Arquivo Fotográfico do Diário do Alentejo

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

NOTAS SOLTAS

Notas soltas - 13.1.
Ligação ferroviária Beja-Lisboa, 1872.
O transporte ferroviário em Portugal inicia-se em 1856, com a ligação Lisboa-Carregado. Oito anos depois chega a Beja, dando início à ligação Beja-Lisboa, com o transbordo fluvial no Barreiro.
Em 1872, a viagem terminava na estação de Casével. Em 1889 chega a Faro, em 1906 a Vila Real de Santo António (apenas em 1922 o comboio chegaria a Lagos).
Ficava, assim, concluída a ligação que iria durar durante várias décadas do século XX, entre Vila Real e Barreiro/Lisboa, com Beja a desempenhar um papel muito importante (tal como Casa Branca), como se pode ver no horário de 1913. Além desta linha principal, destacavam-se outras ligações, como o ramal de Moura, concluído em 1902 e que em 1872 ia apenas até Quintos. Realce, também, para a ligação a Évora, concluída em 1863 (um ano antes da chegada a Beja), cuja linha, em 1872, se estendia até Vale do Pereiro. No ano seguinte, esta ligação iria chegar a Estremoz e, em 1905, a Vila Viçosa.
Ou seja, no início do século XX, o transporte ferroviário era determinante para a ligação Algarve-Alentejo-Lisboa-Norte, numa altura em que a rede de estradas era ainda muito deficitária, como se pode ver na “Carta de Portugal contendo as estradas em macadam e caminhos de ferro – publicada para comemorar o 6º anniversário da fundação [em 1899] da União Velocipédica Portugueza”. Por exemplo, a partir de Beja, estavam por concluir as ligações ao Algarve, a Évora, a Aljustrel (a estrada terminava em Ervidel) ou a Serpa (ficava em Baleizão).
Como se vê no documento de 1872, algumas das estações tinham designações que foram alteradas: Monte-Mor/Torre da Gadanha, Outeiro/Santa Vitória-Ervidel, Carregueiro/Castro Verde-Almodôvar. Estas e ainda outras – Alvito, Vianna, Alcáçovas – estavam distantes das povoações: “O caminho de ferro devia ser equidistante das localidades na bissetriz que servisse uma maior quantidade de população. Para se transformar numa verdadeira rede de viação teria de estar ligado por estradas às povoações.” (Magda Pinheiro, Nuno Miguel Lima e Joana Paulino, Ler História nº 61, 2011). Como se pode ver no mapa, em 1906, isto ainda não se verificava.
Entre as estações do Outeiro e do Carregueiro situava-se a da Figueirinha que, tal como a primeira, tinha sido batizada com o nome da herdade onde se situava. Em 1876 foi construída, em via estreita, um ramal entre as minas de Aljustrel e esta estação, passando pelo complexo das Pedras Brancas, destinado ao transporte do minério até à Linha do Alentejo, com destino ao Porto de Setúbal. Sobre a ribeira dos Louriçais, junto ao Vila Galé Clube de Campo, ainda se pode observar uma ponte desta linha (substituída, mais tarde, pela ligação entre Aljustrel e o Carregueiro).
Em 1872 já estavam operacionais, mas não constam no horário apresentado, os apeadeiros de São Matias e de Represas, que estão incluídos no horário de 1913.
Em 1872, a ligação entre o Algarve, o Alentejo e Lisboa era assegurada pela companhia Caminho de Ferro do Sueste, formada por três empresários ingleses em 1860 e que seria nacionalizada em 1869, estando na origem dos designados Caminhos de Ferro, arrendados em 1927 à CP, Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses.
Duas curiosidades:
- em 1872, a viagem entre Beja e Lisboa durava 7 horas e 38 minutos; em 1913 demorava 4 horas e 30 minutos.
- em 1872 a ligação fluvial era feita pelo “vapor”, que ligava o Seixal ao Barreiro e a Lisboa, entre estas duas localidades, a viagem durava 40 minutos;
Uma perplexidade inicial:
- Lisboa-Beja era feita pelos “Comboios Ascendentes”; Lisboa-Beja era feita pelos “Comboios Descendentes”.
Teria sido lapso?
- “via ascendente – via em que os comboios circulam do início para o fim da linha”;
- “via descendente – via em que os comboios circulam do fim da linha para a sua origem”.
Uma nota pessoal:
pode não ser no mesmo horário de 1913, mas era no comboio da noite (Beja - 1h.35 / Santa Vitória-Ervidel - 2h), seguido de 3kms a pé, até à aldeia, que os jovens voltavam a Santa Vitória, depois do cinema no Pax Julia, de bailes, feiras ou do regresso da inspeção militar.




Notas soltas – 14.
1974 - 25 de Abril - 2024.
50 anos de Liberdade.
A um ano de distância, a Câmara Municipal de Beja anuncia a criação de uma comissão para comemorar o 10º Aniversário da classificação do Cante como Património Cultural e Imaterial da Humanidade. Nada a opor, antes pelo contrário.
O que não deixa de ser estranho é que, a cinco meses do 50º Aniversário do 25 de Abril, não haja qualquer notícia sobre as eventuais comemorações de tão importante data, no concelho de Beja, ao contrário do que já está a acontecer, na região e no país.
Mais estranho se torna, quando já passaram quatro meses e meio sobre a aprovação, por unanimidade, da criação da chamada "Comissão Organizadora das Comemorações do 50º Aniversário do 25 de Abril de 1974" e não haja, até ao momento, qualquer nota sobre a sua atividade
Relembro, a este propósito, o que escrevi, nesta mesma plataforma, uma semana depois dessa aprovação (texto que, à data de hoje, ainda é mais atual):
“Em Beja parece que não há mais vida para além dos partidos políticos (que têm, obviamente, o seu insubstituível lugar na Democracia reimplantada em 1974, mas que não são os únicos construtores e protagonistas da vida política, económica, social, educativa, cultural, desportiva do concelho, ao longo dos últimos quase 50 anos).
Atente-se nesta decisão tomada na Assembleia Municipal do passado dia 12 (não estão em causa, naturalmente, os nomes indicados pelos partidos/coligação, legitimamente eleitos nos dois órgãos políticos):
" 2.4. – Proposta de Constituição da Comissão Organizadora das Comemorações do 50º Aniversário do 25 de Abril de 1974; A Assembleia deliberou, por unanimidade, aprovar as propostas apresentadas ficando a Comissão Organizadora constituída pelos seguintes eleitos:
Presidente da Assembleia Municipal de Beja, Maria da Conceição Guerreiro Casa Nova;
Pelo Grupo do Partido Socialista, Ana Cristina Ribeiro Horta e Patrícia Margarida de Carvalho dos S. Duarte Loução Patriarca;
Pela PCP-PEV-CDU – Coligação Democrática Unitária, Miguel Machado Quaresma e o Presidente da Junta de Freguesia de Stª Clara do Louredo, Luís Miguel da Silva Gaspar;
Pelo PPD/PSD.CDS-PP.PPM.IL.A – Coligação Consigo “Beja Consegue”, José Manuel Pinela Coelho Fernandes e Bernardo Maria Parreira Cabral Cruz Nascimento;
Pela Câmara Municipal de Beja, Paulo Jorge Lúcio Arsénio, Presidente da Câmara e a senhora vereadora, Ana Marisa de Sousa Martins Saturnino."
Excerto da minuta da Ata da referida assembleia. “


Notas soltas - 13.
Ligação ferroviária Beja-Lisboa em 3 atos :
1 - 1872; 2 - 2008; 3 - 2021.
Descubra as diferenças (há bastantes, umas para melhor, outras para pior).

2008 2021
Notas soltas - 12.
Ninguém de indigna?
Ninguém questiona?
"Unidade Hospitalar do Baixo Alentejo (Hospital de Beja) – Serviço de Urgência Médico-Cirúrgica (Via Verde AVC), sem resposta a 2 de dezembro. Instituição para referência: Hospital Garcia de Orta, EPE – SUP." Daqui : https://lidadornoticias.pt/ .
A notícia do Lidador Notícias é de ontem, precisamente o dia em que a Direção Executiva do SNS publicou esta nota de imprensa https://www.sns.min-saude.pt/.../Deliberacao-SU-Nacional... .-
Estranhamente, mais nenhum órgão de comunicação social local se referiu ainda a este assunto. Adiante!
Ninguém se indigna? Talvez por ser "apenas" um dia, talvez por ser a banalização do "novo normal" dos últimos meses, o certo é que nem uma única voz (que eu tenha conhecimento) se fez ouvir sobre o tema.
Ninguém questiona: porquê Almada, porque não Évora?
Segundo a ARS Alentejo, "A Unidade de AVC do Hospital do Espírito Santo de Évora é uma unidade de referência regional, com acesso a Via Verde AVC, cuidados diferenciados e específicos." http://www.arsalentejo.min-saude.pt/ . De acordo com a nota de imprensa citada, não vai estar encerrada nesse dia e, sendo "uma referência regional", menos ainda se percebe a opção Garcia de Orta (cuja competência não está, obviamente, em causa).
Sendo a Via Verde AVC decisiva para salvar vidas e/ou minimizar impactos graves, exigindo uma intervenção o mais rápido possível, porquê, então, fazer 170 Km, ou invés dos 80 que separam as duas cidades alentejanas? A transferência dos doentes será por helicóptero ou por ambulância?
É que, nesta última hipótese, os quase 40 km de Beja até ao acesso à autoestrada, na rotunda da Malhada Velha, nas duas degradadas estradas nacionais (eufemisticamente designadas por IP8), podem ser um autêntico martírio para quem estiver a ser transferido, por muito que os profissionais envolvidos façam o seu melhor.
Por outro lado, 40 km é um pouco mais de metade da distância entre Beja e Évora, num razoável IP2.
Sinceramente: alguém consegue explicar esta opção, tomada a partir do Porto?
Foto : Ricardo Zambujo, daqui : https://www.ulsba.min-saude.pt/2020/10/25 .


Notas soltas - 11.
" Ai, esta terra ainda vai cumprir o seu ideal
Ainda vai tornar-se o imenso Portugal… "
Pena que não tenha conseguido captar toda a canção e que a qualidade da imagem e do som não seja a melhor.
Fica um pequeno registo da (boa) surpresa, ao passear no Jardim Público, numa tarde que estava a arrefecer, e está a passar, nas colunas instaladas no coreto, o Fado Tropical do grande Chico (com a declamação do Ruy Guerra) - na Antena 1.
Música composta em 1973, era um libelo contra as ditaduras que oprimiam os dois povos - português e brasileiro - nessa altura e às quais não queremos voltar.
Para ouvir na totalidade esta linda e simbólica canção:




Notas soltas - 10.
Colaborador? Não, obrigado.
Os trabalhadores da Autoeuropa são, aquilo que se designa por desmancha-prazeres. A empresa, tão fofinha, colocou na entrada uma placa onde pode ler “Colaboradores” mas eles, certamente só para contrariar, insistem em manter uma Comissão de… Trabalhadores.
Até para referir o mesmo acontecimento, as designações diferem :
"Os colaboradores da Volkswagen Autoeuropa aprovaram hoje o acordo laboral para o período de 01 de janeiro de 2019 a 31 de dezembro de 2020” - nota de imprensa da Administração.
"Estou muito satisfeito pela participação dos trabalhadores no referendo, a maior de sempre (82,6%), e pela aprovação do acordo por 72,8% dos trabalhadores” - declaração do Coordenador da Comissão de Trabalhadores. (Excertos de notícia da LUSA, 9 Nov. 2018).
Cá para mim, esta "teimosia" da CT deve ter sido alguma recomendação vinda do Reino Unido, mais concretamente do partido Labour, que já estava a temer a tradução portuguesa: “Partido Colaboracionista”. Ou, então, o fantasma de Arnaldo Matos, a imaginar o que seria o PCCP, Partido Comunista dos Colaboracionistas Portugueses”. E que dizer das putativas designações das organizações laborais : CGCP, Confederação Geral dos Colaboracionistas Portugueses e UGC – União Geral dos Colaboracionistas?
Já para não falar (exagero dos exageros) de colaboradores a substituir os proletários, na história do movimento operário do século XIX. Karl Marx até perdia a barba, se um dia lesse "Colaboradores de todos os países, UNI-VOS". E, um dia, este mesmo slogan na capa do AVANTE, o escândalo que seria?
De resto, nos anos 60 do século passado, via-se nos rostos dos "colaboradores" mineiros de São Domingos a sua satisfação, não só pelas excelentes condições de trabalho, mas também pela decisão dos seus patrões ingleses de abdicarem de uma grande parte dos seus dividendos, para os distribuir por eles, como recompensa pela sua "colaboração".
Indo um pouca mais atrás na História, destaca-se a visão futurista do Dr. António de Santa Comba, ao proclamar, na linha do seu amigo Mussolini (que ele admirava tanto, ao ponto de ter uma fotografia do Duce na sua secretária), o fim da luta de classes e a implantação do estado corporativo, sem greves e com sindicatos de direções nomeadas, para uma mais eficaz colaboração com os grémios patronais.
Como escrevia o oficioso Diário da Manhã, no dia 23 de maio de 1942, "... é indispensável que todos compreendam que sem esse espírito de colaboração não há ação corporativa que valha..." (in Os últimos do Estado Novo, de José Pedro Castanheira, setembro de 2023, pág. 264).
Perante esta moderna nomenclatura no mundo laboral, tão do agrado de modernos gestores, que adoram também os anglicismos, só me resta uma escolha : Colaborador? Não, obrigado!



Notas soltas - 9.
Modas: rádios e telemóveis.
“Alguém conhece estas jovens?”
Esta foi a questão colocada há dias, na página do grupo Amigos de Santa Vitória , pela Maria Serra.
Depois de algumas tentativas menos conseguidas, a Maria identifica as cinco jovens, quatro delas suas cunhadas.
Com base nesta identificação e depois de as ter reconhecido, o João Costa avança com uma data e um local : “Eram novinhas, talvez 1957 (…) A sinalização conheço. Essa placa estava na passagem de linha nos pocinhos [linha férrea Beja-Funcheira]”.
A Dora pergunta: “O que elas têm nas mãos, são malas?”
Responde a Maria: “Não são. Rádios, era moda nesse tempo, era a novidade, andava tudo de rádios na mão, quem os tinha.”
Completa o João: “Naquele tempo era moda andar com a rádio na mão. Agora é telemóveis”.

(Da esquerda para a direita: Rosinda, Maria Alice, Mariana, Gertrudes e Irene. Só a Maria Alice não era cunhada da Maria).

Notas soltas - 8.
A cantiga é uma arma / Mundo da Canção.
https://www.youtube.com/watch?v=McRqaiBmIT4 - Adriano Correia de Oliveira - "Trova do vento que passa". (a)
A última edição da revista VISÃOHistória é dedicado à chamada "música de intervenção". Uma edição muito bem elaborada, assim apresentada na sua página do FB: "O novo número da VISÃO História tem os olhos postos nos 50 anos do 25 de Abril, que se comemoram em 2024. Dedicamos esta edição ao papel relevante que os músicos tiveram na consciencialização da opinião pública sobre o que se passava à sua volta..."
Na página 51, é recordado o papel da revista Mundo da Canção, o que me fez voltar à publicação que fiz aqui, há quase 4 anos ( no dia 16 de dezembro de 2019 ):
" Em 1971 (aos 13 anos) os meus dois maiores ídolos da música já tinham partido. Muito cedo, por sinal. Quase no mesmo mês, no ano anterior, Jimi Hendrix e Janis Joplin, ambos com 27 anos, terminavam, assim, uma curta mas intensa carreira, que tivera um ponto alto em Woodstock, em 1969.
Foi em Junho desse ano que comprei, pela primeira vez ( na casa Tó Péqui, do senhor Barrocas), a revista Mundo da Canção. Na capa, Elton John, que seria a grande estrela do festival de Vilar de Mouros, que teria lugar menos de dois meses depois.
Ao longo de alguns anos, sempre no mesmo local, comprei regularmente essa revista. E foi nela que descobri letras de canções de cantores que eu desconhecia e cujas fotografias corajosamente o seu editor iria colocar na capa.
Devo ao Mundo da Canção o conhecimento de um mundo novo, que ia muito para além do que até então conhecia: que havia canções proscritas e os seus autores presos e/ou exilados. Que havia uma música que fazia intervenção. Pela Liberdade. Pela Justiça Social. Pela Cultura.
Mais tarde, já depois da liberdade reconquistada, o Sérgio Godinho cantava o que faltava, para haver "liberdade a sério": a paz, o pão, habitação, saúde, educação, tão atuais ainda, quase 50 anos depois.
Foi no dia 16 de Dezembro de 1969 que foi publicado o nº 1 do MC (com Francisco Fanhais na capa). Ao seu criador e mentor. Avelino Tavares , o meu obrigado e o reconhecimento pelo excelente trabalho realizado ao longo destes 50 anos.
Para conhecer melhor :
(a) " Sabia que Trova do Vento que Passa, a conhecida canção de Adriano Correia de Oliveira, foi escrita por Manuel Alegre depois de ter sido perseguido por pides em Coimbra nos tempos de estudante? Eis uma das histórias que lhe contamos no mais recente número da VISÃO História, dedicado à canção de protesto antes e depois do 25 de Abril. "
Notas Soltas - 7.
António Costa e Beja.
Podia fazer humor sobre a demissão de António Costa, como muitos fazem nas redes sociais, uns sem graça nenhuma, outros com piadas de mau gosto.
Podia comentar essa demissão, mas as televisões, as rádios, os jornais, os "amadores" das redes encarregam-se dessa tarefa.
Podia, mas deixo as piadas e os comentários para outros.
Deixo, apenas, o título e refrão de uma canção de Sérgio Godinho : " É a vida (o que é que se há-de fazer?) "
Vou focar-me num aspeto que, nos últimos 6/7 anos me tem, intrigado: António Costa tem (ou tinha) alguma aversão a Beja, cidade e concelho?
Porquê esta interrogação?
Pela simples constatação de um facto : em oito anos como primeiro -ministro, apenas por duas vezes se deslocou a Beja nessa qualidade, por sinal em visita à OVIBEJA, em 2016 e 2017. Daí para cá, veio para a Cimeira dos “Amigos da Coesão”, que se realizou na Pousada de São Francisco, no dia 1 de fevereiro de 2020 e como secretário-geral do PS em eventos partidários.
E foi precisamente nesta qualidade que esteve num comício, no Jardim de Bacalhau, por ocasião das eleições legislativas de 2019.
De acordo com o título da Rádio Voz da Planície, "António Costa garantiu ontem, num comício que decorreu no largo do Museu em Beja, que relativamente a esta região “vamos fazer o que ainda não foi feito”. ( https://www.vozdaplanicie.pt/ , 16/09/2019).
O problema é que, daí para cá, a conclusão do IC27 não saíu da gaveta, onde passou a ter a companhia da A26 e, no que à ligação ferroviária direta a Lisboa diz respeito, aguardamos estoicamente, como fazemos desde 2010. Ou seja, pouco ou nada foi feito.
Para além de qualquer razão que desconheço há, no entanto, uma outra que tem contribuído para esse ostracismo a que António Costa votou Beja: a pouca importância política que os órgãos e os dirigentes locais e regionais, de Beja-Concelho e Beja-Distrito têm no PS, contrastando com a dupla eborense imbatível Capoulas-Zorrinho, nas várias funções que têm desempenhado, ministro, sec. estado, deputado nacional, deputado europeu.
Repetindo o grande Sérgio : "É a vida" !




Notas Soltas - 6.
Bafejado pela sorte…
… ou talvez pela vontade de alguém que ousou desafiar a inércia de há décadas. Parabéns, pois, a quem tomou a iniciativa de dignificar a imagem do maior edifício da cidade, destinado a ser o Colégio dos Jesuítas, mas que nunca chegou a desempenhar essa função.
Menos sorte tem o seu “vizinho”, antes sede do Governo Civil e de outros serviços do Estado, onde hoje apenas funcionam estes. As fotos do exterior dizem tudo, parece que no interior há também situações degradantes.
Em frente deste, outro edifício, este municipal, também parece estar ao abandono. A Casa do Lago e o muro contíguo bem mereciam outra sorte (ou vontade política). No caso do muro, o contraste com a parte que pertence à Pousada de São Francisco, pintada há já algum tempo, é bem visível. E nem o parquímetro aí situado escapou ao desleixo, instalado no lugar do anterior, sem a parede posterior estar devidamente reparada.
Um pouco mais acima, outro símbolo do descaso, o edifício do Banco de Portugal, também ele entregue à sua (má) sorte.
Um pouco mais acima, outro edifício municipal, onde esteve instalado o Museu Jorge Vieira, a precisar também de uma intervenção, que lhe dê um aspeto um pouco melhor.
Voltando ao edifício do antigo Governo Civil, não tem sido por falta de chamadas de atenção que a sua degradação exterior continua. Transcrevo excertos de intervenções que fiz, no período reservado ao público das assembleias municipais de junho de 2022 e 2023. Nesta última também chamei a atenção para a situação da Casa do Lago e do muro atrás referido.
“O senhor José Filipe Murteira (…) o edifício público onde nos encontramos é uma vergonha para a cidade e para o concelho de Beja (…) devia de haver uma intervenção forte, quer da Câmara, quer da Assembleia Municipal, no sentido de sensibilizar o Governo (…) e para que digam muito assertivamente que não aceitam na cidade de Beja um edifício nestas condições.”
Ata da Assembleia Municipal de 21 de junho de 2022
“O senhor José Filipe Murteira (…) relativamente a uma questão que foi colocada há uma ano (…) se a Assembleia ou a Câmara Municipal fizeram alguma coisa para sensibilizar o Governo para intervir neste edifício porque, daquilo que viu, está hoje como estava há uma ano ou ainda pior (…) o muro que fica a 50 metros daqui está por pintar, a Casa do Lago também (…) o parquímetro (…) ninguém teve a preocupação de reparar a parede que está por trás do mesmo (…) custa-lhe, como cidadão de Beja, passar ali e ver a parede toda esventrada, ou ver aquele muro, ou ver a Casa do Lago naquelas condições, porque dá a sensação de que não são de ninguém.”
Ata da Assembleia Municipal de 27 de junho de 2023





5. Oportunidade(s) perdida(a).
Há um ano escrevi nesta plataforma o seguinte:
“ (…) Saíram hoje os resultados do primeiro concurso de apoio à programação dos teatros e cineteatros : www.dgartes.gov.pt/pt/noticia/5254 .
39 projetos apoiados, 18 não apoiados. Entre estes últimos, o Pax Julia, cuja candidatura obteve uma das mais baixas pontuações finais (35,10%). Apenas 3 das 57 candidaturas obtiveram pontuações mais baixas. A pontuação mínima para um projeto ser apoiado era 60%.
Se lamento este resultado? Claro que lamento.
Se fiquei surpreendido? Não e sim.
Não, nas pontuações atribuídas à programação e à viabilidade da candidatura (7, num máximo de 20) e aos objetivos (6,2).
Sim, na pontuação atribuída à entidade e equipa (8,2).
Não, no resultado final.
Se aprovado, o Município de Beja receberia cem mil euros por ano, durante quatro anos, para a programação do Pax Julia (…) “
Entretanto, a DGArtes voltou a abrir novo concurso, cujo prazo terminou no dia 17, 3ª feira. Para espanto meu, quando esperava que a câmara municipal voltasse a concorrer, corrigindo as falhas do anterior, eis que o seu presidente anuncia que a autarquia não o vai fazer.
Decidi, então, expressar o meu lamento e a minha discordância por esta decisão, na reunião do executivo municipal na passada 4ª feira dia 18 (no vídeo, entre os períodos 2.02.08 e 2.11.26). Desta intervenção e da resposta do presidente, cada um que tire as suas conclusões. Sobre o mesmo tema, interveio a seguir o António Revez, da companhia Lendias d’Encantar. Como não assisti à primeira hora da reunião, só mais tarde pude ouvir também sobre o assunto os vereadores Vítor Picado (que colocara a questão na reunião anterior, no dia 4) e Nuno Palma Ferro.
Não me querendo alongar sobre o tema, destaco apenas uma constante nas intervenções do presidente Paulo Arsénio: a minimização destes concursos, subvalorizando a importância do eventual financiamento do Estado na programação do Pax Julia. Obviamente que discordo totalmente desta opinião e considero que, tal como no primeiro concurso, trata-se de mais uma oportunidade perdida, o que não aconteceu, logo na primeira fase para os seguintes teatros (e refiro apenas os do Sul do país, por uma razão que não quero aqui e agora indicar):
- Garcia de Resende (Évora), Figuras (Faro) e Louletano – 200 mil euros (o máximo);
- CAEP (Portalegre), Luísa Todi (Setúbal) e Joaquim Benite (Almada) – 150 mil;
- Augusto Cabrita (Barreiro) – 100 mil;
- São João (Palmela) e Lethes (Faro) – 50 mil.
Valores anuais, para o quadriénio 2022/2025.

4. O gangue do Palma em Beja. / O Jorge e o Vicente na Salvada.
Num tempo em que a Casa da Cultura fazia jus ao seu nome e as suas portas estavam abertas às mais variadas atividades, numa pluralidade saudável.
Foi precisamente nesse tempo e no âmbito da programação regular do Pelouro da Juventude, que o Palma's Gang se apresentou no palco da Casa da Cultura, ainda com o saudoso Zé Pedro.
Após uma primeira parte em que o "gangue" atuou em conjunto, "il capo" Jorge despediu-os e, sózinho ao piano (com uma garrafinha no chão, junto a si), arrancou para uma atuação arrebatadora, como só ele seria capaz, após quase uma hora de espetáculo. Uma energia e um virtuosismo que deixaram de rastos aquelas centenas de apreciadores de boa música que se tinham deslocado à Casa da Cultura.
Alguns anos depois, Jorge Palma, desta vez acompanhado pelo filho Vicente (também ele um virtuoso) veio atuar na Semana Cultural da Salvada (um dos mais antigos e consistentes eventos de descentralização cultural).
Depois de descerem as escadas de acesso ao palco, vindos do camarim, instalado no 1º andar do edifício da junta de freguesia, iniciam o espetáculo. Passado algum tempo, Jorge Palma indignou-se com uma “boca” de um espetador mais atrevido e, se numa primeira fase parecia querer descer do palco para se dirigir a ele, conteve-se e, perante o espanto de todos (incluindo Vicente), abandona o palco e sobe as escadas, de regresso ao camarim.
Passado esse espanto inicial, o povo começa então a gritar, rostos virados para cima: “Jorge-Jorge-Jorge”. E não é que resultou? O músico “desaparecido” aparece na varanda do edifício, levanta os braços, qual herói popular, gozando esse momento de êxtase mútuo, artista/espetadores.
Volta a descer as escadas e, como agradecimento a tão espontânea e verdadeira atitude dos presentes, reinicia o espetáculo, com a energia e a qualidade que já víramos na Casa da Cultura, desta vez acompanhado pelo seu filho, a quem se pode aplicar, sem quaisquer dúvidas, a expressão “filho de peixe sabe nadar”.




3. EUSKADI.
A "nota solta 2", de 30 de setembro, ocorreu-me depois de ter visto esta foto, tirada num bar de Legazpi (província de Gipuskoa, Euskadi/País Basco), publicada na El País, no passado dia 20 de agosto, com esta sugestiva legenda : "Os habitantes da localidade observam com indiferença o momento em que a sua conterrânea ganha a Taça do Mundo".
Quem era esta "conterrânea"? Nada mais, nada menos que Irene Paredes, jogadora de futebol do Barcelona e capitã da seleção de Espanha.
Legazpi é uma cidade relativamente pequena (cerca de 9 mil habitantes) onde, nas eleições de 2023 - autárquicas e legislativas - os dois partidos mais votados foram o EH Bildu e o EAJ-PNV, os partidos nacionalistas, que obtiveram 72% e 60% de cada uma dessas eleições.
Daí que, como escreve o jornalista, entre os presentes na "... taberna Oilarra (...) el entusiamo no es su fuerte." Mesmo sendo sua conterrânea, uma das melhores futebolistas da atualidade estava, afinal, a representar a seleção de Espanha, que eles não consideram como sua.
Fosse numa localidade, mais pequena ou maior, da Andaluzia, por exemplo, e já estamos a adivinhar a festa, com desfile pelas ruas e receção no Ayuntamiento, com condecoração municipal.
Mas, tal como a língua, também a bandeira, proibida igualmente no franquismo, é a sua, a basca, e não a espanhola. A este propósito partilho a publicação do meu colega de faculdade e de profissão António Alfarrobinha, na página que administra, que é uma verdadeira enciclopédia do chamado desporto rei.
“Antes de um jogo entre a Real Sociedad e o Athletic de Bilbao em 5 de Dezembro de 1976, no Atocha, os jogadores das duas equipas combinaram entrar em campo transportando a Ikurriña, a bandeira basca. O generalíssimo Franco tinha morrido no ano anterior, vivia-se o período do governo de transição democrática presidido por Arias Navarro, mas a bandeira basca continuava proibida por lei. Por essa razão, esse gesto teve um extraordinário significado político e social.“

 


 

2. PARIS / GASTEIZ.

Em dezembro de 1980 participei, através do FAOJ, num programa do governo francês, dedicado a jovens estrangeiros, designado Connaissance de la France. Era um programa temático - entre outros, havia um sobre o vinho e a vinha, em Bordéus - e a única condição era compreender e falar a língua francesa. Paguei a viagem, no lendário Sud-Express, sendo a estadia em Paris - duas semanas com alojamento e alimentação - paga pela organização.
Durante esse tempo assisti a diversas peças, nos muitos teatros da cidade, dos mais modestos (Theatre du Soleil), aos mais sumptuosos ( Theatre de la Ville ou Chaillot, este onde jantámos, antes do espetáculo). Tive o privilégio de ver o trabalho de encenadores, como Augusto Boal, Peter Brook e Dario Fo, este último a interpretar a sua "História do Tigre e outras histórias", que mais tarde veria na versão portuguesa de Filipe Crawford. Destaco, igualmente, Le conte d'hiver, de Shakespeare, trabalho com quase 30 atores em palco, no magnífico palco da Place du Châtelet.
Além dos espetáculos, tínhamos, no dia seguinte, encontros com encenadores, artistas ou técnicos, com uma particularidade: no final , vi alguns deles receberem cheques pela sua sua participação, algo que em Portugal, em 1980, seria considerado algo excêntrico.
O grupo era formado por franceses (10 ou 12), escolhidos de entre dezenas de candidatos e por sete estrangeiros. Eu era o único português, havia depois um rapaz e uma rapariga da Grécia, idem da Holanda e duas raparigas de Espanha. Sobre estas, algo chamou a atenção dos presentes, aquando da apresentação de cada um ao grupo: uma delas identificou-se como espanhola, vinda de Burgos; a outra, ainda que falando também em castelhano, disse que vinha de Gasteiz [Vitoria], cidade de Euskadi [País Basco].
Mais tarde, numa conversa mais restrita, confessaria que o seu grande desgosto era não falar o o euskara [a língua basca, única da Península Ibérica que não possui raiz latina], proibido durante a ditadura franquista, que ouvia a um dos seus avôs, quando era criança.




1.

Estava na caixa de correio hoje de manhã. Teve, por isso uma profusa distribuição.
Trata-se, no entanto, de uma publicação semi-apócrifa. Ainda que atribuída à Câmara Municipal de Beja, a "Programação em Destaque" diz respeito apenas a três equipamentos culturais (por sinal todos integrados na Divisão de Cultura). Faltam, por exemplo, atividades da Divisão de Turismo e Património, como as realizadas pela Bedeteca ou no Centro de Arqueologia e Artes (no site da CMB designado por "Arqueologia de Artes"), como é o caso da exposição dedicada a Mariana Alcoforado, inaugurada no passado dia 16,
Alguns aspetos se destacam nesta publicação :
- insistir na realização de espetáculos musicais no Centro Unesco, "vizinho" do Pax Julia, onde há vários espaços vocacionados para esse fim (Monks na Meia Praia / Fernando Barroso);
- divulgar espetáculos de forma incompleta - "Beja dá-te palco", com que artista/grupo?;
- divulgar eventos de forma redutora - "Festival das Marias", de 17 a 21 (quando terá lugar, em Beja, de 4 a 28).
Para além deste amadorismo confrangedor, registo para este pormenor (ou pormaior?): "Dia 21 ... momento músical (sic) com ..."
E, se há responsabilidades políticas (que, obviamente, não me cabe questionar), há uma questão que fica no ar : qual o papel da Chefe de Divisão de Cultura (tão bem cotada aquando da realização dos "famosos" concursos), na elaboração deste documento (uma vez que é exclusivo dessa estrutura orgânica da CMB)?
26 de setembro de 2023


sexta-feira, 14 de julho de 2023

Vitória(s) de Pirro.

 

“ Conta-se que, a uma pessoa que o felicitava pelo seu triunfo [contra os romanos], Pirro [séc. IV/III a.C] respondeu: ‘Se alcançarmos outra vitória semelhante a esta, estaremos irremediavelmente perdidos. “
Estas palavras são de Plutarco (séc. I/II), no volume da sua obra Vidas Paralelas, dedicado ao rei do Épiro e da Macedónia e a Caio Mário (séc. II/I a.C), general e político romano.
Ao lermos, nas últimas semanas, alguns comentários sobre os concursos para a recuperação do IP8, lembramo-nos desta vitória militar, com uma significativa diferença: enquanto Pirro evoca a sua vitória prenunciando derrotas, esses comentários, ainda que se refiram à “… maior obra de estradas do PRR…”, não fazem esquecer derrotas passadas, no que às acessibilidades diz respeito.
Começando pelo IC27, que se inicia em Castro Marim e que deveria terminar no IP2, perto da Trindade, numa distância de cerca de cem quilómetros, servindo, não só esse concelho algarvio, como também os de Alcoutim, Mértola e Beja, melhorando as ligações para Lisboa e para o Norte, podemos afirmar que se trata de uma obra que foi deixada para as calendas gregas. Em agosto de 2005, ano em que foi concluída a primeira fase (33 quilómetros), foi apresentado o estudo de impacto ambiental, que incluía várias hipóteses do troço a construir até ao IP2 (esse estudo fora encomendado em 2001 pelo valor de 83 mil contos, 610 mil euros em 2023). Em
2012, sete anos depois, sem qualquer obra efetuada, uma fonte do governo de então anunciava no Expresso que o troço que faltava “encontra-se assegurado pela EN 122” e que “face à reduzida procura (…) considera-se que a infraestrutura rodoviária existente responde às necessidades existentes (sic)”.
Ou seja, revertia-se uma decisão há muito tomada e assim continua até aos dias de hoje, tornando-se mesmo num não-assunto, face à ausência de debate sobre o tema. Entretanto, continuam os acidentes na EN 122.
A segunda derrota tem a ver com o fim das ligações ferroviárias diretas entre Beja e Lisboa. Desde 1864 (data da chegada do caminho-de-ferro a Beja) até 2004, a ligação era feita de forma indireta, já que a linha ia até ao Barreiro, onde se fazia, por barco, o transbordo para Lisboa. Em 2004, após a entrada em funcionamento da linha ferroviária na Ponte 25 de Abril (em 1999), iniciaram-se as ligações diretas entre Beja e Lisboa, em comboios intercidades rápidos e confortáveis. Em pouco mais de duas horas chegava-se à capital, fugindo ao desagradável transbordo. Diga-se que este benefício, além dos habitantes de Beja, abrangia os de Cuba, Alvito e Viana do Alentejo, bem como dos concelhos limítrofes.
Pois bem, quando pensávamos que o progresso tinha finalmente chegado, eis que, em maio de 2010, com o início de obras de modernização (incluindo a eletrificação) do trecho entre Bombel e Évora, essa ligação é suspensa, para não mais voltar. Em seu lugar, a automotora até Casa Branca, onde se faz (novamente) um transbordo, este para o comboio que vem de Évora. Ou seja, Beja, de estação central na ligação Algarve-Barreiro/Lisboa, deu lugar à estação inicial de um novo ramal, para uma ligação regional eufemisticamente designada por “intercidades”.
Para além desta desvalorização da ferrovia, já no final de 1989 tinha sido encerrado o Ramal de Moura e, no final de 2011 encerrada a ligação Beja-Funcheira, terminando assim com a ligação ferroviária ao Algarve, inaugurada em 1 de julho de 1889.
Não cabe neste artigo a descrição de tudo o que se passou desde o dia 7 de janeiro de 2011, quando a CP anunciou, em comunicado para a LUSA, o fim da ligação direta Beja-Lisboa e o novo transbordo, a realizar em Casa Branca. A partir de uma reunião pública realizada no dia 18 desse mês, na Biblioteca Municipal, deu-se início a um movimento cívico ímpar em Beja, que mobilizou, sob as mais diversas formas, milhares de cidadãos, para a defesa da continuação ligação ferroviária direta.
As mais recentes notícias não auguram melhorias tão cedo. Deixando de lado o surreal anúncio de uma linha de alta velocidade que passará por Beja… em 2050 (sic), a eletrificação do troço Beja-Casa Branca já vai na sua segunda versão, com a conclusão das obras, inicialmente prevista para finais de 2027, “atrasada” em mais um ano. Mas, como recentemente foi título no jornal Público, “Ferrovia 2020 com menos de metade do investimento executado”, significando isto que, dos 24 troços com obras previstas neste plano, apenas 6 estão concretizados, num atraso de… quase 27 mil dias (“… equivalente a 76 anos …”). Isto significa que eletrificação lá para finais de 2028 poderá não passar de mais um sonho adiado.
Terceira derrota: a A26, Sines-Beja, com ligação, em Grândola Sul, à A2, Lisboa-Algarve. Tal como aconteceu com a conclusão do IC27, também a A26 irá para o caixote do lixo, não faltando também nesta história o seu momento surreal, hilariante e criativo, quando um alto responsável político regional afirmou, no rescaldo de uma reunião com o ministro Pedro Nuno Santos, que não teremos para já a A26, mas sim “… uma semi-autoestrada (…) o que é ótimo para nós …” (sic). 
Tal como no anúncio da eletrificação, também da requalificação do IP8 (a que o autarca atrás se referia) nãocomeçou da melhor maneira: o concurso do troço da EN 259, entre a rotunda da Malhada Velha e Ferreira do Alentejo já vai na segunda versão, enquanto o concurso do troço da EN 121, entre Ferreira e Beja ainda não foi lançado. Com o primeiro a prever obras com a duração de 540 dias, talvez o “novo” IP8 (que, abono da verdade, devia rebatizado como IC) consiga estar concluído até final de 2026, quando terminar o prazo do PRR, onde se integra (se, por milagre, não houver derrapagens dos prazos). Entretanto, ao lado desta “semi-autoestrada”, ficarão campos esventrados e uma verdadeira “arqueologia rodoviária”, onde não faltam obras de arte (no seu duplo significado), algumas delas decoradas com ninhos de cegonha. Uma verdadeira “arte na planície”, com milhões de euros deitados fora (aproveitam-se as variantes de Figueira dos Cavaleiros e Beringel, há muito aguardadas), em expropriações e obras inacabadas ad aeternum. Para concluir, como corolário destas “vitórias de Pirro”, fica a história fica a tragédia (ou comédia?) dos 14 quilómetros da A26 construídos entre a A2 e a nova rotunda com a EN 121, que estiveram mais de dois anos por abrir, por falta de portagens, perante o ensurdecedor silêncio de responsáveis políticos regionais e, onde, mais uma vez, tiveram de ser algumas iniciativas de cidadãos a pôr o dedo na ferida e a denunciar tão absurdo atraso.

14 de julho de 2013