Arquivo Fotográfico do Diário do Alentejo

domingo, 29 de julho de 2012

A família Victoria – raízes alentejanas no sul do Brasil.


Nos países com uma história mais recente, fruto da colonização de povos oriundos de várias partes do mundo ( como é o caso, por exemplo, dos Estados Unidos e do Brasil ), existe, por parte dos seus habitantes, uma grande vontade em conhecer as suas raízes. Este fenómeno é menos comum nos países como Portugal, com uma história mais longa, e em cujo território se estabeleceram povos tão diversos como os romanos, os visigodos ou os muçulmanos.
A não ser alguns descendentes de famílias nobres, dificilmente qualquer português conseguirá ir muito longe na sua genealogia, isto se conseguir encontrar os registos paroquiais dos seus antepassados mais remotos.
Há algum tempo, numa pesquisa efectuada na internet, tive conhecimento da existência de um blogue intitulado “Família Victoria” ( http://familiavictoria.blogspot.pt/ ), da autoria de um cidadão brasileiro, Arthur Victoria da Silva, natural e residente no Rio Grande do Sul, o estado mais meridional do Brasil.
Neste blogue, como o nome indica, procura-se reconstituir a família Victoria, desde a sua origem, até à actualidade, reconstituição essa acompanhada por vários episódios marcantes ao longo dos quase 230 anos da sua existência.
De facto, segundo informações recolhidas por Arthur Victoria, a família teve origem no casamento, em 1783, na localidade do Estreito, nesse estado, de Francisco José de Santa Victoria com Ana Joaquina de Jesus.
A noiva era descendente de açorianos, o que não é de estranhar, visto serem originários dessas ilhas atlânticas muitos dos povoadores dessa parte do Brasil, sobretudo na segunda metade do século XVIII. Há quem até considere os açorianos como o povo mais importante na colonização do Rio Grande do Sul, e talvez não seja por acaso que um dos mais importantes prémios culturais desse estado, atribuído pela prefeitura da capital, Porto Alegre, tenha precisamente o nome de “Açorianos”.
Quanto ao noivo, de acordo com o que Arthur Victoria escreveu no seu blogue “… deve ter sido militar que lutou contra os espanhóis [guerras pelo controle de territórios nas actuais fronteiras do Brasil e do Uruguai] e resolveu estabelecer-se no Estreito”. O mais curioso, no entanto, é a sua origem. Citando de novo o blogue, “Francisco José de Santa Victoria, conforme registros de nascimentos de seus herdeiros, era nascido na Freguesia de Santa Victoria, em Beja, Portugal”, vindo daí o apelido que iria dar origem à família.
Família que, diga-se em abono da verdade, foi bastante numerosa, começando neste casal, que teve 10 filhos que, por sua vez, vieram igualmente a reproduzir-se também em quantidades apreciáveis. Ainda que hoje haja descendentes dessa família espalhados em várias partes do Brasil, a grande maioria radicou-se em localidades gaúchas, nomeadamente em Capão do Leão, município com cerca de vinte e cinco mil habitantes, “emancipado” há apenas trinta anos da cidade vizinha de Pelotas. Um dos membros da família – Getúlio Victoria – exerceu por duas vezes as funções de prefeito desse município, em 1985 e em 1993.
Para completar o puzzle, faltava apenas a confirmação da data (que se presume ser 1756) e o local do nascimento do alentejano que deu origem a esta família, o que me foi solicitado por Arthur Victoria.
Só que, infelizmente, nem no Arquivo Distrital de Beja, nem no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, se encontram os livros dos registos paroquiais de 1731 a 1771. Existe um hiato, não se podendo comprovar os registos de nascimentos, casamentos e óbitos da freguesia de Santa Vitória nesse período.
Ficou, assim, por provar, a verdadeira origem de Francisco José, o que não invalida a hipótese da existência de raízes alentejanas na família Victoria, fundada no século XVIII, no estado brasileiro do Rio Grande do Sul e que, periodicamente, se reúne para confraternizar.
27 Julho





Encontro dos Victoria, em 15 de Abril de 2010 / fotos de Idylio Roberto :




sexta-feira, 6 de julho de 2012

Triste espectáculo.


No programa de História do 7º Ano de Escolaridade, os alunos estudam a democracia em Atenas, no século V aC. Democracia imperfeita, é certo (assente numa sociedade esclavagista e com as mulheres com um papel secundário – que Chico Buarque tão bem retratou na canção “Mulheres de Atenas”), mas que leva os jovens estudantes a descobrir, não só o seu significado (poder do povo), mas também o da palavra política – governo da polis/cidade estado).
E é na transposição desses conceitos para a história contemporânea do nosso país que, invariavelmente, este último conceito surge associado, nas palavras dos alunos, a um conjunto de práticas nada abonatórias para os políticos – aqueles que se dedicam a essa tão nobre quanto desacreditada função. E vêm à baila frases como “são todos iguais”, “só querem é encher-se”, “criam tachos para familiares e amigos”, etc.
Não é fácil desmontar tais preconceitos, reproduzidos pela opinião pública, alimentados por uma certa comunicação social e, pior do que isso, fomentada por práticas de políticos que, escudados pelo exercício de cargos públicos, dão esses maus exemplos que, injustamente, acabam por atingir aqueles que têm uma conduta séria e irrepreensível, enquanto eleitos pelo povo que representam.
Associada a essas práticas menos sérias (e até, em alguns casos, ilegais), existe ainda a ideia de uma certa impunidade, quer pela inexistência de uma débil opinião pública, que se mostra incapaz de uma censura que leve ao afastamento de quem as executa, quer pela sensação de que a própria justiça se mostra impotente para condenar as ilegalidades cometidas.
É claro que o surgimento de casos e nomes na comunicação social, não significa, necessariamente, crime e castigo, mas não podemos ignorar que situações como BPN, Freeport, submarinos, Face Oculta, associados a políticos como Dias Loureiro, Sócrates, Duarte Lima, Armando Vara, Isaltino Morais, entre outros, deixam no ar a suspeita de uma certa promiscuidade entre negócios e política, alicerçada no facto de alguns desses nomes, sendo originários de famílias modestas, em poucos anos atingiram patamares de riqueza incompatíveis com os vencimentos auferidos nos cargos políticos exercidos.
Perante essas situações, a resposta dos órgãos judiciais tem revelado uma incapacidade confrangedora, o que leva as pessoas a concluírem que há dois pesos e duas medidas, quando se trata de aplicar a justiça. Pior do que isso, fica a sensação de que os que exercem esses órgãos, nomeadamente os mais elevados – Procurador Geral da República e Presidente do Supremo Tribunal de Justiça  - tomaram partido, deixando de lado a imparcialidade exigida. Já para não falar das famosas prescrições, que acabam por ilibar “na secretaria” aqueles que já tinham sido condenados por crimes comprovados.
Não bastavam estas desconfianças, eis que surgem também notícias sobre ligações perigosas entre os serviços secretos (que deveriam estar acima de quaisquer suspeitas), política, negócios e sociedades secretas, que não abonam nada a favor da credibilidade dessas entidades.
Perante este rosário de situações nada democráticas, casos como o das habilitações académicas aparentemente forjadas – ontem Sócrates, hoje Relvas, amanhã logo se verá – surgem quase como “normais”, justificadas por uma certa ideia muito divulgada de que os “espertos” são os que triunfam, elevando ao topo a teoria do mérito do “chico-espertismo”, tão do agrado de certas mentes ultra liberais.
Enquanto isso, alguns persistem em atirar-nos areia para os olhos, pensando que engoliremos sem reagir todas as suas mistificações. Só assim se percebem as afirmações de Carlos Zorrinho, ao elogiar o “sentido de responsabilidade” do deputado Ricardo Rodrigues, que se demitiu da direcção do grupo parlamentar do PS, na sequência da condenação pelo furto dos gravadores dos jornalistas da revista Sábado.
Como se esse “sentido de responsabilidade” não fosse inerente a quem é eleito, quer para deputado, para presidente de junta de freguesia ou para presidente da república e fosse preciso esperar por uma decisão judicial para se tomar uma posição que, perante tão degradante episódio, há muito deveria ter sido tomada.
São todos estes (maus) exemplos que levam os jovens alunos de 12/13 anos a achar a política como um espectáculo, abrilhantado em períodos eleitorais por festas, com a participação especial de emigrantes africanos e orientais, para encher plateias e com a participação de actores cuja principal função é debitar promessas, por vezes com novidades como a referência a “pilares”, não de betão mas de esferovite, que caem mal o vento sopra um pouco mais forte.
Felizmente que a política não é apenas feita deste (triste) espectáculo e que muitos homens e mulheres continuam a servir a democracia recuperada com o 25 de Abril, em defesa dos seus ideais e dos seus princípios, independentemente das cores partidárias que vestem, em nome do povo que os elegeu.
Afinal, não foi isso que nos ensinou Péricles há 2500 anos?
6 Julho




É só mudar o escudo e a legenda e temos uma boa imagem a ilustrar o texto