Há um ano foi reabriu o Museu Jorge Vieira, depois de muitos meses fechado, devido às condições precárias em que se encontrava, na Rua do Touro. Uns meses antes, sem saber que isso iria acontecer, escrevi nas páginas do Diário do Alentejo um artigo cujo título era apenas “Jorge Vieira” (29 de março de 2019). Nele, para além de uma pequena resenha histórica, vincava a necessidade da reabertura do museu, apontando, inclusivamente, alguns dos possíveis locais.
Dias depois,
tive conhecimento da reabertura (provisória, foi-me dito) na Casa do
Governador, no castelo. No dia 1 de setembro estive presente nessa reabertura,
noticiada na imprensa local como tendo esse caráter provisório. O que se
justificava, de resto, tendo em conta a exiguidade do espaço que apenas permite
apresentar uma pequena parte do espólio doado ao município pelo consagrado
artista.
Todavia, com o
decorrer do tempo, algumas declarações do Presidente da Câmara, realçando o
número de visitantes ao novo espaço e a sinalética implantada na entrada
principal do castelo, prenunciam, em minha opinião (que até poderá não estar
certa), que o atual executivo municipal estará satisfeito com a solução
encontrada, que poderá passar de provisória a definitiva.
Isto poderá
apenas ser uma conjetura e, ao invés, o museu será mesmo instalado num espaço mais
amplo (Centro de Arqueologia e Artes, na Praça da República ?), que permita,
não só a exposição de um maior número de obras do seu acervo, mas também a
realização de um conjunto de atividades que referi no meu artigo de março de
2019: “… para a realização
de exposições temporárias, para o acolhimento de criadores (não só desta área)
para residências artísticas, para a promoção de oficinas e ateliers e para a
criação de um espaço para a exposição de obras de artistas locais…“ Este último
aspeto, cada vez mais importante, foi, de resto, realçado por Jorge Serafim na
última edição do Diário do Alentejo : “ Temos belíssimos artistas
plásticos e fotógrafos, nascidos nesta terra, que não têm, aqui, um sítio para
expor, perdendo-se assim a possibilidade de fortalecerem a relação umbilical
com a cidade que os viu nascer “.
Reduzir este museu (como qualquer outro) à simples
apresentação de uma coleção de obras de arte, por muito importante que seja, é
redutor e não expressa de forma correta o que deve ser “…um bom projeto
museográfico [que recupere] a memória e a obra de Jorge Vieira… “, tal como
aconteceu durante muitos anos, desde a sua abertura em maio de 1995 (um ano
depois da inauguração do Monumento ao Prisioneiro Político).
Parte do trabalho realizado desde essa altura
encontra-se, aliás, bem retratado na excelente publicação da autarquia bejense
publicada por ocasião do décimo aniversário do museu (1995-2005 Arte
Contemporânea na Cidade de Beja). Nela encontram-se, não só as muitas
exposições individuais e coletivas de artistas nacionais e locais, como as
diversas atividades paralelas realizadas no âmbito do trabalho realizado pelo
museu: conferências, apresentação de livros, sessões de poesia, ateliers, workshops,
parcerias com instituições regionais e nacionais, para além do merecido
destaque dado à Galeria Aberta (concurso iniciado no final da década de 90 do
século, incluído no projeto artístico desenvolvido por Jorge Castanho, inexplicavelmente
extinto após dezoito edições).
Não sei se esta discussão terá ou não lugar. Por outro
lado, como escrevi há um ano e meio, desconheço as intenções do executivo
municipal mas, se a decisão passar por transformar o alegadamente provisório em
irreversível definitivo, então faço desde já uma sugestão : que, em vez de
Museu Jorge Vieira, se use Mostra das Obras ou Exposição Permanente das Obras
de Jorge Vieira, na verdade o que neste momento existe.
4 setembro 2020
Sem comentários:
Enviar um comentário