1.
Ao longo dos anos, a cidade de Beja foi sendo
equipada com um conjunto de equipamentos culturais municipais que, juntamente
com outros (públicos ou associativos), criaram as condições para a consolidação
de uma política cultural coerente e consistente. Por ordem cronológica, a Casa
da Cultura, a Galeria dos Escudeiros, a Biblioteca Municipal, a Casa das
Artes/Museu Jorge Vieira e o Pax Julia são os equipamentos-âncora da rede atrás
mencionada.
2.
No caso do Museu Jorge Vieira, que nasceu na
sequência da doação de um valioso acervo de obras do artista – cerâmica e
desenho – juntamente com a oferta das obras de arte pública de grandes
dimensões, veio criar mais condições para que Beja – cidade, concelho e região
– se pudesse projetar no panorama do turismo cultural nacional, com uma forte
aposta nas artes plásticas (basta consultar o livro publicado em 2005, aquando
do 10º aniversário do museu, para constatar este facto).
3.
As dificuldades estruturais do edifício adaptado
para receber o museu revelaram-se ao longo dos anos, pelo que, quando surgiu a
oportunidade de recuperar dois edifícios degradados – a sede do Clube Bejense,
na Rua do Sembrano e o imóvel municipal, na Praça da República – poder-se-ia
pensar que um outro poderia acolher, finalmente, o museu, dado que reuniam
potencialidades para tal.
4.
Só que, no primeiro (cuja candidatura tinha a
designação de “Casa Criativa”) foi instalado o Centro UNESCO e no segundo
(Centro de Arqueologia e Artes) reina ainda a incerteza. Ambas as situações têm
uma mesma explicação: a falta de um programa das obras de requalificação, que
definisse de forma clara qual o uso futuro do edifício a recuperar e orientasse
os projetos nessa direção.
5.
Então, se no caso do primeiro, parece ser um
facto consumado, em relação ao edifício da Praça da República, torna-se
necessário uma reflexão e uma discussão aberta e descomplexada sobre o seu
futuro, nomeadamente sobre a possibilidade de instalar de forma definitiva o
Museu Jorge Vieira nesse local, coexistindo com um espaço museológico que integre
parte do espólio encontrado nas escavações do Fórum, enriquecendo-o, após a sua
requalificação (algo que não é antagónico, como se observa, por exemplo, no
Museu Picasso, em Málaga).
6.
Nesse espaço seriam instaladas as coleções de escultura
e desenho, um espaço para artistas locais e um outro para exposições
temporárias. Tudo isto, acompanhado, claro pela aposta na dinamização do
próprio museu, em todas as suas valências.
7.
Por outro lado, existem ainda outras razões que
levam à realização dessa reflexão:
7.1. A
comemoração do 100º aniversário do nascimento de Jorge Vieira, com a dignidade
a memória deste grande artista amigo de Beja merece. Além da instalação do
museu num local apropriado, a implementação da identificação das duas obras de
arte, na rotunda à entrada da cidade e junto à Pousada de São Francisco.
7.2. A
integração do museu na Rede Portuguesa de Arte Contemporânea, criada há
dias https://files.dre.pt/1s/2021/05/09100/0001700021.pdf
https://www.dgartes.gov.pt/pt/noticia/5441
, o que o prestigiaria, ao lado, por
exemplo, do Centro de Arte Contemporânea Graça Morais (Bragança), Museu de Arte
Contemporânea Nadir Afonso (Chaves), Centro Internacional das Artes José De
Guimarães (Guimarães), Museu Cargaleiro (Castelo Branco), Museu de Arte
Contemporânea/Coleção António Cachola (Elvas), entre outros.
7.3. A
aposta forte na arte contemporânea/coleção Jorge Vieira, como fator
determinante para a promoção do Turismo Cultural, ao lado da aposta nos
patrimónios histórico, cultural e natural.
Sobre este
aspeto e, voltando à hipótese Centro de Arqueologia e Artes, será interessante
refletir sobre uma questão: o que é mais importante para o Turismo Cultural em
Beja? Grandes exposições temporárias, como a Cangiante ou, agora, “A Arte Que É
– III” (sem pôr em causa a sua qualidade) ou a instalação da obra de um dos
mais importantes artistas nacionais (não será por acaso que são dele duas
emblemáticas obras de arte pública em Lisboa, na Praça do Município e no Parque
das Nações, respetivamente)?
Como contributo para a reflexão/debate agora propostos,
anexo dois artigos de opinião publicados no Diário do Alentejo, em março de
2019 e setembro de 2020, respetivamente.
Beja, 24 de julho de 2022
José Filipe
Murteira dos Santos
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