Arquivo Fotográfico do Diário do Alentejo

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Doutor Joaquim Mestre! Olhe que me prometeu uma entrevista… (1)


Caro leitor.
Imagine que se apresta para ler um romance. Que, como qualquer obra literária do género, terá um ou mais locais onde se desenrola, personagens principais e secundários, e um enredo, com princípio meio e fim.
Imagine que essa obra tem como palco principal o Baixo Alentejo, em particular “… caminhos de Serpa ou Moura, as Pias ficam no meio, Beja já lá para trás…”,  mas onde surgem igualmente Aldeia Nova de São Bento “que depois foi promovida a vila”, a  “gloriosa vila acastelada de Portel”, as “águas do Sado, perto de Alvalade [terra natal do autor do livro], onde lhe chamam Ribeira”, a Lisboa da Pastelaria Suiça, da Casa das Meias e dos bailes da Casa do Alentejo, mas também Pangim, Nova Goa, “nas suaves margens do Mandovi” ou o Cuando-Cubango.
É ainda na margem esquerda que se situa a “aldeia de São Jorge do Alardo, concelho de Moura (…), um lugarejo perdido”, junto à qual vai ser recuperado o monte onde se desenrola a maior parte do romance e  de onde se observa “uma nesga do Guadiana”. O monte situa-se no meio de “trevos, estevas e escalrachos (…), de alfazemas, giestas e alecrins”, onde se levantam “lebres e perdizes e codornizes, abelharucos ditos melharucos, toutinegras e melros” e onde existem “brancuras estreitas de muros, casas corridas, baixinhas, sob o tremelicar comprido de telha moura”.
Quem recuperou este monte foi o Coronel Bernardes e sua esposa Maria das Dores, a “baronesa” (a cuja família pertencia a propriedade). Ele, que depois de participar numa guerra entre “um amontoado de brancos de barba por fazer, de armas na mão” e “uma amálgama de negros com Kalashs e morteiros às costas”, “veio desabar no meio de uma revolução festiva, estouvada, alegre e algo confusa”. Depois da reforma tornou-se administrador do “condomínio da Rua de Santo Estevão à Lapa” e foi precisamente no dia em que os condóminos o humilharam, demitindo-o de tão nobres funções, que tomou a decisão: “Ala para o Alentejo”.
Maria das Dores, formada em História da Arte e a fazer um mestrado na Universidade de Évora, carateriza-se pela sua linguagem direta, “Ó filho, falas bem mas não me aquentas… para mim vens de carrinho”.
Outros personagens principais do romance são o Coronel Lencastre, camarada de armas de Bernardes e sua esposa Maria José, que vão também recuperar um monte, perto do outro, deixando para trás o Bairro Azul, em Lisboa, e Emanuel, um jovem vedor, mestre de xadrez e conquistador, que percorre estes campos numa “carrinha Renault 4 de cor beje, muito empoeirada”.
É junto ao monte que, por conselho médico, Bernardes e a baronesa vão construir uma piscina, lugar central da trama. Ainda que a tenham utilizado apenas uma vez, é aqui que os dois coronéis passam o seu tempo, a beber o “uísque novo” e a ler os dois jornais diários que Maria das Dores vai buscar a Serpa, “de jipe, de dois em dois dias”. E foi também na Vila Branca que ela abriu “uma conta à ordem, na Caixa Agrícola Mútua” e que o coronel descobriu a empresa “Tubos e Jardins, que representava uma marca alemã de piscinas que dava todas as garantias”.
São desta firma os dois trabalhadores “polivalentes” que vão preparar o trabalho para o pedreiro, após a abertura do “grande abismo da piscina”, por uma retroescavadora “com a pá descomunal, munida de garras”.
Durante esse trabalho, as picaretas vão descobrindo ânforas, tijolos e “umas pedrinhas coloridas que formavam a figura de um bicho do jardim zoológico (…) um carro puxado por ele (…) uns cachos de uvas”. Descobertos pela velha empregada do coronel, que quando era “moça pequena, e o lavrador do Monte dos Chocalhos encontrou um pote dos mouros que havia de baixo de uma oliveira e aquilo eram só libras de ouro a correr”, viram-se obrigados a repartir pelos três o tesouro que encontrassem. Tal não veio a acontecer, porque os “sacanas dos mouros (…) não deixaram foi nada prá gente” e, por isso, “foi o mosaico que pagou as favas”, entrando os homens “numa fúria destruidora, selvagem e arrebatada, de modo a que não ficasse caco sobre caco”. Assim se foi a villa romana, antepassada do monte.
Este enredo transforma-se com frequência em fábula, com a entrada em cena de um melro “bem falante e trocista” e de um mocho, que habitam numa “oliveira velha”, cujos “possantes ramos”  serviram “para forca de doze liberais capturados por um bando de frades assassinos a mando do Senhor Rei D. Miguel”. Essas duas aves vigiam de forma permanente o que se passa no monte e junto à piscina, relatando com todos os pormenores, de noite ou de dia, quando uma ou outra quer dormir, “amanhã a gente fala”.
Um dia o melro conta a história que se passou “no Monte dos Matamouros, ao pé de Viana do Alentejo”. Nesse monte viviam um lavrador e a sua mulher, “que eram doidos por modas alentejanas”. Como não tinham filhos, “o dinheiro da cortiça, do azeite e do vinho” servia para “manter três ranchos de cantadores, que passavam os dias nas modas, e os lavradores com eles”. Farta de ser acordada e à “sua desvelada criação” todas as manhãs “pelo fortíssimo do cantochão sempre em crescendo”, “falou a sete das suas comadres”, que todas as noites “estridulavam gritos de arrepiar e sopravam bafos medonhos (…) a partir da moda Lá Vai Serpa, lá Vai Moura e as Pias Ficam no Meio”. “Era a maldição. A casa foi dada como assombrada (…) Os lavradores desandaram para a sua casa na vila (…) e o monte ficou entregue a um rendeiro mouco”.
A cidade de Beja está presente em vários momentos deste romance. Desde logo, na piscina, onde foi edificado um “monumento”, que era “uma justaposição de livros de mármore, todos do escritor José Saramago, que se empilhavam, sabiamente desalinhados, quase à altura de um homem”; depois, com a “arrebatada Soraia Marina, acompanhada pelo conjunto Os Rabejadores do Cachimbo”, que “acenava dum Uno amarelo descapotável” e que fazia sucesso em todas as festas (como na da “vilória” de Grudemil, onde manda um tipo “armado em cacique”) e que “um símile fonético logo faz convocar uma certa Soror Mariana”; e é ainda a Beja que a baronesa se desloca para um funeral que durou “até á noite”, o que deixa o coronel desconfiado, até porque ela “tinha sempre o telemóvel desligado”, ao que ela responde : “Coitada daquela família. Choravam… Senti uma dificuldade do camandro em deixá-los. Até me sinto repesa (…) acha próprio um telemóvel num velório, quer dizer, num enterro… Acha”?
Certo dia, o mestre de xadrez desloca-se a Beja para uma simultânea. Neste momento, a ficção toca a realidade, quer pela “sopa de cação nos Infantes”, quer pela “conferência no Politécnico”. Mas é sobretudo, quando ele se dirige à biblioteca “que, na cidade, é aonde todos os caminhos vão dar”, para entrevistas “para os dois jornais locais”, que somos confrontados com este excerto, quase no final do romance:
“ Um homem, ainda novo, de cabelo à escovinha e barba de três dias, ia a entrar, com dois pacotes de papel pardo que pareciam pesados.
- Doutor Joaquim Mestre! – gritou ela [a jovem jornalista entrevistadora] com uma risadinha.
- Olhe que me prometeu uma entrevista…
O homem voltou-se e sorriu, sem parar de subir os degraus.
- Amanhã logo se vê. Amanhã.
E desapareceu, portas vidradas adentro “

Este texto foi escrito no último dia de mais uma edição das Palavras Andarilhas. Dedico-o à sua alma e grande obreira, a Cristina Taquelim, ao autarca que deu corpo a essa e a outras iniciativas que colocaram Beja no mapa cultural do país, Carreira Marques e, principalmente a quem dirigiu a “biblioteca sem sono” que, com as Andarilhas e demais atividades, transformou Beja numa “cidade sem sono”, Joaquim Figueira Mestre.

1)   Mário de Carvalho, Fantasia para Dois Coronéis e Uma Piscina, Coleção Essencial – Livros RTP/Leya, nº 14, 2016, pág. 179 (1ª edição 2003)


7.9.2019







sexta-feira, 29 de junho de 2018

O comboio em Beja : tragicomédia em cinco atos e um epílogo anunciado (??)


Antes
Depois (foto : CEC Vítor Cruz)
 












Prólogo :
1864 – chegada do comboio a Beja ; 1889 – ligação ferroviária Faro-Beja-Barreiro (entre 1864 e 2004, era efetuado um transbordo no Barreiro, para a ligação fluvial a Lisboa).
2004 – início da ligação direta Beja-Lisboa, através da Ponte 25 de Abril , em comboios intercidades, rápidos e confortáveis. 2010 – suspensão desta ligação, devido aos trabalhos de eletrificação do troço Bombel-Évora. 1990 – encerramento do ramal de Moura (em funcionamento desde 1902); 2011 – fim da ligação Beja-Funcheira.
1º Ato : Janeiro 2011.
Dia 7 – A CP anuncia, em comunicado para a Agência Lusa, o fim da ligação direta Beja-Lisboa, substituída por uma viagem em automotora até Casa Branca, seguida de transbordo para o comboio intercidades vindo de Évora. Dia 18 – Reunião pública na biblioteca de Beja, para discussão do tema e formação de um grupo de cidadãos, com vista ao regresso da ligação direta e à eletrificação da linha até Casa Branca. Dia 26 – Concentração da população junto à estação da CP de Beja (repetida no dia 14 de Fevereiro).
2º Ato : Fevereiro/Março 2011.
16 Fev – Entrega da petição com 15071 assinaturas (mais 3561 online) ao Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama; reuniões com os grupos parlamentares e com o Conselho de Administração da CP.
3 Mar – Reunião com a Comissão Parlamentar de Obras Públicas, Transportes e Comunicações.
25 Mar – Reunião com o Secretário de Estado dos Transportes (Governo de José Sócrates), Correia da Fonseca. Proposta do grupo de cidadãos : que, dos anunciados cinco comboios Évora-Lisboa (acabaram por ser quatro), dois partissem de Beja, ainda que em locomotivas diesel, ou mistas; que a linha Beja-Casa Branca fosse eletrificada.
Resposta do SE: veria com Conselho de Administração da CP se era possível retomar as duas ligações diretas propostas; quanto à eletrificação não podia comprometer-se, porque ia haver eleições e um novo governo.
3º Ato : Julho 2011.
Dia 24 – Reinício das ligações ferroviárias a Lisboa. Confirmava-se que Beja perdia a ligação direta à capital.
Dia 26 – Reuniões com os grupos parlamentares e com a Comissão Parlamentar de Economia e Obras Públicas.
Dia 29 – Reunião com o Secretário de Estado das Obras Públicas e Transportes (Governo de Passos Coelho),
Sérgio Monteiro.
Propostas do grupo de cidadãos: as mesmas feitas ao anterior SE. Resposta : governo iria elaborar plano de transportes, para ser incluindo no Portugal 2020, onde a eletrificação da linha Casa Branca-Beja poderia ser incluída. De imadiato, comboios diretos fora de questão.
3º Ato : Abril 2014.
Apresentação do PETI (Plano Estratégicos dos Transportes e Infraestruturas) - seis mil milhões de investimentos em vários campos, ferroviário, rodoviário, portuário e aeroportuário. Entre Évora e o Algarve, ficava um imenso deserto, onde apenas constavam o IP8 (15 milhões) e o Aeroporto de Beja (3 milhões).
4º Ato : Fevereiro 2016.
Após as eleições de 2015, o governo de António Costa apresentava um plano ferroviário para o período 2016-2020 que, em linhas gerais, recuperava o PETI de 2014 : um investimento de 2700 mil euros, dos quais 1600 mil de fundos comunitários, em várias linhas – Minho, Norte, Algarve e Beira, que previa a eletrificação de 741 quilómetros, num total de 1193 intervencionados. Uma vez mais, nem um euro para os 60 quilómetros da ligação Beja-Casa Branca e para o retomar das ligações ferroviárias diretas a Lisboa.
5º Ato : Abril 2018.
Anunciado o plano de reprogramação do Portugal 2020 : na ferrovia previa-se um reforço de quase 300 milhões de euros. Destino : metros de Lisboa e Porto, linha de Cascais e “sistema de mobilidade do Mondego”. Mais uma vez, o “ramal” (que já foi núcleo central da Linha do Alentejo) Beja-Casa Branca a ficar de fora.
Epílogo anunciado (??) : Junho de 2018.
Governo deixa Douro e Alentejo de fora dos investimentos para 2030”, foi este o título de um jornal diário sobre um assunto já antes abordado pelo Diário do Alentejo. Muito embora essa notícia tenha sido “corrigida” mais tarde, no sentido de que, no passado dia 19 apenas se procedeu ao “…lançamento do debate público sobre os investimentos estratégicos para a próxima década…” (o chamado PNI – Programa Nacional de Investimentos 2030), não deixa de ser preocupante ler-se que, nesse programa, dos vinte projetos de investimento previstos no setor ferroviário mais uma vez não consta Beja-Casa Branca, uma linha “… que se arrisca a ficar uma “ilha” não electrificada a sul do Tejo, comprometendo a sua viabilidade e arriscando o encerramento “ (Carlos Cipriano, Público).
Chegados aqui, e face à progressiva degradação a que se tem assistido nos últimos tempos (bem documentada nas redes sociais), com constantes atrasos e avarias, que culminaram há poucos dias com a eliminação (temporária ?) do comboio Évora-Lisboa, substituído por automotoras, deteriorando ainda mais a viagem de e para Beja, a pergunta que se coloca é se há ou não, neste tema, aquilo que tem faltado desde há sete anos. A vontade política de quem decide (três parlamentos e três governos), para que torne realidade, de uma vez por todas, algo que, de tão anunciado, já pouco crédito vai merecendo entre os bejenses: a “paixão” pelo interior, tão evocado quanto esquecido e a diminuição das desigualdades entre territórios.
29 maio 2018


sexta-feira, 23 de março de 2018

A propósito da descentralização : concursos regionais para apoio à Cultura.


 "Defilló", pela Compañía Nacional de Danza Contemporánea del Ministerio de Cultura
FITA 2018 - Pax Julia Teatro Municipal, 13 março 2018 

Agora que a o tema descentralização está na ordem do dia (e não regionalização, como a Constituição indica), recordo uma experiência que, embora efémera, considero ter sido muito positiva e que, no quadro do que agora se anuncia, bem podia ser recuperada.
Falo da única vez em que os concursos para a atribuição de subsídios às estruturas profissionais na área da Cultura, nomeadamente do Teatro e da Dança, tiveram júris regionais e não nacionais, como até aí acontecia e voltou a acontecer, até ao presente. Foi no ano de 2004 e esses concursos visavam os apoios anuais, bianuais e quadrianuais, para 2005 e anos seguintes.
A propósito, e antes de mais, considero que os apoios financeiros à criação, formação e/ou programação por parte dessas estruturas deve fazer parte dos orçamentos, quer dos governos nacionais, quer dos locais, já que é com o seu trabalho que a diversidade cultural existe para além do entretenimento que monopoliza grande parte das programações, não só das televisões e, porque não dizê-lo, também de muitas autarquias. É pois, é minha opinião, abusiva, a designação de “subsidiodependentes” com que, muitas vezes se deprecia o trabalho dessas estruturas, esquecendo-se o seu trabalho no desenvolvimento cultural do País.
Voltando ao tema, em 2004 foram constituídos júris no âmbito das direções regionais da cultura que integravam, além do titular destas, representantes do IPAE (Instituto Português das Artes do Espectáculo), das universidades e das autarquias (caso o entendessem) em que as estruturas trabalhavam. O governo definia o número de companhias a apoiar, por setor, e a respetiva verba a atribuir.
O Município de Beja foi indicado para participar nesses júris por indicação de uma companhia de teatro local e de uma companhia de dança de Évora que mantinha no concelho uma atividade regular. Por delegação de Carreira Marques, então Presidente da Câmara, participei, assim, nos respetivos júris de apreciação.
No dia marcado para o efeito, presidentes de câmara ou vereadores de vários concelhos (Sines, Portalegre, Serpa, entre outros – Évora, estranhamente, não esteve presente), participaram nesse processo, integrando júris em participavam a Diretora Regional da Cultura, dois professores da Universidade de Évora e os indicados pelo IPAE (Gil Mendo, Luísa Taveira e João Ludovice, para as áreas do Teatro, da Dança e da Música, respetivamente).
Na maior parte dos casos, os representantes autárquicos estiveram pouco tempo (dez, quinze minutos) reunidos com os restantes membros do júri, aprovando as propostas apresentadas para as companhias sedeadas nos seus concelhos. No caso de Beja, a reunião demorou cerca de duas horas (para desespero do vereador de Serpa, que foi o último a participar). Se, em relação à CDC de Évora, a decisão foi rápida (até porque era a única estrutura da dança a candidatar-se a apoios), já no caso da Arte Pública a decisão foi demorada, tendo mesmo sido alterada a proposta inicial do relator.
Essa demora teve a ver sobretudo com os esclarecimentos prestados pelo representante da CM de Beja (baseados num dossier que coligia o trabalho dessa estrutura ao longo dos anos) aos restantes membros do júri, cujo conhecimento se baseava sobretudo da candidatura apresentada (que, por sinal, tinha algumas lacunas e debilidades).
No final dessa longa reunião, a proposta inicial foi alterada e, para além do apoio passar a ser bianual e não anual (o plano da candidatura era apenas para um ano), foi reforçado em dez mil euros, passando de noventa para cem mil/ano (2005 e 2006).
Para além desta situação, que revela a importância da participação das autarquias nos júris, enquanto parceiros das estruturas, cujo trabalho conhecem melhor do que um qualquer júri nacional que aprecia propostas no papel, a “regionalização” deste processo teve ainda outras virtudes. Por um lado, a possibilidade de reforçar o número de estruturas do Teatro a apoiar, passando de seis para sete, num montante de quase um milhão de euros e, por outro, a rapidez com que o mesmo decorreu (sendo mesmo a primeira região a concluí-lo), o fez com que as companhias apoiadas mais depressa conhecessem as verbas que iriam receber, para que pudessem iniciar ou continuar o seu trabalho sem sobressaltos.
Parecendo pouco, contrasta com o que ainda hoje acontece, com os júris nacionais, as indefinições e os atrasos que persistem, como há poucos dias se lamentava Jorge Silva Melo, dos Artistas Unidos, em declarações ao jornal Público.
Infelizmente, como escrevia no início, esta experiência dos júris regionais foi efémera, já que em 2006 voltaram os júris nacionais (em 2005 não houve concursos). Curiosa foi a justificação do então Secretário de Estado da Cultura para essa alteração : "Celeridade e menos burocracia" e "… a garantia acrescida de que as avaliações serão devidamente fundamentadas”. Para além de não ter sido devidamente avaliada a experiência, os resultados mostram que, como acontecia antes de 2004 e voltou a acontecer depois de 2006, tais premissas não se confirmaram.
Razões mais que suficientes para que, no quadro da descentralização agora tão apregoada, se equacione a possibilidade de que sejam retomados os júris regionais, no formato de 2004 ou noutro qualquer que se entenda melhor, caso, obviamente, os municípios entendam pertinente a sua participação e o governo assim o entenda.
           23 março 2018