Arquivo Fotográfico do Diário do Alentejo

domingo, 18 de outubro de 2015

E, um dia, o depósito vem abaixo. Contributo para a discussão pública deste assunto.

Deixemos de lado o acessório (os títulos: "Beja como ela sempre foi", na linha do "Há séculos que já devia estar feito [o IP8]" e concentremo-nos no essencial. 
Recebi na RuralBeja o folheto cuja capa reproduzo, onde o presidente da câmara escreve que "...é imperioso avançar com as obras (...) designadamente a demolição do depósito de água, que existe no local, construído sobre as estruturas do templo do fórum romano." Esta afirmação é complementada pelos depoimentos escritos de um conjunto de especialistas (quase todos "politicamente insuspeitos") nas áreas da História, do Património, da Arqueologia e do Turismo, praticamente unânimes na defesa dessa demolição, de modo a permitir o desenvolvimento dos trabalhos arqueológicos que decorrem nesse local, nomeadamente no templo mais pequeno (segundo Conceição Lopes, da época da fundação da cidade, "no início do último quartel do século I a.C.").
Não estando em causa esta decisão, cientificamente justificada e politicamente legítima, há, no entanto algumas questões que estão em aberto e que os cidadãos que participaram do debate público promovido pelo blogue Alvitrando, no dia 11 de fevereiro deste ano (cujo cartaz se reproduz - e no qual primaram pela ausência os elementos do executivo municipal em regime permanência) gostariam de ver esclarecidas:
- esse depósito é ou não necessário ao abastecimento de água à cidade?
- quanto vai custar a sua demolição?
- qual o método que vai ser utilizado para realizar essa demolição?
- como vão ser escoadas as toneladas de entulho resultantes da demolição?
- que garantias existem que comprovem a existência das estruturas do templo que se encontram por baixo do depósito ( segundo informação da arqueóloga responsável pelos trabalhos, o templo estará a 8 metros de profundidade, dos quais 6 constituem a base do reservatório)?
- há financiamento para a execução de um projecto global (ambicioso e caro, certamente), e foi devidamente equacionada a relação custo-benefícios, estes em termos patrimoniais, culturais e turísticos?
- foi estudada pelo actual executivo municipal uma eventual recuperação do depósito (sem ter necessariamente que aceitar a proposta elaborada pelo anterior) enquadrando-o de forma harmoniosa no amplo espaço, que vai desde o logradouro do Conservatório à Rua da Moeda, e que corresponde a uma parte do Fórum romano?
Pessoalmente, tal como afirmei no citado debate público, não tenho uma posição completamente formada (tal como o Florival Baiôa, no texto incluído no folheto editado pela CMB, o único dos depoentes que coloca as duas hipóteses): não me choca que o depósito venha abaixo, se se confirmar a possibilidade de colocar à mostra as estruturas do templo sobre o qual assenta, contribuindo para a valorização do nosso património histórico-cultural, mas gostaria que as questões acima colocadas (e outras) pudessem ser respondidas de forma clara, para que não se cometam erros de forma irreversível (e que, ainda por cima, não serão baratos).

 

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