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Bandeirante - Praça António Tavares - Beja
Foto : blogue Beja Hoje
Foto : blogue Beja Hoje
Voltando a Raposo Tavares, o Diário do Alentejo abordou, na sua última
edição, a questão da destruição de estátuas em vários países, na sequência do
brutal assassinato de George Floyd. Não adiantarei nada, quer ao artigo de
Carlos Pereira, que narrou alguns dos acontecimentos que têm ocorrido em vários
países, quer à análise de Santiago Macias, com a qual estou, globalmente, de
acordo.
Ninguém pode negar as políticas colonialistas dos “vencedores”, às
quais estão associadas violentas práticas esclavagistas e racistas. Mas não se
pense que agora, em pleno século XXI, são os “ajustes de contas” com estátuas
de confederados ou de bandeirantes que podem mudar mentalidades. Pelo
contrário, no limite, alguns desses atos dão argumentos a personagens que
cultivam o racismo, como Trump ou Bolsonaro.
Por exemplo, ainda que Raposo Tavares seja responsável por práticas de
extrema violência sobre os índios brasileiros, seria difícil para muitas
gerações de habitantes de Beja (e da região) assistir à retirada da sua
estátua, não só pela sua imponência, mas porque se habituaram à sua presença
naquele local há mais de 50 anos. Eu próprio, quando vim estudar para Beja aos
10 anos, habituei-me a conviver diariamente com aquela estátua, já que por aí
passava quando ia para a gare rodoviária apanhar o autocarro para a aldeia.
António Raposo Tavares - 1922 - Regimento
Raposo Tavares (Osasco - São Paulo)
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António
Raposo Tavares - 1922
Museu do
Ipiranga (Museu Paulista da Universidade de São Paulo).
Refira-se, por sinal, o aceso debate que tem ocorrido no Brasil, acerca
de um abaixo-assinado que visa a remoção da estátua de outro bandeirante, Borba
Gato, num bairro de São Paulo. De resto, já em 2016 essa estátua e um outro
gigantesco conjunto escultórico dedicado aos bandeirantes, também nessa cidade,
foram alvo de pichagens.
Bandeirante Borba Gato - Santo Amaro (São
Paulo) - 1963
No Ensino Secundário, então, nem se fala. Apenas para os alunos de
Humanidades e alguns (poucos) de Economia, onde a História é obrigatória ou
opção, respetivamente. Há três anos, num debate onde estava o secretário de
estado João Costa, coloquei-lhe a questão do conhecimento histórico para todos
os alunos do Secundário (tema de que se falou algum tempo depois, mas que
rapidamente se esqueceu). A resposta do governante foi que essa questão fora colocada
por razões corporativas, que visava a atribuição de mais horas à disciplina,
criando mais lugares para os respetivos docentes. Sem comentários.
Por coincidência, na véspera da saída do Diário do Alentejo que abordou
o tema, a revista Sábado trazia um interessante artigo intitulado “O museu que
guarda estátuas incómodas”. Nela, Urte Evert, a diretora desse museu afirma:
“Os problemas da História que moldaram o presente não desaparecem com a remoção
dos símbolos. Por vezes retiram-se os símbolos para não se lidar com os
problemas reais, racismo, misoginia, antissemitismo (…) fazer do terrível
passado objeto de discussão e criarmos um presente e futuro melhores”.
17 junho 2020 (2ª parte) |
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