“… não existe nenhuma concorrência, mas sim uma complementaridade, que não é de agora, mas de há muitas décadas, quando a INATEL ainda era a FNAT do Estado Novo.”
Esta frase foi escrita por mim, há quase doze
anos, num artigo de opinião publicado no Diário do Alentejo, de 4 de janeiro de
2013 ( https://notasaesquerda.blogspot.com/2013/01/inatel-e-associacoes-de-futebol_3.html ), a propósito de uma situação algo bizarra: o “ataque” da
direção da Associação de Futebol de Beja (AFB) ao futebol do INATEL, aludindo a
uma “concorrência desleal”, deste organismo, que “retirava” equipas às suas
provas. O próprio presidente da FPF foi mais longe, ao afirmar, na inauguração
da nova sede da AFB, umas semanas antes, que não era obrigatório um seguro de
acidentes pessoais os atletas que participavam nos campeonatos do INATEL, o que
não era, de todo verdade.
A prova de que não existe essa concorrência é a
liberdade que todos os clubes têm, de participar numa ou noutra prova das duas
entidades. Só no concelho de Beja são vários os que, após anos a jogar no
INATEL optaram por se inscrever na AFB, tal como existem outros, que nunca
mudaram. Cito, apenas, o caso do Louredense FC, um dos mais emblemáticos clubes
do INATEL (mesmo a nível nacional) que, apenas este ano, optou por participar
no campeonato da 2ª divisão da AFB ou do Quintos, que nunca tomou essa opção.
O que interessa é que, nesta época desportiva,
nas 1ª e 2ª divisões da AFB (46 equipas) e no campeonato do INATEL (22
equipas), são quase 70 as que proporcionam a prática desportiva a várias
centenas de atletas. De referir que, tal como tem acontecido ao longo dos
últimos anos, a delegação de Beja do INATEL aceita a inscrição de equipas dos 4
concelhos do litoral alentejano, do distrito de Setúbal (como já aconteceu há
anos com equipas de Faro), sendo oito esta época.
Acontece que, devido à diminuição de equipas,
de 26 para 22 (no concelho de Beja foram três, o já citado Louredense e o CCD
da Trindade que foram para a AFB e a ACD Penedo Gordo, que extinguiu a sua
equipa B), o número de séries passou de três para duas, cada uma com onze
equipas, o que levou a uma situação verdadeiramente anacrónica numa delas: com
cinco equipas dos concelhos de Moura e Serpa, três de Beja, duas de Santiago do
Cacém e uma de Odemira, o número de quilómetros a efetuar, não só por estas
três, mas também pelas restantes, é extremamente elevado, quer para os clubes,
com poucos recursos, quer para os seus atletas. Basta ver a distância entre
Colos e Santo Aleixo da Restauração ou Póvoa de São Miguel, para se ver o
absurdo desta situação que, de resto, não é nova, já que na época anterior eram
três as equipas de Beja que tinham de fazer cinco deslocações ao litoral, com a
agravante de alguns dos jogos se disputarem às 18.30.
Na sequência do protesto público da Sociedade
Recreativa Colense, e por considerar muito injusta esta organização do
campeonato, elaborei uma proposta alternativa que enviei ao presidente dessa
coletividade: três séries, uma com 8 equipas (Moura, Beja e Serpa) e duas com 7
cada (Odemira, Santiago, Sines e Grândola) numa 1ª fase, uma fase final com 4,
para apuramento do campeão e um torneio complementar, com três séries, para as
restantes 18. Nada de novo, se compararmos por exemplo, com o campeonato de
Santarém da época passada (cada delegação organiza como entender), em que, na
1ª fase, eram 8 as séries, com 5 ou 6 equipas cada.
Caso a delegação de Beja aceitasse essa
proposta, que lhe foi enviada pelo clube de Colos, havia tempo de reorganizar o
campeonato, para ter início na data prevista. Ora, não foi isso que aconteceu,
tendo sido recusada, sem qualquer hipótese de ser discutida e, assim, os jogos
vão ter início nessa absurda organização. Repare-se, ainda que, havendo seis
equipas do concelho de Odemira, do distrito de Beja, cinco estão na série com seis
do distrito de Setúbal, bem mais próximas, sendo a outra – o Colense – obrigada
a fazer os mais de dois milhares de quilómetros, atravessando o maior distrito
do País.
Dois argumentos foram apresentados para
justificar esta recusa: que todas as equipas realizassem um número
significativo de jogos e a falta de datas disponíveis para a realização de mais
jogos, a que essa proposta obrigava.
Sendo dois argumentos contraditórios entre si,
eles não são, igualmente, corretos. O número de jogos de todas as equipas – 1ª
fase, fase final e torneio complementar - é, sensivelmente, o mesmo e não havia
um acréscimo de datas, sendo que, no modelo das 11 equipas por série, o
campeonato até irá terminar mais tarde do que aconteceria caso a proposta
apresentada fosse implementada.
Esta recusa revela uma insensibilidade para a situação das equipas que terão de fazer centenas de quilómetros (como no caso do Colense) e uma falta de bom senso na organização do campeonato que, juntando ao que sucedeu no final da prova da época passada (algo surreal, que levou à “proclamação administrativa” do campeão), leva ao descrédito, causa, em parte, que tem acontecido nos últimos anos: a “fuga” do INATEL e a inscrição nas provas da AFB. O caso do CCD da Trindade é paradigmático e devia levar os responsáveis do INATEL de Beja a uma reflexão sobre o passado e o futuro das provas organizadas por essa entidade, já que não se pode queixar da “concorrência desleal” da AFB que, paulatinamente vai fazendo o seu caminho.
Nota final: esta reflexão e este texto têm por
base o carinho que nutro pelo futebol do INATEL, que comecei a ver aos 10 anos
(porque, em 1968, Santa Vitória era das poucas aldeias da região que tinha um
campo de futebol, ainda que sem balneários, iluminação e vedações interior e
exterior, como hoje possui) e porque foi nessa competição, aos 16 anos (ainda
na FNAT), que comecei a praticar o meu desporto favorito, de forma organizada. Por
sinal, logo nessa primeira época – 1974/75 – a Casa do Povo de Santa Vitória
foi campeã distrital, num campeonato em que todos os jogadores eram naturais da
aldeia, a mais pequena localidade de todas as que faziam parte dessa
competição.
01.11.2024 |
Artigo no Correio Alentejo, em 23 de Dezembro de 2011:
Nota final (2), não incluída no artigo do DA,
para não o tornar mais extenso, ocupando, assim, mais espaço.
Foi este carinho que me levou, quando exerci as
funções de Chefe de Divisão da Cultura e Desporto da Câmara Municipal de Beja,
a idealizar, regulamentar, propor ao executivo municipal e, após aprovação por
este, coordenar a realização do Torneio Município de Beja, na pré-época dos
campeonatos de futebol de 11. Inicialmente com duas versões distintas – clubes
da 2ª distrital e clubes do INATEL – veio, mais tarde, a ser disputado apenas
por estes últimos, por dificuldades de conciliação de datas dos inscritos na
prova da AFB.
Este Torneio tinha, além da vertente desportiva, uma componente de convívio, através do lanche oferecido no final dos jogos, pela junta de freguesia onde estes eram disputados, na primeira fase e pela câmara municipal nos jogos das finais. Uma confraternização entre jogadores, técnicos e dirigentes que, com o tempo, foi diminuindo, até terminar mesmo, não invalidando esse aspeto que o “torneio da câmara”, como era designado proporcionava, antes de a bola rolar “a sério”.
Nota final (3), com informação conhecida já após o envio do artigo para o jornal.
“ Estão feitos os sorteios da Liga INATEL do distrito de Santarém, assim como os emparelhamentos da Taça Fundação INATEL. O campeonato, em fase de grupos, começa a 2 e 3 de novembro (…) Esta fase tem quatro grupos de 5 equipas e três grupos de 6 equipas. As equipas constituintes de cada grupo jogarão no sistema: todos contra todos, a duas voltas. Apuram-se para a série 1, os primeiros e os segundos melhores classificados mais os 4 melhores terceiros lugares de cada grupo. Serão cabeças de série os 3 primeiros classificados com melhor classificação (o apuramento da melhor classificação, entre grupos diferentes, será obtido através da divisão do número de pontos sobre o número de jogos). Os restantes CCD´s disputarão a Liga Reconhecimento.
in https://jornaldeabrantes.sapo.pt/desporto/
Casa do Povo de Santa Vitória - 1978/79 |