“O projecto de construção do lanço do Itinerário Principal
entre Alcoutim e Beja (IC27), prometido há quase duas décadas, acaba de ser
suspenso pelo Ministério da Economia. "A infra-estrutura existente [EN
122] responde às exigências existentes", foi a justificação apresentada
pela tutela aos deputados comunistas Paulo Sá e João Ramos…” https://www.publico.pt/2012/06/21
“A decisão [de construir a A26] foi “um equívoco técnico”, porque “o tráfego previsto não justificava a criação de uma autoestrada dispendiosa para ficar literalmente sem trânsito”, refere a EP, numa resposta por escrito a perguntas colocadas pela agência Lusa. “ https://visao.pt/lusa/2012-12-16
Ainda não estávamos refeitos das más decisões do ano anterior, descritas no artigo do DA do dia 24 de janeiro passado, eis que dois novos baldes de água fria nos atingem, desta vez no que respeita às ligações rodoviárias: a suspensão do troço que faltava no IC27 e da A26. E, se nas reuniões com os grupos parlamentares em julho de 2011, sobre a ferrovia, o argumento por parte dos deputados dos partidos que apoiavam o governo da altura (Luís Menezes, do PSD e Hélder Amaral, do CDS), foi a frase “não há dinheiro”, em 2012 as razões foram outras: enquanto os 66 quilómetros da estrada nacional 122, entre o IP2 e o km 33 do IC27 (troço aberto em 4 de julho de 2005) respondiam “às exigências existentes”, uma autoestrada entre Sines e Beja não teria o tráfego que a justificasse (em 2015, o antigo presidente da Estradas de Portugal, António Ramalho, referiria o número mínimo de 10 mil veículos/dia), razão pouco utilizada na construção de outras autoestradas por todo o país.
Em relação ao primeiro, o desfecho já era esperado, deitando,
assim, por terra, o desejo do então presidente da câmara de Alcoutim, Fernando
Amaral, perante o então secretário de estado Paulo Campos, aquando da abertura
do segundo troço dessa via: “O autarca apontou a ligação da
capital de concelho a Beja através do IC-27 como o próximo objectivo no que
respeita às acessibilidades…” https://www.rtp.pt/
, 4 julho 2005. As coisas pareciam estar bem encaminhadas, até porque um mês
depois desta cerimónia era publicado o estudo de impacto ambiental, com várias
alternativas, “…entre as proximidades de Alcoutim e as proximidades de Trindade
(Albernoa), com uma extensão total de aproximadamente de 61 km.” https://siaia.apambiente.pt/ , agosto
2005. Em 2012 era, pois, dado o golpe final, já que, em 2025, vários governos e
autarcas locais depois, quase já não se fala da conclusão do IC27. Resta-nos,
como consolação, as obras na ponte sobre a ribeira do Vascão, antes que, um
dia, essa ligação entre o Alentejo e o Algarve viesse abaixo, ou a sinalização
para evitar atropelamentos do lince ibérico.
Já quanto à A26, a sua história tanto pode ser encarada como mais um contributo para o anedotário nacional, como um processo kafkiano ou como a (não) aplicação exemplar da chamada “coesão territorial” pelos governantes nacionais, perante o imobilismo/conformismo/subserviência política de eleitos locais e regionais.
Depois de iniciada
em 2010, com expropriações, terraplanagens e muitas obras, eis que, 35 milhões
de euros depois (referidos na citada resposta da EP à agência Lusa), tudo para,
deixando na paisagem alentejana um rasto bem visível no Google Maps, do Roncão
(Santiago do Cacém) à A2 (Grândola Sul) e desta à rotunda do aeroporto de Beja,
onde se destacam os viadutos e outras obras de arte rodoviárias, algumas já
icónicas, como os dois pilares que servem de ninho às cegonhas.
E terá sido,
entre outros motivos, o impacto visual da inacabada ponte sobre o rio Sado (e antes
que se tornasse mais uma peça da nova “arqueologia rodoviária) que levou à
construção de 13 quilómetros entre a A2 e a EN259, na chamada rotunda da
Malhada Velha (nome do monte próximo), obra iniciada em 2015, terminada em
2017, mas que só abriria ao trânsito três anos depois. Mais um escândalo a
contribuir para o anedotário referido, desta vez por alegadas “divergências”
(ou incompetências?) entre as entidades envolvidas no processo de adaptação das
portagens de ligação da A26 à A2. E, mais uma vez, foram também ações dos
cidadãos que chamaram a atenção para esta incompreensível situação, como a
tentativa (impedida pela GNR) de percorrer de bicicleta esse trecho, no dia 24
de Agosto de 2019, anunciada assim pelo Diário do Alentejo do dia anterior: “Protesto: Pela abertura da A26 pedalar, pedalar.”
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Foto daqui: https://www.publico.pt/2019/08/26/local/noticia/bicicleta-tambem-reivindica-abertura-trafego-a26-1884513 |
Que conclusões podemos,
então, tirar e que questões colocar, sobre estas decisões?
Em primeiro
lugar que, ao aproveitar verbas do PRR, o poder central vai fazer aquilo que
não fez ao longo de muitos anos e que era da sua responsabilidade: a
beneficiação dessas duas estradas nacionais (entre outras), que se foram
degradando com o cada vez maior tráfego de viaturas, nomeadamente de pesados.
Que tipo de
beneficiação será esta? Mais profunda, com a eliminação de pontos negros, como
alguns cruzamentos (já não falando nestes, desnivelados, como no IP2 ou no
IC27), ou minimalista, com pisos novos e pouco mais? E ao construir as
variantes citadas nos troços previstos para a autoestrada, não se está a pôr em
causa a construção desta?
Entretanto, a ligação
Sines-A2, prevista para a o nó de Grândola Sul passou para Grândola Norte,
aumentando em 15 quilómetros (pagos) entre Beja e Sines, pela A2.
É por isso,
legítimo que se coloque, mais uma vez a questão: vão ou não ser concluídos os
33 quilómetros que faltam para a ligação Beja-A2 pela A26 (rotunda do
aeroporto-rotunda da Malhada Velha)?
Será que iremos
ter uma
IP8 em formato “semi autoestrada” (seja lá
o que isso for), expressão usada por um destacado político regional no final de
uma reunião com o então ministro Pedro Nuno Santos, em agosto de 2022?
Ou seja, tal
como nas ligações ferroviárias, será mais um copo meio cheio aquele que nos
irão servir, revelando uma falta de visão estratégica, ao não potenciar, não só
o aeroporto, mas também as mudanças na economia regional, nomeadamente no
turismo e nas agroindústrias, como as deslocações inter-regionais.
Continuam,
assim, atuais, os apelos que fiz em jornais regionais, em 2012 e 2015,
respetivamente:
“… seria muito bom vermos os
autarcas de Beja, Mértola, Alcoutim, Castro Marim e Vila Real, lutando por um
IC 27, amputado há muitos anos e que tarda em avançar para além dos 40 km já
construídos; ou ainda os de Beja, Ferreira, Grândola, Alcácer, Santiago e
Sines, juntos pela A26, que tão tarde arrancou e que vai parando e avançando
aos soluços.” Correio Alentejo, 8 de junho de 2012.
“… seria
bom que os três deputados eleitos por Beja se unissem e, deixando para trás
naturais divergências, elaborassem um documento, curto, mas incisivo, que se
concretizasse num projeto de resolução ou numa recomendação (…): a retoma das
obras da A26, entre Beja e Santa Margarida do Sado (…) prolongar a A26 até
Sines, concluir o IC27, entre Beja e Alcoutim….” Diário do Alentejo, 9 de
outubro de 2015.
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21 fevereiro 2025 |
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