Arquivo Fotográfico do Diário do Alentejo

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Museu Jorge Vieira – proposta para reflexão/debate


1.       Ao longo dos anos, a cidade de Beja foi sendo equipada com um conjunto de equipamentos culturais municipais que, juntamente com outros (públicos ou associativos), criaram as condições para a consolidação de uma política cultural coerente e consistente. Por ordem cronológica, a Casa da Cultura, a Galeria dos Escudeiros, a Biblioteca Municipal, a Casa das Artes/Museu Jorge Vieira e o Pax Julia são os equipamentos-âncora da rede atrás mencionada.

2.       No caso do Museu Jorge Vieira, que nasceu na sequência da doação de um valioso acervo de obras do artista – cerâmica e desenho – juntamente com a oferta das obras de arte pública de grandes dimensões, veio criar mais condições para que Beja – cidade, concelho e região – se pudesse projetar no panorama do turismo cultural nacional, com uma forte aposta nas artes plásticas (basta consultar o livro publicado em 2005, aquando do 10º aniversário do museu, para constatar este facto).

3.       As dificuldades estruturais do edifício adaptado para receber o museu revelaram-se ao longo dos anos, pelo que, quando surgiu a oportunidade de recuperar dois edifícios degradados – a sede do Clube Bejense, na Rua do Sembrano e o imóvel municipal, na Praça da República – poder-se-ia pensar que um outro poderia acolher, finalmente, o museu, dado que reuniam potencialidades para tal.

4.       Só que, no primeiro (cuja candidatura tinha a designação de “Casa Criativa”) foi instalado o Centro UNESCO e no segundo (Centro de Arqueologia e Artes) reina ainda a incerteza. Ambas as situações têm uma mesma explicação: a falta de um programa das obras de requalificação, que definisse de forma clara qual o uso futuro do edifício a recuperar e orientasse os projetos nessa direção.

5.       Então, se no caso do primeiro, parece ser um facto consumado, em relação ao edifício da Praça da República, torna-se necessário uma reflexão e uma discussão aberta e descomplexada sobre o seu futuro, nomeadamente sobre a possibilidade de instalar de forma definitiva o Museu Jorge Vieira nesse local, coexistindo com um espaço museológico que integre parte do espólio encontrado nas escavações do Fórum, enriquecendo-o, após a sua requalificação (algo que não é antagónico, como se observa, por exemplo, no Museu Picasso, em Málaga).

6.       Nesse espaço seriam instaladas as coleções de escultura e desenho, um espaço para artistas locais e um outro para exposições temporárias. Tudo isto, acompanhado, claro pela aposta na dinamização do próprio museu, em todas as suas valências.

7.       Por outro lado, existem ainda outras razões que levam à realização dessa reflexão:

7.1. A comemoração do 100º aniversário do nascimento de Jorge Vieira, com a dignidade a memória deste grande artista amigo de Beja merece. Além da instalação do museu num local apropriado, a implementação da identificação das duas obras de arte, na rotunda à entrada da cidade e junto à Pousada de São Francisco.

7.2. A integração do museu na Rede Portuguesa de Arte Contemporânea, criada há dias  https://files.dre.pt/1s/2021/05/09100/0001700021.pdf https://www.dgartes.gov.pt/pt/noticia/5441 , o  que o prestigiaria, ao lado, por exemplo, do Centro de Arte Contemporânea Graça Morais (Bragança), Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso (Chaves), Centro Internacional das Artes José De Guimarães (Guimarães), Museu Cargaleiro (Castelo Branco), Museu de Arte Contemporânea/Coleção António Cachola (Elvas), entre outros.

7.3. A aposta forte na arte contemporânea/coleção Jorge Vieira, como fator determinante para a promoção do Turismo Cultural, ao lado da aposta nos patrimónios histórico, cultural e natural.

Sobre este aspeto e, voltando à hipótese Centro de Arqueologia e Artes, será interessante refletir sobre uma questão: o que é mais importante para o Turismo Cultural em Beja? Grandes exposições temporárias, como a Cangiante ou, agora, “A Arte Que É – III” (sem pôr em causa a sua qualidade) ou a instalação da obra de um dos mais importantes artistas nacionais (não será por acaso que são dele duas emblemáticas obras de arte pública em Lisboa, na Praça do Município e no Parque das Nações, respetivamente)?

Como contributo para a reflexão/debate agora propostos, anexo dois artigos de opinião publicados no Diário do Alentejo, em março de 2019 e setembro de 2020, respetivamente.

               Beja, 24 de julho de 2022                                                                       

         José Filipe Murteira dos Santos