeu a tão necessária água da distante Alqueva, mostrando que, com boa vontade, isso é possível e desejável (e claro, com o seu proprietário a pagar à EDIA a água adquirida).
Toda esta história lembra uma lendária frase que, com uma pequena alteração, bem poderia hoje ser escrita no paredão do Roxo : Abasteçam-me, porra!

Nota : este texto foi escrito no passado domingo, dia 16, mas não tive oportunidade de o publicar até hoje, daí que algumas questões abordadas tenham, entretanto, sido focadas, quer em comunicados das entidades envolvidas, quer na comunicação social. E, embora a situação não tenha sido alterada, houve algumas evoluções positivas que convém citar (ainda que o "Grupo de Acompanhamento" diga que "... não foi considerado eficaz, no presente contexto, efetuar um reforço dos níveis de armazenamento a partir do sistema do Alqueva." :
- o comunicado conjunto das câmaras de Beja e Aljustrel;
- o  comunicado do  Grupo de Acompanhamento da Qualidade da Água do Sistema do Roxo
- o artigo do jornal Público.
- a reportagem da TVI.

Esperemos que, após estas longas semanas de martírio, seja encontrada uma solução que faça regressar a água que corre nas nossas torneiras à normalidade que se exige e que os consumidores merecem.

domingo, 5 de julho de 2015

Opções discutíveis : contratar fora o que se pode fazer (e sempre se fez) com gente e meios da casa.

Primeira nota : contrariamente ao que aconteceu há alguns anos (apenas no anterior mandato autárquico), este ano o Pax Julia não tem programação nos meses de verão. É uma opção correcta, seguida em 99,9% dos teatros, nacionais ou municipais, públicos ou privados. A temporada regular de um teatro deverá ser de nove e meio/dez meses, já que  calor convida à rua e não será fácil levar as pessoas para espaços fechados, por melhor que seja o sistema de ar condicionado. 

Segunda nota : pelo motivo apontado anteriormente, cada vez mais se assiste a uma programação de rua, que se estende de norte a sul do país, com a música, o teatro, a dança, o cinema. Autarquias, associações, companhias, renderam-se definitivamente a essa evidência (incluindo o "nosso" teatro de ópera, o São Carlos, com o seu Festival ao Largo, que cumpre este ano a sua sétima edição).


Terceira nota : Beja deve ter sido dos primeiros municípios do país com esta programação de verão, através da ANIBEJA, que se iniciou nos anos 80 e se estendeu ao longo de mais de duas décadas (1). Com uns anos de interrupção, em que o Município optou por uma programação centrada no Jardim Público, quando quis revitalizar esse espaço (Noites no Jardim e Cine Jardim), a Anibeja foi, entretanto substituída, já no actual mandato autárquico, pelas Noites ao Fresco / Beja Acontece.

Quarta nota : ao longo dos anos, esta programação, que tinha apenas lugar na cidade foi-se estendendo a outros lugares, aldeias e vila do concelho, através da parceria da Câmara Municipal com as várias freguesias rurais.
          

Quinta nota : a programação, produção e realização das várias iniciativas da Anibeja/Noites no Jardim, sempre foi da responsabilidade dos trabalhadores do Sector da Cultura da Câmara Municipal, tal como as restantes actividades dessa área, que decorriam ao longo do ano.

Sexta nota : com a reabertura do Pax Julia, em 2005, que incluiu, naturalmente, a contratação de alguns trabalhadores para esse sector da autarquia, nomeadamente para a área técnica, foi constituída uma equipa polivalente que, embora estivesse mais ligada ao teatro, assegurava todo um conjunto de actividades, quer inseridas nesse sector - 25 de Abril, Festas da Cidade (no feriado municipal), Anibeja, passagem de ano, etc - quer da responsabilidade de outros serviços da autarquia - Biblioteca, Casa da Cultura, Centro do Lidador, entre outros - onde se destaca, por exemplo, o admirável trabalho realizado nas Palavras Andarilhas.

Sétima nota : o que se disse na nota anterior só era possível pela existência de uma equipa formada por trabalhadores (de todas as áreas) competentes, excelentes profissionais, dedicados, motivados, com autonomia e responsabilização nas tarefas de que eram incumbidos. Isto mesmo sempre foi reconhecido por todos quantos com eles trabalhavam - artistas, técnicos, produtores, agentes e, principalmente, pelo próprio público que assistia às várias iniciativas.
Oitava nota : assim, quando o Pax Julia encerrava as suas portas, normalmente em meados de Julho, esses trabalhadores asseguravam, com o mesmo empenhamento e profissionalismo, a programação dos meses de verão (que passou a contar, igualmente, com um vasto conjunto de recursos técnicos, proveniente do teatro). Isto sem deixarem, claro, de gozar as merecidas férias a que tinham direito (organizadas, claro, em função das necessidades).
Para relembrar, deixo aqui o "plágio" de uma página do blogue Aldeagar, com o programa da ANIBEJA de 2009 .
Cinema no Largo das Alcaçarias
dia 28 de julho de 2009

Nona nota : por tudo o que atrás foi escrito, é pois, com surpresa, que se assiste, pelo segundo ano consecutivo, à contratação de empresas externas para a realização da programação de verão, deixando de lado os recursos humanos e os meios técnicos que a autarquia dispõe e que tão bons resultados deram, ao longo dos anos. Será por desconhecimento dos actuais autarcas?
Décima nota : pelo que foi agora conhecido, na Agenda de Julho, o programa Beja Acontece inclui oito espectáculos na cidade, à noite, e mais três, ao sábado de manhã, na Portas de Mértola. A questão que se coloca é: não seria esse programa possível realizar com os meios próprios, ao invés de se contratar uma empresa (seja ela qual fôr)?  Isto aplica-se a Julho, como certamente aos outros meses.
Décima primeira nota : não se conhece o programa completo e o orçamento do Beja Acontece, mas as Noites ao Fresco já se sabe quanto custam, 41 mil euros mais iva (aprovado na última reunião de câmara). E, neste caso, a questão que se coloca tem a ver com os valores em causa. Embora se fale de 43 artistas/grupos e 13 projeções de cinema (o filme Alentejo Alentejo), trata-se de espectáculos com cachets certamente não muito elevados, pelo que é legítimo questionar o elevado custo deste evento. Além de que, como sempre aconteceu, as juntas de freguesia serem responsáveis por assegurar as refeições e outros aspectos logísticos. Por isso, mais uma vez se questiona se, em tempos de contenção, não seria mais razoável ser a própria Câmara Municipal a assegurar a realização desses eventos, em parceria, claro, com as juntas.
Décima segunda nota : para concluir, sublinhe-se uma aparente contradição nas opções que o actual executivo municipal toma. Para realizar obras de grande vulto, como a reparação de ruas, caminhos e estradas, que exigem avultados investimentos (como o que a EMAS realizou há pouco tempo), recursos humanos e outros meios técnicos e logísticos que a autarquia não tem neste momento, recorre-se à administração directa (ao contrário do que a grande maioria dos municípios faz), com os inevitáveis riscos que estão para vir; para a realização de uma programação de animação dos espaços públicos do concelho, muito menos exigente que o anterior, mesmo dispondo dos meios técnicos e humanos necessários, recorre-se à contratação externa, aumentando assim os custos da iniciativa. Ou seja, opções que, sendo legítimas, não deixam de ser discutíveis e questionáveis por parte dos cidadãos (como deve ser em democracia).

1) Para que não haja interpretações incorrectas, esclareço que, quando comecei a trabalhar no município, em 1996, já existia o Anibeja. Não quero, por isso, assumir a paternidade de algo que não me pertence.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Cultura e entretenimento, um debate necessário.

No dia 4 de outubro do ano passado, a rubrica semanal de José Tolentino Mendonça na Revista do jornal Expresso, intitulava-se “ A Cultura não é um luxo”.  Para o autor, “… é uma necessidade básica…” já que, “… o homem não vive só de pão: precisaremos sempre de alimentos de outra natureza”. Avança, ainda, com outra afirmação : “Um dos perigos contemporâneos é a transformação da cultura em indústria de entretenimento, recheada de produtos de consumo rápido e sonâmbulo, capturada pelo simplismo dos modelos”.
Poucos meses antes (26 de julho), este mesmo tema tinha sido objeto de uma entrevista a Mario Vargas Llosa (MVL) no jornal Público, retomando um tema abordado pelo escritor peruano no livro “A Civilização do Espectáculo” (Quetzal Editores, 2012). Nessa entrevista, onde se fala da sociedade atual e de política, aborda-se também a cultura, em geral e, como não podia deixar de ser, a literatura, em particular.
Para MVL, “… a literatura hoje em dia vive uma crise muito profunda, converteu-se sobretudo em entretenimento, perdeu a sua pugnacidade, a sua beligerância crítica, e busca sobretudo entreter. E o entretenimento também é uma espécie de adormecimento, uma maneira de desmobilizar criticamente os cidadãos.” Transpondo esta ideia para um campo mais lato, MVL, afirma que “… o desaparecimento desse espírito crítico vem com a frivolização de uma cultura que só procura entreter e divertir, e que se converteu muito mais num espetáculo do que o que tradicionalmente era : pensamento, ideias, uma visão crítica da realidade, da vida e de todas as manifestações das relações humanas.” MVL vai ainda mais longe, ao afirmar que o “inimigo maior” da democracia é “… o desaparecimento da cultura enquanto questionamento constante da realidade.”
Ainda que não se debruçando especificamente sobre este tema, um artigo de António Pinto Ribeiro (APR) publicado um mês antes (13 de junho), também no Público, com o título “Alienação, uma palavra esquecida”, aborda “a lógica da quantificação do mundo”, aplicada às manifestações culturais, que “…faz parte de ideologia que vê nos cidadãos apenas consumidores… “ e cuja “… lógica é a do consumo do entretenimento…”
Para APR, os “recordes de bilheteira” que se procuram (e se apregoam), contagiam “… o quotidiano da experiência estética, da fruição ou da criação artística com a terminologia própria das superfícies comerciais…” podendo também, transformar-se em “números políticos”, ao “… possuir um ‘capital’ político que faz com que se mantenha um gestor, um programa, uma organização dependente da administração pública, por exemplo.”
Três interessantes reflexões, que podemos transpor para a realidade do nosso país. Desde logo, um verdadeiro “massacre” televisivo, com programas diários, em dose dupla ao fim de semana, que se repetem e replicam, com os mesmos artistas e grupos, os mesmos concursos que apelam às chamadas de valor acrescentado, os mesmos apresentadores/animadores que, não poucas vezes procuram ter graça, para serem “engraçadinhos”. É, de facto, uma “guerra”, com armas muito poderosas, que transforma entretenimento em mau gosto e vice-versa e que contamina toda a nossa sociedade, com o tal “adormecimento”, a que MVL se refere.
Domingo à tarde, algures por aí

Depois, ao nível dos poderes públicos, assistimos, a pretexto do “combate à crise”, à desvalorização da Cultura, não só pela extinção do ministério da pasta, substituído por uma secretaria de estado (recuando cerca de 20 anos), mas também pelo desinvestimento em áreas essenciais, como o património, o livro e a leitura ou a criação artística, sem falar nos baixos orçamentos das direções regionais, que as levam a uma quase paralisia.
Tendo em conta a inexistência de um verdadeiro poder regional (que poderia resolver, por exemplo, situações como a que até há pouco passou o Museu Regional de Beja), resta-nos, como verdadeiro motor da cultura local, os municípios (para além, claro, dos agentes e associações culturais que, muitas vezes contra ventos e marés, vão desempenhando, alguns há décadas, um papel insubstituível, junto das comunidades).
Ao nível municipal, tal como no nacional, as políticas culturais têm sobretudo a ver com os seus promotores e executores, ou seja, os decisores políticos. Veja-se o caso paradigmático do Porto onde, após o “apagão cultural” da cidade, no consulado de Rui Rio (cujo ponto máximo foi a entrega do teatro Rivoli a Filipe la Féria e onde pontuavam as corridas de carros, ou de aviões sobre o Douro) um novo executivo, com uma aposta forte na Cultura, liderada por um dinâmico e competente vereador, voltou a pôr o Porto no mapa cultural, afirmando a cidade, a nível regional e nacional e até internacional.
O que se passa na nossa região não é muito diferente do resto do país. Para além de uma atividade cultural mais ou menos consistente, mais ou menos esporádica e pontual, cada vez mais se impõem certames que pouco se distinguem uns dos outros (às vezes até coincidem nas datas). Ou são as feiras temáticas em torno de um tema ou produto regional – o queijo, o vinho, o porco, o pão, a água, o peixe – onde, além dos stands institucionais e das associações locais, se divulgam (e vendem) produtos da região e de outras zonas, se instalam as convenientes tasquinhas de comes e bebes e se promovem espetáculos que obedecem, regra geral, a formatos idênticos (e cuja cereja no topo do bolo é a transmissão televisiva num domingo à tarde); ou são as reconstituições históricas (romanas, medievais, quinhentistas, etc), adquiridas a empresas especializadas no ramo, em “pacotes” que variam com os milhares de euros disponíveis, e onde os mesmos figurantes tocam e dançam as mesmas músicas, fazem os mesmos números circenses, onde se vendem o mesmo artesanato, os chás e os licores, apenas variando (ou não) o vestuário e os adereços que se apresentam nos desfiles “históricos”.
Feira medieval, algures por aí (onde é que eu já vi isto?)
Os milhares de assistentes a estes eventos são os tais consumidores a que os autores referidos no início deste texto se referem e que, num “voyeurismo” acrítico observam o “comércio de escravos” ou a “luta de gladiadores”, esquecendo (ou não sendo informados) que a grandeza de um império (neste caso, o romano), significou a expressão do pior que a natureza humana pode fazer (e que foi repetido noutros impérios). Os escravos que ali são representados podiam muito bem ser os que estavam ao serviço do “patrício” proprietário da villa Pisões e que os gladiadores eram os que serviam a filosofia do poder dominante, dar pão e circo ao povo, para que o povo estivesse satisfeito. E, no entanto, bastava o simples recitar de uma poema de Brecht para esses assistentes se questionassem : “ A grande Roma está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? (…) César venceu os gauleses. Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço? “
É claro que, ao lado destes eventos, existem autarquias que procuram desenvolver iniciativas coerentes e consistentes, visando a promoção cultural dos seus cidadãos. Aliás, cultura e entretenimento não são incompatíveis e até podem coexistir, não se pode é confundir o papel de cada um e, muito menos, os poderes públicos substituírem coletividades locais na promoção de certos eventos enraizados nas tradições locais.
As Troianas, pela Escola da Noite, Coimbra
Casa da Cultura de Beja, 1998 - Programa Bejarte
O Festival Islâmico de Mértola tem um programa cultural rico e diversificado, que complementa toda a componente mais lúdica e a vertente comercial, cuja expressão máxima é o souk. As Palavras Andarilhas ou o Festival de Banda Desenhada, em Beja, a Quinzena Primavera no Campo Branco ou a Planície Mediterrânica, em Castro Verde, o Encontro de Culturas, em Serpa, são eventos consolidados no mapa cultural regional e até nacional, tal como iniciativas de outro tipo, como o Fórum 21, em Moura, ou as Conferências de Aljustrel, que procuram, com o recurso à palavra e à troca de ideias, debater assuntos de interesse municipal e regional. Outras autarquias, pelo contrário, não aproveitam certas oportunidades, como foi o caso de Beja que, ao ignorar os 50 anos da morte de Abel Viana, ocorridos em 2014, perdeu uma boa oportunidade de promover o  debate sobre o património e a arqueologia, em particular, num momento de grande atividade, como o provam as escavações do fórum romano, do Outeiro do Circo ou as que as obras da EDIA têm originado (momento que poderia igualmente servir para discutir a tão badalada e controversa demolição do depósito da água).
Políticas culturais municipais, mais do que apostar em grandes eventos que, de efémeros que são, pouco ou nada deixam (para além de praças cheias), devem assentar na formação e fidelização de públicos, em programas coerentes e devidamente financiados, que garantam a qualidade do trabalho nas bibliotecas, nos museus, nos teatros, nas galerias de arte; na preservação e na divulgação e fruição do património cultural e natural, material e imaterial; nas parcerias com o movimento associativo e com as escolas; no trabalho em rede com outras autarquias e entidades, regionais e nacionais.

Só assim se concretizará o sonho do “nosso” Bento de Jesus Caraça que, em 1933 escreveu : “A aquisição da cultura significa uma elevação constante, servida por um florescimento do que há de melhor no homem e por um desenvolvimento sempre crescente de todas as suas qualidades potenciais, consideradas do quádruplo ponto de vista físico, intelectual, moral e artístico; significa, numa palavra, a conquista da liberdade.”    
26 junho 2015


quarta-feira, 17 de junho de 2015

10º aniversário da reabertura do Pax Julia . Desconhecimento ? Esquecimento? Insensibilidade?


TODAS AS VIDAS NUM PALCO
2005 - 17 DE JUNHO - 2015

No fim do ano de 1990 o Cine-Teatro, então propriedade da Lusomundo encerra as suas portas, em parte devido à degradação das suas instalações, em parte pela concorrência que o aluguer de vídeos introduzira e que fazia cair o número de espectadores de cinema, desde 1952 a principal actividade da sala.
Após alguns anos de incertezas (será templo religioso? será espaço comercial?), é adquirido pela Câmara Municipal e, desde logo foi decidido que continuaria a ser o equipamento cultural que era desde 1928.
 Em 1999, o Ministério da Cultura, dirigido por Manuel Maria Carrilho, anuncia o programa "Rede Nacional de Teatros e Cine-Teatros", que visava a recuperação de salas antigas e a construção de novas, de modo a cobrir o território nacional de um conjunto de equipamentos culturais modernos, que permitissem a difusão das artes do espectáculo e a consequente promoção cultural dos cidadãos, quebrando com a tradicional macrocefalia cultural de Lisboa e permitisse uma efectiva descentralização.
Assim, através de um financiamento tripartido ( fundos comunitários, Município de Beja e Ministério da Cultura ), foi possível recuperar o Pax Julia, sonho adiado dos bejenses, até ao dia 17 de junho de 2005.
Foto de Eduardo Franco
Tal como aconteceu em Beja, outros teatros já tinham sido inaugurados e outros sê-lo-iam nos anos seguintes, uns recuperados (Aveirense, Avenida - Castelo Branco, Teatro Circo - Braga), outros construídos de raiz ( Municipais de Bragança, Vila Real, Guarda, Teatro das Figuras - Faro ).
Por isso, não é de estranhar que, vários desses teatros tenham comemorado ou vão fazê-lo, o seu 10º aniversário. Porque, comemorar essa efeméride é uma forma de :
- valorizar o papel do teatro na promoção cultural das cidades e das regiões;
- reconhecer o trabalho dos profissionais que aí trabalharam e/ou continuam a trabalhar;
- promover a auto-estima da população local, que se orgulha desse equipamento cultural;
- compreender a importância da Cultura para a afirmação da cidade, na região e no país.
Tudo isto está bem expresso em algumas opiniões reproduzidas pelo Correio da Manhã, aquando da inauguração do Pax Julia :
"MUITO ORGULHO" (Antónia Dias, reformada) “Há 35 anos que vivo ao lado do Pax Julia e é com muito orgulho que o vejo agora renovado e de cara pintada. Era uma tristeza muito grande ter este vizinho degradado e a cair de velho, depois de tantos anos a fazer-nos sorrir com as suas matinés.” 
"VESTÍAMOS A MELHOR ROUPA" (Carlos Figueira, reformado) “Lembro-me muito bem de como eram aqueles tempos. Ir ao cinema era uma festa. Vestíamos a nossa melhor roupa e lá íamos nós para o Pax Julia. Ainda me lembro do primeiro filme que aqui vi. Foi o ‘Zé do Telhado’ e na altura paguei na altura 5 escudos.” 
"SAUDADES DO ANTIGO" (Emília Ramoa, reformada) “É com muita saudade que recordo o antigo Pax Julia. Lembro-me perfeitamente das tardes no cinema e do convívio que havia antes, no intervalo, e no final das sessões de cinema. Foi sobretudo a saudade que me fez vir à inauguração.” http://www.cmjornal.xl.pt/cultura/detalhe/de-volta-a-cultura.html
Assim, vários são os teatros que comemoraram o 10º Aniversário, a maioria através da realização de espectáculos, acompanhados pela divulgação da efeméride:
3 jan 2014 - Municipal de Bragança - Orquestra Filarmonia das Beiras, com a soprano Isabel Alcobia e o tenor Carlos Guilherme. Edição de um livro com a história dos 10 anos do teatro);
19 mar 2014 - Municipal de Vila Real - Rodrigo Leão;
17 set 2014 - Micaelense (Ponta Delgada) - Win Mertens;
25 abr 2015 - Municipal da Guarda - Rita Guerra;
20 jun 2015 - Municipal de Estarreja - Jafumega+Orquestra Filarmónica das Beiras;
30 jun 2015 - Municipal de Faro - Michael Nyman.
E em Beja, como foi comemorado o 10º Aniversário da reabertura do Pax Julia? A resposta é, infelizmente, não foi.
E até havia uma hipótese. Por coincidência, certamente, hoje mesmo há um concerto no teatro, ainda por cima fruto de uma louvável parceria com outra instituição cultural relevante, o Conservatório Regional, como se pode ler no blogue do Pax Julia :
Dia 17
Música
21h30
CONCERTO PIANO E VIOLINO – Temporada de Concertos CRBA 2015
Co-Produção Conservatório Regional do Baixo Alentejo / Câmara Municipal de Beja

E, afinal, até não era difícil, bastava associar esse concerto à efeméride, fazer uma notícia no portal, na página do Facebook, na newsletter semanal da autarquia; uma nota de Imprensa; uma faixa na fachada do teatro; um folheto para distribuir em vários locais da cidade. 
Mas nada disso foi feito. A Câmara Municipal de Beja pura e simplesmente ignorou.
E a pergunta que se coloca é : porquê? Por desconhecimento? Por esquecimento? Por insensibilidade? Ou pelas três razões juntas? Que cada um tira as suas conclusões. As minhas, um dia destes publicarei.
  

Para concluir : em 2005 o Museu Jorge Vieira - Casa das Artes comemorou também o seu 10º aniversário. Para além de vários eventos alusivos à efeméride, foi publicado um livro que retrata precisamente o que foram esses profíquos e intensos dez anos no campo das Artes Plásticas. 
Outros tempos, outras pessoas, outras vontades.