Arquivo Fotográfico do Diário do Alentejo

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Andarilhar.


Esta é uma crónica diferente.
Uma crónica que começa com uma reflexão sobre o seu próprio título.
Um título que é apenas um verbo, um simples verbo da nossa língua.
Andarilhar, eis o verbo que não parece verbo, tão inconsequente parece a sua conjugação : eu andarilho, tu andarilhas, ele(a) andarilha…
Melhor dizendo, um verbo que mais parece aqueles que o Mia Couto “inventa” e que nós, só por vergonha, não usamos na língua que é a nossa, que é a dele, a que Pessoa chamou um dia de nossa pátria.
Cervejar, estrelinhar, praiar, que lindos verbos moçambicanos, os que definem uma cerveja fresca, um céu estrelado no verão, ou uma praia de areias finas e águas transparentes.
No dicionário, andarilhar pode ser “andar de um lado para o outro”, mas também “vaguear”. Ou ainda, diremos nós, participar, viver, sentir, as “Palavras Andarilhas”.
Lindo, este título, para um encontro de afectos e de partilhas, que transforma Beja na “Cidade dos Contos”.
Não em mais uma “capital”, palavra já gasta de tão usada e abusada ( a última conhecida é a do “frango do campo” ), mas na cidade que acolhe andarilhos do país e do mundo, contadores, educadores ou apenas extasiados ouvintes de todas as idades.
Um encontro que nos deixa orgulhosos, como naquele dia em que, na Fundação de Serralves, num seminário sobre temas culturais, alguém que soube que éramos de Beja, deixou públicos elogios às Andarilhas, à biblioteca que as acolhe, às pessoas que as realizam e à cidade que as acarinha.
Porque as Andarilhas nasceram no único local onde tal magia podia ter acontecido, numa “biblioteca sem sono”, e porque a memória dos homens é curta e muitas vezes injusta, não podemos nunca esquecer os seus três principais artífices:  Cristina Taquelim, a alma mater das dez edições já realizadas e da que vai ter lugar este ano; Figueira Mestre, o sonhador e desassossegado arquitecto da casa mãe, inovadora e revolucionária; Carreira Marques, o autarca poeta que via a Cultura, não como adorno ou como emblema para a lapela, mas como algo importante para a formação dos cidadãos do concelho que dirigia.
Mas, tal como Brecht escreveu nas “Perguntas do operário que lê”, quem constrói esta Tebas dos nossos tempos, esta cidade do Serafim, do Fontinha, do Quiko, da Marina, do Maurício, do Bakk, do Portillo, do Torrado, e de tantos outros, são também os muitos outros operários das palavras, desde logo os incansáveis trabalhadores da biblioteca e dos outros sectores da câmara municipal, aos voluntários que dão o seu tempo a esta causa cultural.
Como aqueles, artistas e público, que no passado dia 13 de julho se encontraram no Pax Julia, para dar um fraterno Abraço às Andarilhas, mostrando, com esse acto o quanto são necessárias à autoestima dos bejenses. Porque o seu prestígio não se confina apenas às fronteiras deste nosso pequeno rectângulo, estendendo-se a várias partes do mundo ( talvez não seja por acaso que a edição deste ano é apoiada pela organização do Ano do Brasil em Portugal ), numa prova da sua qualidade.
E é por tudo isto que, no final deste mês, num novo espaço central – o Jardim Público – mais uma vez todos os caminhos vão dar a Beja. Vamos, pois, andarilhar e, quem sabe, estrelinhar numa noite quente, embalados pelos contos que, como os seus mentores dizem, acontecem “…  Porque acreditamos no contributo da palavra, da literatura, da arte em geral para a formação do Homem Novo….”.
3 Agosto







Memória 1

Memória 2



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