Daqui a pouco mais de dois meses
passam nove anos da suspensão das ligações ferroviárias diretas entre Beja e
Lisboa. Que, de resto, tinham apenas seis anos de existência: entre 1864 e 2004,
essa viagem era feita com um transbordo no Barreiro, onde se apanhava o barco
até ao Terreiro do Paço.
Só com a abertura da Ponte 25 de
Abril à ferrovia é que esse sacrifício acabou e deu lugar a viagens mais
rápidas e cómodas, “privilégio” que foi sol de pouca dura. Com o início das
obras de eletrificação do troço Bombel-Évora, em maio de 2010 (que duraram mais
de um ano), terminaram as ligações diretas Beja-Lisboa, substituídas por uma
(por vezes penosa) viagem até Casa Branca, seguida de transbordo para o comboio
vindo de Évora.
Foi na sequência do anúncio deste
retrocesso, feito no início de 2011, que se iniciou um movimento cívico de
protesto que, num mês, realizou duas concentrações públicas, recolheu mais de
quinze mil assinaturas (as primeiras centenas na manhã fria e chuvosa do dia
das eleições presidenciais desse ano), entregues no dia 16 de fevereiro ao
então presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, reuniu com os grupos
parlamentares, secretário de estado, presidente do CA da CP, entre outras
iniciativas.
Que queriam, com todas estas ações
(repetidas várias vezes, nesses e em outros formatos, ao longo dos anos), os
cidadãos? Tão somente que não fosse eliminada a ligação direta por comboio de
Beja a Lisboa (que servia igualmente Cuba, Alvito e Viana do Alentejo, bem como
os concelhos limítrofes). Eram esses os “serviços mínimos” exigidos em dezenas
de reuniões, comunicados, ações de rua e que foram transmitidos, aos
secretários de estado Correia da Fonseca e Sérgio Monteiro, em março e julho de
2011. O resultado, esse, todos nós sabemos.
Depois, à revolta que esta
injusta decisão provocou (a que se juntou o fim da ligação à Funcheira), outras
situações ocorreram, como a interrupção da construção da A26 e de parte do IP2
(esta, mais tarde concluída), a “novela” da abertura do troço de 13 quilómetros
de ligação à A2 (adiada para as calendas gregas), para além dos atrasos,
avarias, interrupções na viagem Beja-Casa Branca. Não admira, por isso, a perda
de 18 mil passageiros nesta ligação, noticiada na última edição do Diário do
Alentejo.
Ao mesmo tempo, nos vários planos
apresentados pelos governos, em 2014 e em 2016, bem como na reprogramação do
Portugal 2020, efetuada em 2018, as justas pretensões por que os bejenses (e
não só) lutavam, eram ignoradas e, só muito recentemente, se falou no concurso
para a aquisição de comboios (que, como o DA também noticiou, só lá para 2023
chegarão) e a eletrificação da linha (bem como um conjunto de outras obras,
entre as quais a A26) foi incluída num “pacote”, incluído no chamado PNI 2030,
que o ex-ministro Pedro Marques veio apresentar aos autarcas da região poucos
dias antes de deixar o governo (ele que, durante os mais de três anos de
funções governativas, nunca tinha vindo a Beja).
Perante este cenário e, tendo em
conta a mudança da equipa ministerial da área (ainda que com um limitado período
temporal – até às eleições legislativas de setembro), coloca-se a questão: é ou
não possível reverter a situação, de modo a voltar a haver, pelo menos três
ligações diretas Beja-Lisboa-Beja? Em minha opinião, é. Basta, para isso, que
haja a vontade política que tem faltado nos últimos anos, aliada à
“discriminação positiva” para o interior, tão falada, mas tão pouco praticada.
É claro que o ideal seria numa
linha eletrificada mas, à falta desta (e dos tais comboios híbridos, anunciados
há um ano), porque não recorrer ao que existe e que fazia as citadas ligações
diretas entre 2004 e 2010? Em artigo publicado no dia 19 de fevereiro no jornal
Público, Carlos Cipriano escreveu : “Pedro Nuno Santos vai ter de decidir se
quer aproveitar o material que a CP tem imobilizado e que pode ser colocado a
transportar passageiros (…), 30 carruagens Sorefame (…) quatro locomotivas a
diesel (…) além de outro material que está parado”.
Tem a palavra, pois, o novo
ministro. Será ele capaz de corrigir esta injustiça, que já dura há quase oito
anos? Será que continuará esta contínua degradação do transporte ferroviário
(mais próximo de um país de Terceiro Mundo), condenando-o a uma morte lenta,
que levará, no limite, ao encerramento de mais uma linha?
Ao contrário dos revolucionários
do maio de 68, em Paris, não “exigimos o impossível”, somos “razoáveis”, apenas
gostaríamos de sair de Beja, de comboio, às 8 da manhã e, pouco mais de duas
horas depois, estarmos em Sete Rios ou no Oriente (como em 2004). São estes os
“serviços mínimos” que se pedem a Pedro Nuno Santos.
1 março 2019 |
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