Arquivo Fotográfico do Diário do Alentejo

domingo, 6 de março de 2016

Igreja da Misericórdia, a mal-amada (ou, a esquecida; ou, a abandonada).

Vi há pouco um vídeo promocional da cidade e do concelho (sobretudo sobre a primeira), provavelmente elaborado para ser exibido na BTL. Nele se exibem, na secção "Património", imagens do castelo, do museu regional e do espaço museológico do sembrano. Faltam, naturalmente, muitos outros locais e monumentos, por opção editorial, ou por qualquer outra.
Dos que faltam, uma é, sem dúvida, das nossas mais belas "jóias da coroa", a Igreja da Misericórdia e, quem sabe, uma das razões para a sua não inclusão, será precisamente evitar a visita por turistas, como os dois que vi lá entrar, máquinas fotográficas na mão, na semana passada. É que, como se pode ver na primeira foto (tirada por telemóvel ontem, às 10 da manhã), o estado desse monumento é verdadeiramente lastimável (como era há quase um ano - segunda foto).
É, sem dúvida, uma situação lamentável, que devia merecer a maior atenção, de modo a evitar estas imagens de abandono e esquecimento. Em primeiro lugar, procurar eventuais problemas estruturais no edifício, que provocarão as infiltrações e a humidade; em segundo lugar, reflectir seriamente sobre uma questão que abordei aqui ( http://notasaesquerda.blogspot.pt/…/o-estado-do-patrimonio-… ) há quase uma ano: até que ponto o lançamento de fogo de artifício a partir do telhado, não provocará danos que agravam esses problemas estruturais? É que, não nos podemos esquecer que este Monumento Nacional (desde 1933) tem quase 500 anos e, tal como o castelo (que, para além dos naturais problemas estruturais, foi sujeito, nos últimos anos, a implacáveis bombardeamento de festas com DJs até de manhã), um dia pode mesmo vir abaixo (não no todo, mas em partes).
Mas, infelizmente, parece que para algumas pessoas (que efemeramente dirigem os destinos do concelho) contam mais os "15 minutos de fama" às 0.00 horas do dia 1 de Janeiro, com algumas centenas de bejenses (e não só) de boca aberta de espanto com o "lindo fogo", do que as nefastas consequências desse acto sobre a "loggia" que um dia, no século XVI, o Infante D. Luis, Duque de Beja, irmão de D. João III, decidiu construir, inicialmente destinada a alojar os açougues da cidade, mas que depois, face à sua beleza e monumentalidade, decidiu doar à Confraria da Misericórdia, que até então ocupava a Igreja de Santa Maria.
Para terminar, uma pergunta: será que do telhado da Loggia del Mercato Nuovo, em Florença (última foto), contemporânea da nossa Igreja da Misericórdia, também lançam fogo de artifício? Temos sérias dúvidas que em pleno centro histórico da cidade (tal como em Beja), isso aconteça.


5 março 2016
15 abril 2015
Florença