Arquivo Fotográfico do Diário do Alentejo

sábado, 30 de abril de 2011

Comemorar Abril. Sempre!

Esta aí a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
                                                      (Sophia)
Há dois meses, quando os egípcios derrubaram Mubarak, Barack Obama afirmou que “…existem poucos momentos nas nossas vidas em que temos o privilégio de assistir a um acontecimento histórico…”.
No dia 25 de Abril de 1974 tinha 16 anos (feitos no mês anterior) e frequentava o Liceu de Beja. Não seria um jovem “politizado” mas, juntamente com um grupo de colegas e com a complacência (e cumplicidade) da jovem professora de Filosofia, dava os primeiros passos na oposição ao regime.
Sabíamos que alguns dos livros que circulavam entre nós eram proibidos, discutíamos a independência da Guiné-Bissau, ocorrida uns meses antes, contestávamos uma guerra injusta, que nos ameaçava a médio prazo, rejeitávamos uma sociedade onde as desigualdades e o medo imperavam.
Por isso, também nós esperávamos a tal madrugada que Sophia cantaria. O que não sabíamos é que viver os dias, os meses e os anos que se lhe seguiram seria, como Obama diz, um privilégio que nem todas as gerações terão.
Foram momentos vividos a uma velocidade vertiginosa. Não exigíamos o “impossível”, como os jovens franceses, seis anos antes em Paris, mas sim um País que deixasse de estar orgulhosamente só, em que existisse a Liberdade “a sério”, que Sérgio Godinho nos cantava : com “a paz, o pão, habitação, saúde, educação”.
Havia a política, claro, “pura e dura”, onde todos estávamos a aprender cada dia que passava, com a entrega e a paixão próprias da juventude e das utopias que sonhávamos, mas havia também o desejo de cumprir o legado de Bento de Jesus Caraça : “A Cultura Integral do Indivíduo”. Daí que esses anos fossem também de intensa “militância” na actividade cultural e desportiva, no surgimento de associações e na organização de eventos, no que constituiu uma verdadeira escola cívica para todos nós.
Foi, de facto, um privilégio, termos vivido, de corpo e alma, esses anos intensos, termos assistido e participado em transformações tão significativas, termos visto nascer e crescer um País novo, livre e integrado de corpo inteiro no seio dos restantes países democráticos.
Hoje, passados trinta e sete anos, é muito fácil dizer-se, como muitos fazem, que houve erros na revolução, que isto ou aquilo poderia ter sido feito desta ou daquela maneira. Há até pessoas, com importantes responsabilidades na altura, que gostariam de ter a sua imagem apagada de fotos da época, como aconteceu em outros momentos da História.
Só que, os dias de uma revolução são vividos de uma forma diferente, ultrapassando, por vezes, os próprios protagonistas. De tal modo que John Reed chegou mesmo a referir-se a “Dez dias que abalaram o mundo”, numa referência a Outubro de 1917. Nessas alturas, muitas vezes age-se primeiro e pensa-se depois, tal a velocidade em que os acontecimentos de desenrolam. Como costumo dizer aos meus alunos, uma revolução é um carro a cem à hora, enquanto que, na evolução “normal” de uma sociedade, esse mesmo carro viaja a dez à hora.
Por isso, não obstante esses “erros”, os avanços e recuos, as alegrias e as desilusões, não podemos deixar de comemorar Abril e o que de bom nos trouxe.
Porque essa é a melhor forma de “agradecer” o privilégio que foi termos vivido acontecimento histórico e de transmitirmos às novas gerações, sobretudo aquelas que nasceram depois de 1974, como é importante vivermos em democracia, longe das ameaças das pides, das censuras e de uma guerra que, não esqueçamos, levou consigo alguns milhares de jovens na força da vida e deixou para sempre marcas físicas e psicológicas bastante dolorosas em outros milhares.

Um pouco por todo o Alentejo e pelo País, festejou-se mais um aniversário do 25 de Abril. A cidade de Beja  não festejou. Ficou só, tristemente só.
Triste “Beja Capital”
29 de Abril


domingo, 24 de abril de 2011

25 de Abril de 1974 : a poesia e a arte sairam à rua.

Placa em parede no Largo do Carmo



Maria Helena Vieira da Silva 

Foi então que Abril abriu
as portas da claridade

e a nossa gente invadiu

a sua própria cidade.

Disse a primeira palavra

na madrugada serena

um poeta que cantava

o povo é quem mais ordena.
José Carlos Ary dos Santos 

João Abel Manta

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A Ponte sobre o Tejo - artigo de José Moedas (1961) (cont.)

Alentejo Ilustrado -  revista mensal a sair nos dias 30
Directora e editora - Amélia d'Aires Lança Pereira ; Chefe de redacção - M. de Melo Garrido ; Redactor-secretário - José A. Moedas.
Propriedade da directora e do chefe da redacção.

A Ponte sobre o Tejo (baptizada inicialmente como Ponte Salazar e actualmente designada como Ponte 25 de Abril) foi inaugurada em Agosto de 1966. A ligação ferroviária entre as duas margens apenas viu a luz do dia em Janeiro de 2003 (a muito longo prazo da inauguração, como José Moedas referia no artigo).
Mas, como diz o povo, mais vale tarde do que nunca e, desde essa altura, passámos a ter ligações directas a Lisboa, por comboio, evitando o incómodo do transbordo no Barreiro.
Parece que, cinquenta anos depois de José Moedas ter, de forma tão lúcida, saudado os benefícios desta ligação, pela importância económico-social que esta obra tinha para o Sul do País (Alentejo e Algarve), alguns senhores (diga-se administradores da CP, da REFER, membros do governo - e outros mais), não se importando com quem aqui vive, querem deitar para o lixo essa "conquista" e obrigar-nos, de novo, a transbordos e a viagens em automotoras desconfortáveis.
Pelo andar da carruagem, não nos admirávamos nada que, com todo este "carinho" por nós, a curto ou médio prazo esses mesmos senhores encerrassem a linha, sob pretexto de uma falta de viabilidade económico-financeira, provocada, em última análise, pela má gestão dessas empresas e pelo mau governo do País.
É contra isso que não iremos baixar os braços e continuar a lutar por aquilo a que temos direito e que merecemos