No
programa de História do 7º Ano de Escolaridade, os alunos estudam a democracia
em Atenas, no século V aC. Democracia imperfeita, é certo (assente numa
sociedade esclavagista e com as mulheres com um papel secundário – que Chico
Buarque tão bem retratou na canção “Mulheres de Atenas”), mas que leva os
jovens estudantes a descobrir, não só o seu significado (poder do povo), mas
também o da palavra política – governo da polis/cidade estado).
E é
na transposição desses conceitos para a história contemporânea do nosso país
que, invariavelmente, este último conceito surge associado, nas palavras dos
alunos, a um conjunto de práticas nada abonatórias para os políticos – aqueles
que se dedicam a essa tão nobre quanto desacreditada função. E vêm à baila
frases como “são todos iguais”, “só querem é encher-se”, “criam tachos para
familiares e amigos”, etc.
Não é
fácil desmontar tais preconceitos, reproduzidos pela opinião pública,
alimentados por uma certa comunicação social e, pior do que isso, fomentada por
práticas de políticos que, escudados pelo exercício de cargos públicos, dão
esses maus exemplos que, injustamente, acabam por atingir aqueles que têm uma
conduta séria e irrepreensível, enquanto eleitos pelo povo que representam.
Associada
a essas práticas menos sérias (e até, em alguns casos, ilegais), existe ainda a
ideia de uma certa impunidade, quer pela inexistência de uma débil opinião
pública, que se mostra incapaz de uma censura que leve ao afastamento de quem
as executa, quer pela sensação de que a própria justiça se mostra impotente
para condenar as ilegalidades cometidas.
É
claro que o surgimento de casos e nomes na comunicação social, não significa,
necessariamente, crime e castigo, mas não podemos ignorar que situações como
BPN, Freeport, submarinos, Face Oculta, associados a políticos como Dias
Loureiro, Sócrates, Duarte Lima, Armando Vara, Isaltino Morais, entre outros,
deixam no ar a suspeita de uma certa promiscuidade entre negócios e política,
alicerçada no facto de alguns desses nomes, sendo originários de famílias
modestas, em poucos anos atingiram patamares de riqueza incompatíveis com os
vencimentos auferidos nos cargos políticos exercidos.
Perante
essas situações, a resposta dos órgãos judiciais tem revelado uma incapacidade
confrangedora, o que leva as pessoas a concluírem que há dois pesos e duas
medidas, quando se trata de aplicar a justiça. Pior do que isso, fica a
sensação de que os que exercem esses órgãos, nomeadamente os mais elevados –
Procurador Geral da República e Presidente do Supremo Tribunal de Justiça - tomaram partido, deixando de lado a
imparcialidade exigida. Já para não falar das famosas prescrições, que acabam
por ilibar “na secretaria” aqueles que já tinham sido condenados por crimes
comprovados.
Não
bastavam estas desconfianças, eis que surgem também notícias sobre ligações
perigosas entre os serviços secretos (que deveriam estar acima de quaisquer
suspeitas), política, negócios e sociedades secretas, que não abonam nada a
favor da credibilidade dessas entidades.
Perante
este rosário de situações nada democráticas, casos como o das habilitações
académicas aparentemente forjadas – ontem Sócrates, hoje Relvas, amanhã logo se
verá – surgem quase como “normais”, justificadas por uma certa ideia muito
divulgada de que os “espertos” são os que triunfam, elevando ao topo a teoria
do mérito do “chico-espertismo”, tão do agrado de certas mentes ultra liberais.
Enquanto
isso, alguns persistem em atirar-nos areia para os olhos, pensando que
engoliremos sem reagir todas as suas mistificações. Só assim se percebem as
afirmações de Carlos Zorrinho, ao elogiar o “sentido de responsabilidade” do
deputado Ricardo Rodrigues, que se demitiu da direcção do grupo parlamentar do
PS, na sequência da condenação pelo furto dos gravadores dos jornalistas da
revista Sábado.
Como
se esse “sentido de responsabilidade” não fosse inerente a quem é eleito, quer
para deputado, para presidente de junta de freguesia ou para presidente da
república e fosse preciso esperar por uma decisão judicial para se tomar uma
posição que, perante tão degradante episódio, há muito deveria ter sido tomada.
São
todos estes (maus) exemplos que levam os jovens alunos de 12/13 anos a achar a
política como um espectáculo, abrilhantado em períodos eleitorais por festas,
com a participação especial de emigrantes africanos e orientais, para encher
plateias e com a participação de actores cuja principal função é debitar
promessas, por vezes com novidades como a referência a “pilares”, não de betão
mas de esferovite, que caem mal o vento sopra um pouco mais forte.
Felizmente
que a política não é apenas feita deste (triste) espectáculo e que muitos
homens e mulheres continuam a servir a democracia recuperada com o 25 de Abril,
em defesa dos seus ideais e dos seus princípios, independentemente das cores
partidárias que vestem, em nome do povo que os elegeu.
Afinal,
não foi isso que nos ensinou Péricles há 2500 anos?
6 Julho |
É só mudar o escudo e a legenda e temos uma boa imagem a ilustrar o texto |
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