Arquivo Fotográfico do Diário do Alentejo

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Museu Jorge Vieira


   



Há um ano foi reabriu o Museu Jorge Vieira, depois de muitos meses fechado, devido às condições precárias em que se encontrava, na Rua do Touro. Uns meses antes, sem saber que isso iria acontecer, escrevi nas páginas do Diário do Alentejo um artigo cujo título era apenas “Jorge Vieira” (29 de março de 2019). Nele, para além de uma pequena resenha histórica, vincava a necessidade da reabertura do museu, apontando, inclusivamente, alguns dos possíveis locais.

Dias depois, tive conhecimento da reabertura (provisória, foi-me dito) na Casa do Governador, no castelo. No dia 1 de setembro estive presente nessa reabertura, noticiada na imprensa local como tendo esse caráter provisório. O que se justificava, de resto, tendo em conta a exiguidade do espaço que apenas permite apresentar uma pequena parte do espólio doado ao município pelo consagrado artista.

Todavia, com o decorrer do tempo, algumas declarações do Presidente da Câmara, realçando o número de visitantes ao novo espaço e a sinalética implantada na entrada principal do castelo, prenunciam, em minha opinião (que até poderá não estar certa), que o atual executivo municipal estará satisfeito com a solução encontrada, que poderá passar de provisória a definitiva.

Isto poderá apenas ser uma conjetura e, ao invés, o museu será mesmo instalado num espaço mais amplo (Centro de Arqueologia e Artes, na Praça da República ?), que permita, não só a exposição de um maior número de obras do seu acervo, mas também a realização de um conjunto de atividades que referi no meu artigo de março de 2019:  “… para a realização de exposições temporárias, para o acolhimento de criadores (não só desta área) para residências artísticas, para a promoção de oficinas e ateliers e para a criação de um espaço para a exposição de obras de artistas locais…“ Este último aspeto, cada vez mais importante, foi, de resto, realçado por Jorge Serafim na última edição do Diário do Alentejo : “ Temos belíssimos artistas plásticos e fotógrafos, nascidos nesta terra, que não têm, aqui, um sítio para expor, perdendo-se assim a possibilidade de fortalecerem a relação umbilical com a cidade que os viu nascer “.

Reduzir este museu (como qualquer outro) à simples apresentação de uma coleção de obras de arte, por muito importante que seja, é redutor e não expressa de forma correta o que deve ser “…um bom projeto museográfico [que recupere] a memória e a obra de Jorge Vieira… “, tal como aconteceu durante muitos anos, desde a sua abertura em maio de 1995 (um ano depois da inauguração do Monumento ao Prisioneiro Político).




Parte do trabalho realizado desde essa altura encontra-se, aliás, bem retratado na excelente publicação da autarquia bejense publicada por ocasião do décimo aniversário do museu (1995-2005 Arte Contemporânea na Cidade de Beja). Nela encontram-se, não só as muitas exposições individuais e coletivas de artistas nacionais e locais, como as diversas atividades paralelas realizadas no âmbito do trabalho realizado pelo museu: conferências, apresentação de livros, sessões de poesia, ateliers, workshops, parcerias com instituições regionais e nacionais, para além do merecido destaque dado à Galeria Aberta (concurso iniciado no final da década de 90 do século, incluído no projeto artístico desenvolvido por Jorge Castanho, inexplicavelmente extinto após dezoito edições).

Esta é a real discussão que deverá existir acerca do futuro deste emblemático equipamento, que tem um importante lugar no chamado turismo cultural que se quer cada vez mais pujante na cidade e no concelho: criar as condições para que se afirme como um verdadeiro museu, com todas as valências associadas, com uma importante componente formativa e educativa que promova a chamada literacia em artes, integrado em redes de museus locais e regionais, que seja referenciado a nível nacional, ou manter os atuais figurino e local, com base numa base meramente quantitativa (o número de visitantes, que resulta, sobretudo do local onde está instalado)?

Não sei se esta discussão terá ou não lugar. Por outro lado, como escrevi há um ano e meio, desconheço as intenções do executivo municipal mas, se a decisão passar por transformar o alegadamente provisório em irreversível definitivo, então faço desde já uma sugestão : que, em vez de Museu Jorge Vieira, se use Mostra das Obras ou Exposição Permanente das Obras de Jorge Vieira, na verdade o que neste momento existe.


4 setembro 2020