Esta
é uma crónica diferente.
Uma
crónica que começa com uma reflexão sobre o seu próprio título.
Um
título que é apenas um verbo, um simples verbo da nossa língua.
Andarilhar,
eis o verbo que não parece verbo, tão inconsequente parece a sua conjugação :
eu andarilho, tu andarilhas, ele(a) andarilha…
Melhor
dizendo, um verbo que mais parece aqueles que o Mia Couto “inventa” e que nós,
só por vergonha, não usamos na língua que é a nossa, que é a dele, a que Pessoa
chamou um dia de nossa pátria.
Cervejar,
estrelinhar, praiar, que lindos verbos moçambicanos, os que definem uma cerveja
fresca, um céu estrelado no verão, ou uma praia de areias finas e águas
transparentes.
No dicionário,
andarilhar pode ser “andar de um lado para o outro”, mas também “vaguear”. Ou
ainda, diremos nós, participar, viver, sentir, as “Palavras Andarilhas”.
Lindo, este
título, para um encontro de afectos e de partilhas, que transforma Beja na
“Cidade dos Contos”.
Não em mais uma
“capital”, palavra já gasta de tão usada e abusada ( a última conhecida é a do
“frango do campo” ), mas na cidade que acolhe andarilhos do país e do mundo,
contadores, educadores ou apenas extasiados ouvintes de todas as idades.
Um encontro que
nos deixa orgulhosos, como naquele dia em que, na Fundação de Serralves, num
seminário sobre temas culturais, alguém que soube que éramos de Beja, deixou
públicos elogios às Andarilhas, à biblioteca que as acolhe, às pessoas que as
realizam e à cidade que as acarinha.
Porque as
Andarilhas nasceram no único local onde tal magia podia ter acontecido, numa
“biblioteca sem sono”, e porque a memória dos homens é curta e muitas vezes
injusta, não podemos nunca esquecer os seus três principais artífices: Cristina Taquelim, a alma mater das dez edições já realizadas e da que vai ter lugar
este ano; Figueira Mestre, o sonhador e desassossegado arquitecto da casa mãe,
inovadora e revolucionária; Carreira Marques, o autarca poeta que via a
Cultura, não como adorno ou como emblema para a lapela, mas como algo
importante para a formação dos cidadãos do concelho que dirigia.
Mas, tal como
Brecht escreveu nas “Perguntas do operário que lê”, quem constrói esta Tebas
dos nossos tempos, esta cidade do Serafim, do Fontinha, do Quiko, da Marina, do
Maurício, do Bakk, do Portillo, do Torrado, e de tantos outros, são também os
muitos outros operários das palavras, desde logo os incansáveis trabalhadores
da biblioteca e dos outros sectores da câmara municipal, aos voluntários que
dão o seu tempo a esta causa cultural.
Como aqueles,
artistas e público, que no passado dia 13 de julho se encontraram no Pax Julia,
para dar um fraterno Abraço às Andarilhas, mostrando, com esse acto o quanto
são necessárias à autoestima dos bejenses. Porque o seu prestígio não se
confina apenas às fronteiras deste nosso pequeno rectângulo, estendendo-se a
várias partes do mundo ( talvez não seja por acaso que a edição deste ano é
apoiada pela organização do Ano do Brasil em Portugal ), numa prova da sua
qualidade.
E é por tudo isto
que, no final deste mês, num novo espaço central – o Jardim Público – mais uma
vez todos os caminhos vão dar a Beja. Vamos, pois, andarilhar e, quem sabe,
estrelinhar numa noite quente, embalados pelos contos que, como os seus
mentores dizem, acontecem “… Porque acreditamos no contributo da
palavra, da literatura, da arte em geral para a formação do Homem
Novo….”.
3 Agosto |
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