A conclusão mais evidente é a apagada e vil tristeza da
oferta nacional (os quatro canais de sinal aberto), comparada com a
multiplicidade de canais dos nossos vizinhos (dez canais nacionais, um de
notícias, vários temáticos – música, natureza, infantil – e, sobretudo, os
regionais (Canal Sur e Canal Extremadura). Isto, no que respeita à televisão,
já que depois existe uma variedade de canais de rádio também apreciável.
A segunda conclusão que se retira, é o importante serviço
público prestado pelos canais regionais, que são fruto, em grande medida da
autonomia política que aqui ao lado se verifica. Do Canal Sur (que tem no ar
três canais), não falemos, dada a dimensão da grande Andaluzia, com os seus
mais de oito milhões de habitantes e a sua importante rede urbana, que a
colocam como uma das mais importantes regiões de Espanha.
Falemos, sim, do Canal Extremadura, porta-voz para o mundo
de uma pequena, pobre e ultraperiférica região há uns anos e que, graças
precisamente à autonomia, obtida em 1983, deixou esse estatuto, para se
transformar num território de progresso, respeitado dentro e fora das
fronteiras de Espanha.
Para além do entretenimento próprio da televisão, esse canal
aproxima e une os extremenhos, com os seus programas sobre a região, que vão
das touradas ao desporto (transmitem-se jogos dos clubes regionais, das 3ª e 2ª
divisões), passando pelo património natural e cultural e pelas notícias (da
política, da sociedade, dos mais pequenos burgos às suas cidades).
E foi num desse programas de notícias que, no passado
domingo, fiquei impressionado com a beleza exterior e a brancura e luminosidade
interiores do Parlamento dessa região, sedeado em Mérida, no antigo Hospital de
São João de Deus (o hospital dos pobres), construído no século XVIII e
recuperado para acolher essa instituição política.
Falava-se da inauguração da exposição de um importante
escultor emeritense e das obras de arte que ocupam os espaços desse edifício,
tornando-o num verdadeiro museu de arte. É prática corrente a realização de
exposições no Parlamento da Extremadura, bem como a aquisição e/ou doação de
obras dos artistas convidados.
Depois de ver e ouvir essa reportagem, não deixei de pensar
no estado de abandono e desleixo em que se encontram alguns dos edifícios mais
significativos da nossa cidade, comparando-os com a dignidade desse e de outros
aqui bem perto: há uns anos, numas férias de verão, desloquei-me
propositadamente a Málaga, para ver o Museu Picasso que, não tendo a dimensão
nem o espólio dos seus congéneres de Paris ou de Barcelona, se situa num edifício
do século XVI, alvo de uma recuperação exemplar, já premiada
internacionalmente.
Falo no edifício do Governo Civil, com as suas deficientes
condições, quer para os utentes dos vários serviços que aí se concentram, quer
para os trabalhadores desses serviços; falo do Museu Regional e do lamentável
estado a que vai chegando, fruto de posturas e decisões que têm condenado à
degradação esse magnífico edifício e o seu recheio; falo, finalmente (e numa
escala menor, é claro), da imagem de abandono do exterior da Biblioteca
Municipal, onde o branco das suas paredes há muito se transformou em cinzento,
nada compatível com o excelente trabalho que os seus funcionários aí continuam
a desenvolver.
São situações diferentes, mas que contrastam com os exemplos
de que falei e com muitos outros. Fruto, como dizia Carreira Marques, numa
entrevista na semana passada, sobre o estado do Museu, de opções políticas, que
colocam em causa um entendimento entre os municípios, com cerca de trinta anos,
que atribui ao Município de Beja o pagamento de 60% dos seus custos de
funcionamento (reduzido, em 2012, para 48%).
Outras fossem as opções e os milhares de euros gastos em
2011 em eventos efémeros de alguns dias (Beja Wine Night ou Beja Brava, por
exemplo) poderiam ser canalizados para a Assembleia Distrital, não se atingindo,
nesse ano, a dívida de 95 mil euros e não deixando chegar esse importante
equipamento cultural regional e nacional ao estado a que chegou.
Afinal, a Lei dos Compromissos é bem recente e não pode
servir de desculpa para tudo.
11 Maio |
Beja - Museu Regional |
Mérida - Parlamento da Extremadura |
Infelizmente é o país de direita que temos.
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