Há cinco anos, durante a Ovibeja, nas vésperas das eleições legislativas, o movimento Beja Merece, recém criado dinamizou uma campanha em defesa das ligações ferroviárias modernas, nomeadamente pela eletrificação da linha Beja-Casa Branca e pelo regresso do intercidades direto entre Beja e Lisboa.
Para a História ficam os contatos, entre outros, com os líderes partidários (José Sócrates - então primeiro-ministro - Passos Coelho, Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã e Paulo Portas) e do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva. A foto em baixo mostra precisamente o grupo que esperava o presidente, no dia 7 de abril de 2011.
Cinco anos depois, porque a situação da ligação ferroviária está na mesma; porque as várias ligações rodoviárias, nomeadamente a A26, o IP 8, o IP2 e o IC 27, se encontram num estado lastimável ou mesmo abandonadas, o que põe em perigo os que aí circulam; porque os investimentos anunciados, quer pelo governo anterior, quer pelo atual, ignoram totalmente essas infraestruturas (que podiam ter financiamentos comunitários, à semelhança de outras, noutras zonas do país), entregámos ontem e hoje ao Primeiro-Ministro e ao Presidente da República um dossier com algumas informações e, sobretudo, as reivindicações de todos os que aqui vivem e trabalham. Ao PR entregámos ainda cópia do artigo publicado hoje mesmo no jornal Público ( https://www.publico.pt/politica/noticia/marcelo-visita-o-que-resta-do-caminhodeferro-alentejano-1729942 )
sexta feira - Ovibeja |
sábado - estação da CP (foto RVP) |
Os documentos entregues :
1. Descrição da situação atual.
11.
As ligações ferroviárias.
Desde 1864 (data da chegada
do caminho-de-ferro a Beja) até 2004, a ligação era feita de forma indireta, já
que a linha ia até ao Barreiro, onde se fazia, por barco, o transbordo para
Lisboa. Em 2004, após a entrada em funcionamento
da linha ferroviária na Ponte 25 de Abril, em 1999, iniciaram-se as ligações
diretas entre Beja e Lisboa, em comboios intercidades rápidos e confortáveis.
Em pouco mais de duas horas chegava-se à capital, fugindo ao desagradável
transbordo. Diga-se que este benefício, além dos habitantes de Beja,
abrangia os de outros concelhos – Cuba, Alvito e Viana do Alentejo.
Pois bem, quando pensávamos
que o progresso tinha finalmente chegado, eis que, em maio de 2010, com o início de obras de modernização (incluindo a
eletrificação) do trecho entre Bombel e Évora, essa ligação é suspensa, para não mais voltar. Em seu lugar, a automotora até Casa Branca, onde se faz (novamente) um
transbordo, este para o comboio que vem de Évora.
Para além desta desvalorização
da ferrovia, já no final de 1989 tinha sido encerrado o Ramal de Moura, que
servia os habitantes desse concelho e os de Serpa e, mais recentemente, no
final de 2011 foi encerrada a ligação Beja-Funcheira, terminando assim com a
ligação ferroviária ao Algarve, que servia várias localidades do sul do
distrito.
2.
As ligações rodoviárias
O IC 27, que se inicia em
Castro Marim e que deveria terminar no IP2, perto da Trindade, numa distância
de cerca de cem quilómetros, servindo, não só esse concelho algarvio, como
também o de Alcoutim, bem como os de Mértola e Beja, melhorando as ligações
para Lisboa e para o Norte, via Évora está, há vários anos, parado.
Desde 2005 que a primeira
fase, cerca de 40 quilómetros está a funcionar, tornando mais fácil, sobretudo
no verão, a ligação ao Algarve. Mas, em junho de 2012, uma fonte do governo de
então, anunciava no Expresso que o troço
que faltava “encontra-se assegurado pela EN 122” e que “face à reduzida procura
(…) considera-se que a infraestrutura rodoviária existente responde às
necessidades existentes (sic)” Ou seja, numa simples frase revertia-se uma
decisão há muito tomada, que tinha passado por vários governos e que,
inclusivamente, tinha dado origem a um estudo de impacto ambiental, encomendado
em 2001 por 83 mil contos (!!) e que fora apresentado em agosto de 2005.
Outra reversão deu-se na
construção da A26. Depois das obras iniciadas, com expropriações,
terraplanagens, viadutos e outras obras, eis que o governo anterior reverte a
decisão porque, como dizia ao Diário de Notícias no dia 5 de outubro do ano
passado, o ex-Presidente das Estradas de Portugal e atual das Infraestruturas
de Portugal, António Ramalho, “…não se
justifica uma autoestrada com menos de dez mil carros por dia”, ao mesmo
tempo que (como compensação?) garantia que os únicos doze quilómetros que vão ser
construídos serão gratuitos. Isto quer
dizer que Beja ficará a cerca de quarenta quilómetros da A2, que liga a Lisboa
e ao Norte do País. Neste caso, importa mesmo perguntar em quanto ficaria a
finalização dessa obra, comparativamente, por exemplo com o Túnel do Marão,
prestes a ser concluído.
3.
O PETI de 2014 e o PIIF de 2016
Tudo isto poderia ser
revertido aquando da elaboração do chamado PETI
http://www.infraestruturasdeportugal.pt/sites/default/files/files/files/PETI%203%2B_1.pdf , apresentado pelo governo anterior em
abril de 2014. Com um valor total de seis mil milhões de euros, previa, entre
2014 e 2020, intervenções nos vários campos – portuário, ferroviário,
rodoviário e aeroportuário. Mas, aquilo
para que aponta o mapa desse plano é um imenso deserto no território entre
Évora e o Algarve, onde praticamente nem um euro será investido.
E, quando se esperava que o
atual governo analisasse esse plano, não de uma forma meramente economicista,
tal como ele está concebido, mas sim num outro conceito, mais baseado nas
necessidades das pessoas que vivem no interior, eis que é apresentado o plano ferroviário
2016-2020
Com um investimento previsto
de cerca de 2700 mil euros, dos quais 1600 mil de fundos comunitários,
contempla intervenções em várias linhas – Minho, Norte, Algarve, Beira, prevê a
eletrificação de 741 quilómetros de ferrovia, num total de 1193
intervencionados mas, uma vez mais, nem
uma linha, nem um euro para os 60 quilómetros da ligação Beja-Casa Branca e
para o retomar das ligações ferroviárias diretas a Lisboa.
2.
Movimento Beja Merece – Cronologia
– Ano de 2011
jan 7 – A CP
anuncia, em comunicado para a LUSA, o fim da ligação ferroviária direta
Beja-Lisboa e vice-versa, substituída por uma viagem em automotora de Beja para
Casa Branca e o transbordo para o intercidades vindo de Évora
jan 18 – Reunião
pública na Biblioteca Municipal de Beja, para discussão do assunto e formação
de um movimento de cidadãos que se mobilizasse para a defesa da ligação
ferroviária direta e para a eletrificação da linha.
jan 26 – Concentração
da população junto à estação da CP de Beja
- Reunião extraordinária da Assembleia
Municipal de Beja
fev 10 - COLÓQUIO / DEBATE no Auditório
da Biblioteca Municipal de Beja sobre
“A modernização da Linha Ferroviária do
Alentejo”, com Manuel Tão –
Investigador da Universidade do Algarve
fev 14 - Concentração
da população junto à estação da CP de Beja
fev 16 – Entrega da
petição com 15071 assinaturas ao Presidente da Assembleia da
República, Dr. Jaime Gama (petição nº 145/XI/2ª)
- Reunião com os grupos parlamentares da Assembleia da República
- Reunião com o Conselho de Administração da CP
fev 21 – Envio à
Assembleia da República da versão online da petição, com 3561
assinaturas (petição nº 153/XI/2ª)
mar 3 – Reunião com
a Comissão Parlamentar de Obras Públicas, Transportes e
Comunicações
mar 25 – Reunião com
o Secretário de Estado dos Transportes, Correia da Fonseca
abr 4 – Criação do
movimento Beja Merece ; início de uma campanha de
sensibilização, aproveitando, nomeadamente a Ovibeja
mai – Contato, na
Ovibeja, com os líderes dos partidos políticos e com o Presidente da
República, Anibal Cavaco Silva
jul 24 – Reinício das
ligações ferroviárias na Linha do Alentejo, interrompidas em
maio de 2010. Confirma-se que
Beja perde a ligação direta com Lisboa.
jul 26 – Presença na
audição parlamentar promovida pelo PEV
- Reuniões com os grupos parlamentares
- Reunião com a Comissão Parlamentar de Economia e Obras Públicas
jul 29 – Reunião com
o Secretário de Estado das Obras Públicas e Transportes,
Sérgio Monteiro
set 2 – Debate das
petições na Assembleia da República, conjuntamente com os
Projetos de Resolução do BE, PCP e PEV sobre o mesmo tema.
set 8 - Votação dos Projetos de Resolução, rejeitados pela maioria dos deputados http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/12/01/017/2011-09-09/39?pgs=39-40&org=PLC
nov 8 – espetáculo
em defesa das ligações ferroviárias, no Teatro Municipal Pax Julia.
3. Petição entregue ao Presidente da Assembleia da República, no dia 16 de fevereiro de 2011
4. Manifesto Baixo Alentejo existe - março de 2016
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