Arquivo Fotográfico do Diário do Alentejo

domingo, 5 de julho de 2015

Opções discutíveis : contratar fora o que se pode fazer (e sempre se fez) com gente e meios da casa.

Primeira nota : contrariamente ao que aconteceu há alguns anos (apenas no anterior mandato autárquico), este ano o Pax Julia não tem programação nos meses de verão. É uma opção correcta, seguida em 99,9% dos teatros, nacionais ou municipais, públicos ou privados. A temporada regular de um teatro deverá ser de nove e meio/dez meses, já que  calor convida à rua e não será fácil levar as pessoas para espaços fechados, por melhor que seja o sistema de ar condicionado. 

Segunda nota : pelo motivo apontado anteriormente, cada vez mais se assiste a uma programação de rua, que se estende de norte a sul do país, com a música, o teatro, a dança, o cinema. Autarquias, associações, companhias, renderam-se definitivamente a essa evidência (incluindo o "nosso" teatro de ópera, o São Carlos, com o seu Festival ao Largo, que cumpre este ano a sua sétima edição).


Terceira nota : Beja deve ter sido dos primeiros municípios do país com esta programação de verão, através da ANIBEJA, que se iniciou nos anos 80 e se estendeu ao longo de mais de duas décadas (1). Com uns anos de interrupção, em que o Município optou por uma programação centrada no Jardim Público, quando quis revitalizar esse espaço (Noites no Jardim e Cine Jardim), a Anibeja foi, entretanto substituída, já no actual mandato autárquico, pelas Noites ao Fresco / Beja Acontece.

Quarta nota : ao longo dos anos, esta programação, que tinha apenas lugar na cidade foi-se estendendo a outros lugares, aldeias e vila do concelho, através da parceria da Câmara Municipal com as várias freguesias rurais.
          

Quinta nota : a programação, produção e realização das várias iniciativas da Anibeja/Noites no Jardim, sempre foi da responsabilidade dos trabalhadores do Sector da Cultura da Câmara Municipal, tal como as restantes actividades dessa área, que decorriam ao longo do ano.

Sexta nota : com a reabertura do Pax Julia, em 2005, que incluiu, naturalmente, a contratação de alguns trabalhadores para esse sector da autarquia, nomeadamente para a área técnica, foi constituída uma equipa polivalente que, embora estivesse mais ligada ao teatro, assegurava todo um conjunto de actividades, quer inseridas nesse sector - 25 de Abril, Festas da Cidade (no feriado municipal), Anibeja, passagem de ano, etc - quer da responsabilidade de outros serviços da autarquia - Biblioteca, Casa da Cultura, Centro do Lidador, entre outros - onde se destaca, por exemplo, o admirável trabalho realizado nas Palavras Andarilhas.

Sétima nota : o que se disse na nota anterior só era possível pela existência de uma equipa formada por trabalhadores (de todas as áreas) competentes, excelentes profissionais, dedicados, motivados, com autonomia e responsabilização nas tarefas de que eram incumbidos. Isto mesmo sempre foi reconhecido por todos quantos com eles trabalhavam - artistas, técnicos, produtores, agentes e, principalmente, pelo próprio público que assistia às várias iniciativas.
Oitava nota : assim, quando o Pax Julia encerrava as suas portas, normalmente em meados de Julho, esses trabalhadores asseguravam, com o mesmo empenhamento e profissionalismo, a programação dos meses de verão (que passou a contar, igualmente, com um vasto conjunto de recursos técnicos, proveniente do teatro). Isto sem deixarem, claro, de gozar as merecidas férias a que tinham direito (organizadas, claro, em função das necessidades).
Para relembrar, deixo aqui o "plágio" de uma página do blogue Aldeagar, com o programa da ANIBEJA de 2009 .
Cinema no Largo das Alcaçarias
dia 28 de julho de 2009

Nona nota : por tudo o que atrás foi escrito, é pois, com surpresa, que se assiste, pelo segundo ano consecutivo, à contratação de empresas externas para a realização da programação de verão, deixando de lado os recursos humanos e os meios técnicos que a autarquia dispõe e que tão bons resultados deram, ao longo dos anos. Será por desconhecimento dos actuais autarcas?
Décima nota : pelo que foi agora conhecido, na Agenda de Julho, o programa Beja Acontece inclui oito espectáculos na cidade, à noite, e mais três, ao sábado de manhã, na Portas de Mértola. A questão que se coloca é: não seria esse programa possível realizar com os meios próprios, ao invés de se contratar uma empresa (seja ela qual fôr)?  Isto aplica-se a Julho, como certamente aos outros meses.
Décima primeira nota : não se conhece o programa completo e o orçamento do Beja Acontece, mas as Noites ao Fresco já se sabe quanto custam, 41 mil euros mais iva (aprovado na última reunião de câmara). E, neste caso, a questão que se coloca tem a ver com os valores em causa. Embora se fale de 43 artistas/grupos e 13 projeções de cinema (o filme Alentejo Alentejo), trata-se de espectáculos com cachets certamente não muito elevados, pelo que é legítimo questionar o elevado custo deste evento. Além de que, como sempre aconteceu, as juntas de freguesia serem responsáveis por assegurar as refeições e outros aspectos logísticos. Por isso, mais uma vez se questiona se, em tempos de contenção, não seria mais razoável ser a própria Câmara Municipal a assegurar a realização desses eventos, em parceria, claro, com as juntas.
Décima segunda nota : para concluir, sublinhe-se uma aparente contradição nas opções que o actual executivo municipal toma. Para realizar obras de grande vulto, como a reparação de ruas, caminhos e estradas, que exigem avultados investimentos (como o que a EMAS realizou há pouco tempo), recursos humanos e outros meios técnicos e logísticos que a autarquia não tem neste momento, recorre-se à administração directa (ao contrário do que a grande maioria dos municípios faz), com os inevitáveis riscos que estão para vir; para a realização de uma programação de animação dos espaços públicos do concelho, muito menos exigente que o anterior, mesmo dispondo dos meios técnicos e humanos necessários, recorre-se à contratação externa, aumentando assim os custos da iniciativa. Ou seja, opções que, sendo legítimas, não deixam de ser discutíveis e questionáveis por parte dos cidadãos (como deve ser em democracia).

1) Para que não haja interpretações incorrectas, esclareço que, quando comecei a trabalhar no município, em 1996, já existia o Anibeja. Não quero, por isso, assumir a paternidade de algo que não me pertence.

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