Arquivo Fotográfico do Diário do Alentejo

sábado, 23 de abril de 2016

Beja Merece - O Baixo Alentejo existe.

Há cinco anos, durante a Ovibeja, nas vésperas das eleições legislativas, o movimento Beja Merece, recém criado dinamizou uma campanha em defesa das ligações ferroviárias modernas, nomeadamente pela eletrificação da linha Beja-Casa Branca e pelo regresso do intercidades direto entre Beja e Lisboa.
Para a História ficam os contatos, entre outros, com os líderes partidários (José Sócrates - então primeiro-ministro - Passos Coelho, Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã e Paulo Portas) e do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva. A foto em baixo mostra precisamente o grupo que esperava o presidente, no dia 7 de abril de 2011.

Cinco anos depois, porque a situação da ligação ferroviária está na mesma; porque as várias ligações rodoviárias, nomeadamente a A26, o IP 8, o IP2 e o IC 27, se encontram num estado lastimável ou mesmo abandonadas, o que põe em perigo os que aí circulam; porque os investimentos anunciados, quer pelo governo anterior, quer pelo atual, ignoram totalmente essas infraestruturas (que podiam ter financiamentos comunitários, à semelhança de outras, noutras zonas do país), entregámos ontem e hoje ao Primeiro-Ministro e ao Presidente da República um dossier com algumas informações e, sobretudo, as reivindicações de todos os que aqui vivem e trabalham. Ao PR entregámos ainda cópia do artigo publicado hoje mesmo no jornal Público ( https://www.publico.pt/politica/noticia/marcelo-visita-o-que-resta-do-caminhodeferro-alentejano-1729942 )

sexta feira - Ovibeja   
sábado - estação da CP (foto RVP)
 Os documentos entregues :
1Descrição da situação atual.
11.       As ligações ferroviárias.
Desde 1864 (data da chegada do caminho-de-ferro a Beja) até 2004, a ligação era feita de forma indireta, já que a linha ia até ao Barreiro, onde se fazia, por barco, o transbordo para Lisboa. Em 2004, após a entrada em funcionamento da linha ferroviária na Ponte 25 de Abril, em 1999, iniciaram-se as ligações diretas entre Beja e Lisboa, em comboios intercidades rápidos e confortáveis. Em pouco mais de duas horas chegava-se à capital, fugindo ao desagradável transbordo. Diga-se que este benefício, além dos habitantes de Beja, abrangia os de outros concelhos – Cuba, Alvito e Viana do Alentejo.
Pois bem, quando pensávamos que o progresso tinha finalmente chegado, eis que, em maio de 2010, com o início de obras de modernização (incluindo a eletrificação) do trecho entre Bombel e Évora, essa ligação é suspensa, para não mais voltar. Em seu lugar, a automotora até Casa Branca, onde se faz (novamente) um transbordo, este para o comboio que vem de Évora.
Para além desta desvalorização da ferrovia, já no final de 1989 tinha sido encerrado o Ramal de Moura, que servia os habitantes desse concelho e os de Serpa e, mais recentemente, no final de 2011 foi encerrada a ligação Beja-Funcheira, terminando assim com a ligação ferroviária ao Algarve, que servia várias localidades do sul do distrito.
2.       As ligações rodoviárias
O IC 27, que se inicia em Castro Marim e que deveria terminar no IP2, perto da Trindade, numa distância de cerca de cem quilómetros, servindo, não só esse concelho algarvio, como também o de Alcoutim, bem como os de Mértola e Beja, melhorando as ligações para Lisboa e para o Norte, via Évora está, há vários anos, parado.
Desde 2005 que a primeira fase, cerca de 40 quilómetros está a funcionar, tornando mais fácil, sobretudo no verão, a ligação ao Algarve. Mas, em junho de 2012, uma fonte do governo de então, anunciava no Expresso que o troço que faltava “encontra-se assegurado pela EN 122” e que “face à reduzida procura (…) considera-se que a infraestrutura rodoviária existente responde às necessidades existentes (sic)” Ou seja, numa simples frase revertia-se uma decisão há muito tomada, que tinha passado por vários governos e que, inclusivamente, tinha dado origem a um estudo de impacto ambiental, encomendado em 2001 por 83 mil contos (!!) e que fora apresentado em agosto de 2005.
Outra reversão deu-se na construção da A26. Depois das obras iniciadas, com expropriações, terraplanagens, viadutos e outras obras, eis que o governo anterior reverte a decisão porque, como dizia ao Diário de Notícias no dia 5 de outubro do ano passado, o ex-Presidente das Estradas de Portugal e atual das Infraestruturas de Portugal, António Ramalho, “…não se justifica uma autoestrada com menos de dez mil carros por dia”, ao mesmo tempo que (como compensação?) garantia que os únicos doze quilómetros que vão ser construídos serão gratuitos. Isto quer dizer que Beja ficará a cerca de quarenta quilómetros da A2, que liga a Lisboa e ao Norte do País. Neste caso, importa mesmo perguntar em quanto ficaria a finalização dessa obra, comparativamente, por exemplo com o Túnel do Marão, prestes a ser concluído.
3.       O PETI de 2014 e o PIIF de 2016 
Tudo isto poderia ser revertido aquando da elaboração do chamado PETI
http://www.infraestruturasdeportugal.pt/sites/default/files/files/files/PETI%203%2B_1.pdf , apresentado pelo governo anterior em abril de 2014. Com um valor total de seis mil milhões de euros, previa, entre 2014 e 2020, intervenções nos vários campos – portuário, ferroviário, rodoviário e aeroportuário. Mas, aquilo para que aponta o mapa desse plano é um imenso deserto no território entre Évora e o Algarve, onde praticamente nem um euro será investido.
E, quando se esperava que o atual governo analisasse esse plano, não de uma forma meramente economicista, tal como ele está concebido, mas sim num outro conceito, mais baseado nas necessidades das pessoas que vivem no interior, eis que é apresentado o plano ferroviário 2016-2020
Com um investimento previsto de cerca de 2700 mil euros, dos quais 1600 mil de fundos comunitários, contempla intervenções em várias linhas – Minho, Norte, Algarve, Beira, prevê a eletrificação de 741 quilómetros de ferrovia, num total de 1193 intervencionados mas, uma vez mais, nem uma linha, nem um euro para os 60 quilómetros da ligação Beja-Casa Branca e para o retomar das ligações ferroviárias diretas a Lisboa.

2.
Movimento Beja Merece – Cronologia – Ano de 2011
jan 7 – A CP anuncia, em comunicado para a LUSA, o fim da ligação ferroviária direta Beja-Lisboa e vice-versa, substituída por uma viagem em automotora de Beja para Casa Branca e o transbordo para o intercidades vindo de Évora
jan 18 – Reunião pública na Biblioteca Municipal de Beja, para discussão do assunto e formação de um movimento de cidadãos que se mobilizasse para a defesa da ligação ferroviária direta e para a eletrificação da linha.
jan 26 – Concentração da população junto à estação da CP de Beja
             - Reunião extraordinária da Assembleia Municipal de Beja
fev 10 - COLÓQUIO / DEBATE no Auditório da Biblioteca Municipal de Beja sobre
             “A modernização da Linha Ferroviária do Alentejo”, com Manuel Tão 
             Investigador da Universidade do Algarve
fev 14 - Concentração da população junto à estação da CP de Beja
fev 16 – Entrega da petição com 15071 assinaturas ao Presidente da Assembleia da
              República, Dr. Jaime Gama (petição nº 145/XI/2ª)
            - Reunião com os grupos parlamentares da Assembleia da República
            - Reunião com o Conselho de Administração da CP
fev 21 – Envio à Assembleia da República da versão online da petição, com 3561
              assinaturas (petição nº 153/XI/2ª)
mar 3 – Reunião com a Comissão Parlamentar de Obras Públicas, Transportes e
              Comunicações
mar 25 – Reunião com o Secretário de Estado dos Transportes, Correia da Fonseca
abr 4 – Criação do movimento Beja Merece ; início de uma campanha de
             sensibilização, aproveitando, nomeadamente a Ovibeja
mai – Contato, na Ovibeja, com os líderes dos partidos políticos e com o Presidente da
          República, Anibal Cavaco Silva
jul 24 – Reinício das ligações ferroviárias na Linha do Alentejo, interrompidas em
             maio de 2010. Confirma-se que Beja perde a ligação direta com Lisboa.
jul 26 – Presença na audição parlamentar promovida pelo PEV
           - Reuniões com os grupos parlamentares
           - Reunião com a Comissão Parlamentar de Economia e Obras Públicas
jul 29 – Reunião com o Secretário de Estado das Obras Públicas e Transportes,
             Sérgio Monteiro
set 2 – Debate das petições na Assembleia da República, conjuntamente com os
           Projetos de Resolução do BE, PCP e PEV sobre o mesmo tema.
set 8 -  Votação dos Projetos de Resolução, rejeitados pela maioria dos deputados http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/12/01/017/2011-09-09/39?pgs=39-40&org=PLC
nov 8 – espetáculo em defesa das ligações ferroviárias, no Teatro Municipal Pax Julia.       


3. Petição entregue ao Presidente da Assembleia da República, no dia 16 de fevereiro de 2011


4. Manifesto Baixo Alentejo existe - março de 2016