“Aldeia Nova” é o título de uma das obras de Manuel da Fonseca, cujo centenário do nascimento ocorreu há alguns dias. Esse é, igualmente, o título do espectáculo concebido e dirigido pelo músico Paulo Ribeiro que, depois de já ter sido apresentado em Serpa, Beja e Mértola, irá ter lugar, no dia 5 de Novembro, em Castro Verde e, mais tarde, em Cuba.
Não é objectivo desta crónica analisar o espectáculo, dedicado a esse grande nome da nossa Cultura, que recomendo a quem ainda não assistiu. Gostaria, sim, de referir a importância do processo que levou à sua concretização.
Tudo começou em 2005 quando, no âmbito da AMBAAL, se começou a discutir a criação de uma rede de municípios para trabalhar no âmbito cultural. Foi um trabalho muito profícuo, no qual participaram quinze das dezoito autarquias que integram a associação. Várias hipóteses se colocaram, como, por exemplo, a itinerância dos espectáculos das companhias de teatro profissionais (e, mais tarde, das amadoras), a programação de espectáculos por várias autarquias, diminuindo os respectivos custos, a organização de eventos conjunto, como uma exposição colectiva de artes plásticas ou um espectáculo que integrasse grupos e artistas da região.
Estas eram apenas algumas das muitas propostas que foram discutidas, mas que, no momento da formalização da rede caíram por terra, por motivos que não irei aqui e agora abordar.
Ficou, no entanto, a semente e, assim, foi possível organizar uma excelente exposição de artes plásticas, com a participação de dezanove artistas da nossa região. Tal como vinha acontecendo com regularidade, a sua produção foi do Museu Jorge Vieira e, a partir de 8 de Janeiro de 2009, data da sua inauguração em Almodôvar, a Art’Alentejo percorreu mais de uma dezena de concelhos.
Igualmente foi para a frente a ideia do espectáculo, em regime de co-produção, neste caso aproveitando a Rede CAL, formada por sete municípios que, em Abril de 2009, entregou ao INALENTEJO uma candidatura para a programação em rede nos anos de 2010 e 2011. E aí apareceu a ideia, prontamente aceite por todos, de homenagear, com a poesia, a música, a dança, os grupos corais e as bandas de músicas, essa figura ímpar da cultura alentejana que foi Manuel da Fonseca.
Estes são, sem dúvida, dois bons exemplos de como é possível trabalhar em parceria, aproveitando sinergias e oportunidades, qualificando a actividade de teatros, centros culturais, galerias e salas de exposições.
Mas, se voltarmos uns anos atrás, vamos encontrar, num âmbito mais abrangente e mais profundo, outros bons exemplos do trabalho conjunto dos nossos municípios, que tão bons frutos deu ao longo das últimas décadas da nossa democracia.
Numa altura em que estava tanto por fazer, sobretudo em áreas tão importantes da vida das pessoas, como o abastecimento de água, o saneamento básico ou a electrificação de muitas localidades, os autarcas de então souberam pôr de lado o que os dividia e concentrar-se no essencial. Foi assim que assistimos ao nascimento da primeira associação de municípios do País, cujo principal objectivo (conseguido) foi salvar o Diário do Alentejo – jornal que já faz parte do nosso património cultural; foi assim que se pôs de pé o grande sonho do casal Henriques e Ernestina Pinheiro – o Conservatório Regional; assim se deu corpo à Região de Turismo Planície Dourada; assim se manteve a funcionar o Museu Regional – ainda que no âmbito de uma estrutura atípica, como é a Assembleia Distrital.
Tudo isto, repito, com um esforço financeiro assinalável das autarquias, mas, sobretudo com uma vontade política, que entendia o trabalho conjunto como a única saída para a existência e funcionamento destas e de outras importantes componentes da nossa vida colectiva.
Faço aqui um parênteses, para referir que, muitos dos problemas que actualmente se colocam à existência de algumas destas entidades, poderiam não existir, caso houvesse um poder regional forte e actuante, a exemplo dos nossos vizinhos espanhóis, que contemplasse museus, teatros, bibliotecas, conservatórios, entre outros equipamentos de âmbito regional. Isto para falarmos apenas na área da Cultura.
Entretanto, assistimos nos últimos meses, ao agonizar de alguns dos bons exemplos referidos, sobretudo pela irresponsabilidade de alguns e pela falta de cumprimento de compromissos assumidos, disfarçados com atabalhoadas fugas para a frente, verdadeiras desculpas de mau pagador, no verdadeiro sentido da expressão.
São estes os maus exemplos que põem em causa o trabalho meritório de muitos anos, protagonizado por profissionais dedicados e competentes, que não merecem passar pelo que estão a passar. E que colocam em risco elementos importantes da nossa Cultura.
Felizmente que ainda há quem cumpra os seus compromissos e que vai fornecendo os balões de oxigénio necessários. Não sabemos é por quanto tempo e, se um dia, não iremos acordar com algumas portas fechadas.
E, nesse dia, ficaremos todos mais pobres.
(Esta crónica significa também um gesto de solidariedade para os trabalhadores do Museu Regional de Beja)
28 de Outubro |
Se li tudo isto - entre tantos outros que não comentam - não devo faltar à minha palavra que é, sem medo de coisa nenhuma,aliás como sempre procedi e assinando,comentar o que penso, fora das diatribes políticas: "O senhor presidente da Câmara municipal de Beja disse-me que, para a semana que vem, havia condições para recebermos, no Museu Regional de Beja, o vencimento em atraso. Disse-me pelo telefone e eu não quero duvidar da sua palavra. Se falhar, e garanto que já não será só por mim, muita coisa vai mudar em Beja. Como se costuma dizer: "perdido por um, perdido por mil." Mas, cuidado, a minha consciência, que considero justa, apesar de saber reconhecer o bem e, como bom português, tolerar o mal, tem limites...
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